Shows e cinema drive-in: contamos tudo, defeitos, qualidades e ‘afinal, como funciona?’
Depois de 100 dias sem shows e sem sessões de cinema, os eventos Drive-In buscam retomar o entretenimento ao vivo no 'novo normal'
Vinicius Santos
Publicado em 01/07/2020, às 07h00"Foram quase 100 dias parados, sem shows e eventos ao vivo, setor do entretenimento que é tão pungente e relevante no Brasil e ao redor do mundo." Foram essas as primeiras palavras, de Márcio Flores, diretor de Marketing do Allianz Parque, que iniciaram o primeiro show da Arena Sessions, projeto de eventos drive-in do estádio feito em parceria com a agência Multicase. "Precisávamos reagir e aqui estamos."
De fato, a sensação de estar reagindo ao baque da pandemia de coronavírus, que abalou as estruturas do entretenimento ao vivo, parece envolver todos no estádio. Há ânimo, mas ainda com muita cautela, o que explica o silêncio tão marcante antes do início da apresentação. Confesso que não ouvir e sentir o barulho das pessoas em antecipação ao show é bem desconcertante, mas isso se dissipou assim que o Jota Quest subiu no palco para estrear a atração.
Houve quem ainda acreditasse que a banda liderada por Rogério Flausino não viria pessoalmente a São Paulo e, ao invés disso, faria uma live para o gigantesco telão da arena, também usado para cinema drive-in (que falaremos sobre daqui a pouco). Nada disso.
Para conseguir a presença da banda, um planejamento preciso foi necessário. Os músicos vieram direto de Belo Horizonte, com testes de covid-19 feitos antes de embarcarem no ônibus. Depois do show, voltaram na hora para Minas Gerais. O esforço, diz Flausino, é revigorante.
"Nós da banda nos sentimos honrados em sermos os primeiros a fazer um show depois desses 100 dias. É como se estivéssemos representando toda a categoria artística do país e encorajando todo mundo, porque, mesmo com a banda se distraindo com lives e compondo durante a quarentena, nossa turma técnica estava completamente parada esse tempo. A gente precisava se mexer."
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E é mesmo. Falas como essas fazem qualquer um refletir no que perdemos ou adiamos até agora. "Vai ser difícil mensurar o prejuízo e justamente por isso que era necessário um sinal de vida do setor", acrescenta o vocalista do Jota Quest.
Finalmente, como funciona
É emocionante chegar ao estádio, mesmo de máscara e dentro do carro, ter o ingresso aprovado via QR Code na tela do celular e a temperatura checada antes de entrar (caso a sua temperatura supere os 37,5º C, te encaminham para a enfermaria do espaço para testes e encaminhamento) e, por fim, dirigir por um túnel iluminado até o gramado.
Depois da checagem inicial, deve-se estacionar o veículo em uma das áreas designadas pelo ingresso, que varia de R$ 450 a 550 por carro, com capacidade para 285 automóveis. Não há uma vaga reservada, apenas fileiras distintas: quem pagou mais para mais perto do palco e ocupa as áreas por ordem de chegada (exceto se seu carro for alto demais e, no caso, ficará relegado as vagas mais nas extremidades das fileiras, para não obstruir muito a visão de quem está atrás).
A Arena novamente acessa é uma visão muito calorosa, mesmo estando bem frio na hora do show. Aliás, calorosa também foi a entrada da banda no palco. O Jota Quest sempre entregou boas apresentações e encaixou diversos hits na carreira e não foram as condições extraordinárias que mudaram isso. Para abrir o show, não poderia não ser "Dias Melhores".
Além do telão gigante atrás da banda, havia outro na parte superior do estádio para ajudar a ver em mais detalhes. E, em um clima cada vez mais descontraído, com Rogério Flausino brincando de imitar o sotaque paulistano, vieram "O Sol", "Na Moral", "As Dores do Mundo" e até a nova "Guerra e Paz", composta na quarentena.
