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Sensação da nova música baiana, Attooxxa buscou referências em Kendrick Lamar, Justin Bieber e Soweto para cantar o amor; leia o faixa a faixa de LuvBox

Banda que teve um dos hits do Carnaval 2018, com 'Elas Gostam (Popa da Bunda)' agora fala de amor no novo álbum

Pedro Antunes Publicado em 26/11/2018, às 19h22

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Banda Attooxxa lançou o disco LUvBox (Foto: Rafael Ramos)
Banda Attooxxa lançou o disco LUvBox (Foto: Rafael Ramos)

“O disco vem para mostrar o nosso desejo sobre a nova música baiana”, explica Rafa Dias, responsável pelos sintetizadores e beats da Attooxxa (grafada ÀTTØØXXÁ), banda baiana formada ainda por Oz (voz) Raoni (voz) e Chibatinha (guitarra), ao falar sobre LuvBox, o álbum o grupo impulsionado pelo sucesso da música “Elas Gostam (Popa da Bunda)”, que esquentou o carnaval (e depois dele) neste 2018.

“(Queremos) trazer algo que se perdeu na música popular baiana de se falar de amor e de se pensar no refinamento da música, de arranjos, de melodias e de harmonias”, explica.

A partir desse resgate das raízes da música baiana, a banda foi atrás de estéticas sonoras que correspondessem ao que há de mais fino na música internacional.

“A gente buscou a referência de Timbaland e da música preta que está começando no mundo vindo de Jacob Banks, Anderson Paak, Daniel Caesar e Kendrick Lamar.”

LuvBox, o álbum, propõe uma viagem que foge daquilo que se espera (ou esperaria) da Attooxxa até então. A partir de Basta Amar Você, a música que abre o disco, a banda já escancara isso. Trata-se de um “neo-pagodão”, como brinca Dias.

Em 46 minutos, a Attooxxa entrega um turbilhão de canções com assuntos relaiconados às dores e alegrias dos nossos corações, com uma pegada pop crocante e deliciosamente dançantes, sempre fora da caixinha na qual a banda havia sido colocada anteriormente.

Participam de LuvBoxRincon Sapiência (em “Só Vem”),  Supremo (“Desapega”) e Nêssa (“Eu Juro (LuvBox)”).

Attooxxa fará uma noite especial na programação da SIM São Paulo, ao lado da banda Afrocidade, dona de outra pancada sonora vinda de Camaçari (Bahia), no dia 6 de dezembro, a partir das 20h, na Casa Natura Musical (Rua Arthur de Azevedo, 2134). A Noite Trovoa terá também terá a performance do DJ Patrick Tor4.

Para ajudar a navegar pela miscelânea de sentimentos evocados em LuvBox, Dias e Raoni detalham o processo de criação do álbum em um faixa a faixa feito com exclusividade para a Rolling Stone Brasil.

E lá vocês vão encontrar referências que vão de Justin Bieber ao pagodão do Soweto. 

Vamos lá?

1 – “Basta Amar Você”

Raoni: Na primeira música, “Basta Amar Você”, basicamente a gente procurou uma timbragem mais oitentista. Ela se tornou uma das músicas que deu um norte para o que seria feito em todo o disco, nessa questão da harmonia.

Rafa Dias: Ela é uma canção que marca, porque ela já abre o disco dando um choque, mostrando que o trabalho vai ter uma linguagem específica. Diferente do que a gente estava se propondo a fazer e do que a gente já faz naturalmente como Attooxxa. Essa música segue o caminho do funk que está acontecendo hoje no mundo, de cantores como o Anderson Paak e o Daniel Caesar, que misturam essa pegada do soul e do funk. A cultura negra está sendo repaginada no mundo inteiro e estão surgindo vários expoentes e nós queremos trazer isso para a nossa forma de enxergar. A gente trouxe esse lado funk que vem desde o Michael Jackson até o nosso passado que é o Soweto. Essa música está dentro dessas referências do NeoSoul, NeoFunk e da bandeira que a gente ergue do “NeoPagodão”.

2 – “Caixa Postal”

Raoni: “Caixa Postal” é uma música que nasceu com essas outras que se faz de cabeça. Todo mundo ficou “Vamos gravar para ver como é que fica?”. A gente já tocava essa música em shows e a galera toda curtia. Aí a gente foi e gravou. Ela é tipo um funk o que se aproxima do pessoal do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tem também esse refrãozinho chiclete que todo mundo gosta.

Rafa Dias: É uma faixa que está dentro da normalidade do Attooxxa. É uma música popular brasileira, tem muito da referência do funk de São Paulo e, no refrão, ela vai para o “pagodão” que a gente assina. Eu gosto da atmosfera que ela tem que veio de Chibatinha com a guitarra. O que ele propôs nela é uma coisa bem atmosférica, tem uma pegada de metal nos anos 2000, do neometal. É uma faixa que tem um clima bem legal e no refrão ela vira um hit chiclete, o que também a gente preza no nosso som, de atingir a massa.

3 – “Girl”

Raoni: A música “Girl” surgiu quando a gente estava terminando o disco e o Rafa sentiu a necessidade de fazer uma música maior. Já que é para mudar, vamos mudar essa questão também. Eu estava ouvindo muito Justin Bieber nessa época e peguei referências fodas. Eu viajei em fazer essa melodia, uma questão audível de harmonia, de explorar a questão das vozes e saiu essa música.

Rafa Dias: “Girl” foi a última faixa que a gente terminou. Eu estava sentindo falta de músicas em tons maiores, comecei o beat e sugeri ela para a banda. Ela cumpre um papel do Soul, com umas referências como Jacob Banks, Daniel Caeser e uma bem marcada de T-Pain. O T-Pain foi aquele cara que marcou a história com o auto-tune. Ele quem começou com a onda do auto-tune na música internacional. Nessa música, a gente tentou trazer isso com Soul e a marcação de auto tune. Eu acho que ela cumpre esse papel de ser a alma do Soul. Sinto que ela também deixa bem claro a linguagem do pagodão, com o uso de bem poucos elementos.

4 – “Eu & Você”

Raoni: “Eu & Você” foi uma participação especial do compositor Jorginho Barbosa, que é um grande compositor de Salvador. Ele tem muitas músicas renomadas no circuito como “Firme e Forte”, “Tudo Nosso” e “Nada Deles”. Quando eu cheguei em Salvador, ele foi um cara que me procurou bastante para compor. Tem essa onda do mercado da galera de fazer a música do verão. Eu e o Jorginho fizemos essa música, mostrei para a banda e eles curtiram muito, porque ela tem bastante a ver com o disco. E por fim, eu e o Rafa procuramos fazer ela com a cara do que a gente já estava querendo fazer no CD, nesta pesquisa nova musical das músicas eletrônicas.

Rafa Dias: É a música mais pop do disco, no sentido internacional. Ela tem muita influência de Bruno Mars e Thiaguinho. A gente sempre faz esse paralelo de encostar coisas do mundo com as coisas daqui e a gente mais uma vez tentou fazer essa transição. Tínhamos o forte desejo de fazer a gravação dessa faixa com o Thiaguinho ou com o Léo Santana, que são duas referências fortes nessa composição. E por fim, eu acho que essa música puxa o disco para a frente.

5 – "Ligadin"

Raoni: “Ligadin” é uma música que realmente toca, porque o groove que ela se tornou ficou bem momentânea. Eu acho que a gente está passando por um momento que a galera está cada vez mais  “groovante”. De certa forma, ela é uma música que contempla o verdadeiro prazer da parada, porque a gente trabalha para caramba e, na real, só se sente bem quando está sendo honesto consigo mesmo. E eu acho que é isso que essa música quer dizer.

Rafa Dias: “Ligadin” é a faixa mais sensual. É uma onda de Marvin Gaye abrasileirado. É uma das músicas que eu mais gosto da escrita, porque para mim ela é a faixa que simboliza essa perfeição do Soul Brasileiro e cumpre esse papel revitalizando o Soul. Ela traz isso para um jeito brasileiro de ser. Eu acho que Raoni foi muito feliz em todas as melodias. Procuramos ter esse caráter mínimo nessa música e ela tem pouquíssimos elementos. Destaco as guitarras de Chibatinha, porque eu acho que elas que fazem todo o delineamento da música. É uma música que eu gosto muito e sou suspeito para falar, me amarro demais nela!

6 – “Só Vem”

Raoni: “Só Vem” é uma música que se tivesse sido lançada pela Anitta ou pela Ludmilla ela tinha estourado nas paradas. É a música do suprassumo do disco. No meio do ano, a gente viu que essa música estava muito na cena. E veio a calhar que estava precisando de alguém forte para cantar ela com a gente. Foi um encontro maravilhoso aqui em Salvador para o momento dessa gravação com um cara que a gente gosta demais e tromba direto nas viagens, o Rincon Sapiência. Ele veio de braços abertos, abraçou essa ideia, mostrou realmente o “Só Vem” que aqui na Bahia é bem nesse clima.