Falando em som, esse veio impecável em todo o estádio. Além de potentes caixas no palco, cada divisória entre os carros continha duas caixas que transmitiam a música por igual entre todos. Caso chovesse a ponto de fechar os vidros, os alto-falantes seriam alternados uma frequência FM que todos são instruídos a sintonizar.
As interações da plateia com a banda são de longe a área onde o evento drive-in encontra as maiores limitações. Flausino improvisou, pedindo por faróis piscando e buzinaço no final das músicas. Mais para o final do show, o vocalista aproveitou uma sugestão dada no backstage e convidou todos a ligarem a lanterna dos smartphones e estender a mão para fora da janela.
O ambiente parecia particularmente apropriado para famílias, que podem curtir o show sem precisar se preocupar com as crianças, que podem ficar no banco de trás aproveitando com conforto. Tamanho o conforto que até deu para ver uma menina com pijamas e calçando crocs se dirigindo ao banheiro.
Quanto ao toalete, em cada divisória de carros havia um QR code que, quando escaneado, informava sobre o banheiro livre mais próximo. Bastava se dirigir até lá e utilizar, uma pessoa de cada vez, com membros do staff para orientar a higienização das mãos no antes e depois das necessidades com um dispenser de álcool gel com pedal, para evitar o toque.
Se a fome batesse, a arena contava com um cardápio via iFood, com várias opções de lanches e bebidas. A comida vinha com dois funcionários do app, de viseira e máscara além do uniforme da empresa. Ou você também pode trazer algum lanchinho de casa.
Para finalizar o espetáculo (bem cedo para os padrões pré-pandemia, inclusive, por volta das 23h00), os clássicos fogos de artifício e o maior hit do JotaQuest, "Do Seu Lado". Quem tinha teto solar se levantou para cantar, enquanto outros tentaram se sentar nas janelas, mas foram rapidamente orientados a voltar para a posição. No fim, deu para dirigir no caminho de volta sentindo a satisfação de, enfim, ter ido a um show de novo.
As próximas atrações do Arena Sessions são Turma do Pagode (3 de julho), Marcelo D2 (11 de julho), Anavitória (17 de julho) e Nando Reis (19 de julho). Os ingressos estão se esgotando rapidamente.
E o cinema?
Uma alternativa consideravelmente mais barata que o show são as sessões de cinema drive-in, realizadas em várias outras locações além da Arena Allianz, como o Memorial da América Latina, administrado pelo Petra Belas Artes. Os ingressos custam por volta dos R$ 65 (Belas Artes Drive-In) até os R$ 84 e 160 (Arena Sessions).
Os filmes em cartas incluem desde longas mais leves e infantis como Meu Malvado Favorito (2010) e Turma da Mônica: Laços (2019), disponíveis no Arena Sessions, ou obras mais focadas no cinema-arte e lançamentos no Brasil, como a comédia política Tel Aviv em Chamas (2018), a versão estendida inédita de Apocalyspe Now (1979), os nacionais Macabro,Partida e francês Os Melhores Anos de uma Vida(Belas Artes Drive-in).
Sim, infelizmente não haverá nenhum lançamento presente nos drive-in, mas não deixa de ser uma boa oportunidade para quem era jovem demais na época assistir clássicos como Matrix(1999) ou Jurassic Park (1993) pela primeira vez em um telão.
Ainda mais do que nos shows é necessário chegar com antecedência para ter um bom lugar para assistir sem precisar de muitos contorcionismos dentro do carro, sendo que a organização recomenda chegar cerca de uma hora antes.
O silêncio até o filme começar é fica mais requintado e relaxante com as luzes da cidade e prédio ao lado da tela. É uma ótima hora para conversar ou quem sabe tirar um cochilo até o som começar a ser transmitido pelo rádio.
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Por fim, o charme dos cinemas drive-in já provou ser um sucesso. No PetraBelas Artes, por volta de 45 sessões já estão esgotadas. Não chega perto do público imenso anterior a crise do coronavírus, mas é um número animador para um mercado que passou quase três meses paralisado.
+++ RAEL | MELHORES DE TODOS OS TEMPOS EM 1 MINUTO