Rafa Dias: Apesar de o disco ter o tema do amor presente em todos os momentos, eu sugeri um beat para outra atmosfera. Foi quando Raoni começou a escrever sobre outros amores que a gente tem, como o amor pela noite e pela curtição que está no nosso DNA, assim nasceu Só Vem, a sexta faixa do disco. É uma música que vai de encontro com o reggaeton e com uma latinidade mais presente, tem referências como o JBalvin e outras figuras pop latinas de hoje em dia. A letra e o beat se encaixam bem em mostrar que não existe só amor entre pessoas, mas que vai além disso, uma proposta que queríamos trazer com o disco e de falar desses vários amores.

7 – “Gostei”

Raoni: “Gostei” é uma música escrita à parte. Ela tem outro perfil, um perfil mais pop, pode-se comparar a um trap ou a um Post Malone. Eu não sei se hoje em dia esses gêneros e rótulos se encaixam diante dessa diversidade que estamos encontrando de música, que estão virando sucesso. Eu acho que depende realmente de quem se propõe a fazer isso. O Rafa coloca essa música de uma maneira que fica claro que a gente pode flertar com outros estilos, como em outras várias canções já mostramos essa estética.

Rafa Dias: É a faixa mais escura do disco, mais noite. Tem um tema puxado para um tema escuro. Eu propus o beat e quando eu comecei a fazer esse beat eu estava pensando em aproximar em uma linguagem The Weeknd, que é um dos maiores referências que a gente tem e ele faz um som que é muito escuro. A gente tentou fazer isso e é uma das músicas mais introspectivas do disco, por isso ela tem todos aqueles arranjos e essa atmosfera de noite. No final da música, ela tem uma transição pensando em quando formos tocar em shows e em festivais.

8 – “Ladraum”

Raoni: “Ladraum” é uma música que concedeu esses hits. Ele veio com esse refrão e a gente já tinha uma ideia toda em cima dessa composição e fomos encaixando uma parte com outra, foi bem legal a concepção dela. Ela é a música que a gente chama aqui na Bahia de “molho”, por isso que ela bate bastante. A galera que se escutou pagode gosta e se não escutou se balança.

Rafa Dias: “Ladraum”, assim como “Caixa Postal”, está dentro da normalidade do disco. Dá até para sentir o clima do nosso trabalho anterior e é bem parecido com o que fizemos em Blvk Bvng. O groove é totalmente Bahia. A gente buscou referências claras em "Survivor" de Destiny's Child e algumas pessoas mandaram mensagem para a gente e mataram a charada logo de cara. Prestamos essa homenagem com o nosso groove, é um Blvk Bvng dentro do LuvBox. É uma música que tem uma pegada de psicografia, porque Oz psicografou isso em uma passagem de som, ele baixou a cabeça do nada e levantou com o refrão de “Ladraum”. Essa música ferve e ferve o show também.

9 – “Nós (Itapuã)

Raoni: “Nós (Itapuã)” é uma música particular que foi uma colagem. Eu fiz uma colagem de vários pedaços que eu já tinha escrito. Fiquei pensando até que a gente poderia chamar essa música de “Clichê”. É uma música que ficou para o final do disco. Mas eu acho ela muito massa, porque em toda a concepção varia bastante, vai de um universo para o outro e é isso que eu acho gostoso nela.

Rafa Dias: Nós (Itapuã) é uma mistura do soulzão Brasil e de um pop Justin Bieber. Tem algumas referências de Frank Ocean e outras do POP de hoje em dia. Ela tem umas modulações durante a música que são sutis, mas que refinam a sua composição e causam uma particularidade, mostrando que a música pop baiana pode ter esse refinamento. Características que ficavam muito presas ao Jazz e a gente trouxe para essa faixa. É uma música que eu me amarro muito e eu sou muito orgulhoso por ela, por ser uma canção que tem o desejo de inovar harmonicamente.

10 – “É sim, de Verdade!”

Raoni: “É Sim, de Verdade!” já tinha uma letra produzida e umas guitarras matadoras já tinha também nessa concepção. Eu sempre digo que é notória a evolução da galera, porque, fazer o que a gente faz vira o que todo mundo faz. É claro que a gente poderia ter feito um disco todo pronto, mas esse disco é muito especial para mim e para toda a galera. A gente está vivendo e aprendendo e essa canção reflete muito disso, a gente só vive essa vez e todos nós somos seres humanos, creio que no final das contas é você se entender com você mesmo, mas claro que com  a companhia ajuda bastante.

Rafa Dias: “É Sim, de Verdade!” é mais uma música com uma pegada bem soul. O disco todo, até pelo nome, a gente criou esse universo LuvBox que é para trazer essa linguagem do pagode romântico. A ideia do nome foi de Raoni e para mim, eu gosto de trabalhar em cima de temas e foi uma das primeiras músicas que a gente fez no disco. Chibatinha começou ela com aquele hit Chibatinha de ser. Ela tem esse caráter, que eu vejo como sendo uma linguagem geral dos negros que tem sido feita no mundo em buscar as referências do passado, mas também de não apenas reproduzir o passado e, sim, dialogar com o que está sendo produzido hoje. Eu acho que essa música é bem sintética nesse sentido, ela é muito baseada em um soul do passado, mas com o nosso groove de uma forma bem sutil. É uma música para cantar de braços abertos e de olhos fechados. Ela também tem o desejo de se aproximar do pagode do Rio de Janeiro e de São Paulo. A gente foi bem feliz em fazer essa aproximação do soul com o samba e o pagode nessa canção, que também faz parte do DNA de Raoni.

11 – “Protetor Solar”

Raoni: “Protetor Solar” parte do mesmo princípio das outras canções. Essa música tinha um aspecto diferente e não teve jeito, quando eu senti a base, já veio pronta. Eu senti a necessidade de contar uma história curtinha sobre esse momento que a gente passa.

Rafa Dias: Também veio do desejo de ter músicas com tons maiores. A gente quis falar do nosso verão baiano. O beat vem em uma linguagem afro de kizomba e se aproxima da música africana mais o sol da Bahia. E, como sempre, desde o início do Attooxxa a gente propõe, a gente quer repaginar o groove do pagode com essa linguagem mínima. A Bahia tem muita percussão, mas no sentido técnico, por questões audíveis, existe essa questão técnica. Para quem lida com música sabe que com quantos menos elementos você tem em uma música, melhor ela soa. Nessa música, a gente usou um riff de guitarra de Chibatinha e três elementos, é uma faixa que tem muitos poucos canais e a mixagem dela é bem mais límpida.

12 – “Desapega”

Raoni: “Desapega” foi uma das primeiras músicas que a gente fez. A gente teve mais uma vez o prazer de receber o parceiro nosso, o Supremo, que já participou em outras canções como “Bota o Capacete”. O cara é fera, muito versátil, prático e foi o encaixe perfeito ali. A gente tinha essa questão de começar a ter um norte de como seria o disco e aí acabou que essa música foi referência para todas as outras.

Rafa Dias: “Desapega” é um esboço de um beat que eu tinha. A letra dela também é uma bem antiga de Raoni, que ele tinha feito para um outro projeto. Essa faixa tem muita referência do funk de São Paulo e de hoje, com uma pegada mais melódica, pautada na voz e um beat para marcar. Muda um pouco, porque a gente quis colocar um pouco da linguagem de Reggae em alguns riffs, com uma referência da Jamaica. Tem também um pouco de reggaeton que foi surgindo no decorrer dos arranjos. Nós tivemos a oportunidade de trabalhar de novo com o Supremo, que é um parceiro nosso de Vitória da Conquista e acho que ele traz essa linguagem Jamaicana, até porque ele tem um projeto lá chamado Complexo Ragga, que é dentro dessa coisa dance house. Essa música está dentro do universo Funk São Paulo e Jamaica.

13 – “Eu Juro (LuvBox)”

Raoni: Eu estava escrevendo muitas coisas, o Rafa produzindo bastante e o Oz e o Chiba com várias ideias. Ficou faltando bastante coisa que a gente podia ter feito. Mas, por um momento, a gente quis fazer essa canção final - e que se intitula Eu Juro (LuvBox) - para fechar a tampa, dar um enlace final. Nada melhor do que ter uma voz maravilhosa como a de Nêssa, que para a gente era bastante complicado com uma voz feminina e a gente sempre procurava ter algumas versões de quando o Attoxxa era apenas o Rafa. Depois disso, tiveram 3 discos e neles só tem uma música cantado por uma menina. E eu disse que a gente precisava de uma voz feminina para fechar o disco, fora que a gente vê um super potencial na Nêssa, uma pessoa que a gente ama muito. E o que for para ser será: Luvbox.

Rafa Dias: Eu Juro (LuvBox) é uma faixa que, como a primeira, ela faz o link da primeira e da última faixa para acabar. Convidamos Nêssa para participar dessa música, porque a gente já tinha o interesse de ter uma voz feminina e calhou de ser em LuvBox. Raoni fez uma melodia bem marcada, um POP e um Funk mais refinado que vem muito de Michael Jackson. Nela tem muito do pupilo do Michael, que é o Justin Timberlake e no seu disco Experience 2020, onde tem faixas mais longas e mais experimentais. E essa música é de fim de disco, bem complementar e tem essa característica mais experimental e deixa a mensagem mais profunda de abrirmos o olho para o amor e para o desejo humanitário de pensar no próximo. Na parte de Beat tem muito Timbaland e tentamos trazer um pouco dessa pegada. Então é isso, LuvBox.

Ouça LuvBox, na íntegra: