“Não tem como ser fácil perder um amigo, não tem como ser tranquilo perder um irmão”, diz Corey Taylor, que toca com a banda no Rock in Rio – nesta sexta, 25 – e em São Paulo – no domingo, 27
“Essa música não é para os vivos. É para os mortos”. Estas são as primeiras palavras do mais recente álbum do Slipknot, .5: The Gray Chapter, lançado no segundo semestre do ano passado. O disco – quinto de estúdio da banda de metal – é o primeiro lançado por eles depois da morte do ex-baixista Paul Gray, em 2010. Os três minutos da elegia “XIX” precedem mais uma coletânea de faixas em que o vocalista Corey Taylor e seus companheiros exorcizam os demônios da perda do amigo.
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“Sempre que você perde alguém da família, isso te deixa maluco”, diz Taylor, em entrevista à Rolling Stone Brasil. “Não tem como ser fácil perder um amigo, não tem como ser tranquilo perder um irmão”. O Slipknot seguiu fazendo shows nos anos posteriores à morte de Gray, mas só decidiu se reunir em estúdio novamente em 2014, para encarar de frente a dor da perda, e transformar o luto em expressão.
“Esta banda é emocional. Há momentos em que guardamos coisas, preferimos não compartilhar. Mas, com este álbum, sabíamos não poderíamos fazer isso”, confessa o vocalista, lembrando da composição e gravação de .5: The Gray Chapter. “Foi doloroso. Houve momentos de alegria quando falávamos dele como pessoa. Mas, claro, houve muitos momentos de dor e raiva. Porque, nesse processo, você se sente responsável. Mesmo que você não seja, você se sente responsável. E isto é parte do processo.”
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“Quando você perde alguém, há sempre um pensamento secundário: ‘O que mais eu poderia ter feito? O que mais eu poderia ter dito?”, acrescenta Taylor, para quem a música mais honesta do álbum é a feroz “The Negative One”, penúltima do disco. “Isso se desenvolve em algum tipo de ódio a si mesmo, porque não tem como responder a estas perguntas. ‘The Negative One’ é sobre atacar a si mesmo. Há duas maneiras de encarar isso: ou você se martiriza, tenta se autodestruir, ou você respira fundo, lembra que seus irmãos te amam, e que você ama a pessoa que perdeu, e segue em frente.”
Corey Taylor, Sid Wilson, Chris Fehn, James Root, Craig Jones, Shawn Crahan e Mick Thomson chegaram a colocar o baixo que pertencia a Gray no centro de um dos estúdios em que gravaram o álbum. “Ele sempre esteve lá, de certa forma”, diz. “Gravamos em uns dois estúdios diferentes e, mesmo quando o baixo não estava lá, ele estava, de alguma forma. E aquilo nos fez curtir o processo novamente, porque, depois da parte mais difícil, conseguimos realmente fazer isso – o que, sinceramente, não acho que conseguiríamos.”
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Para .5: The Gray Chapter, a banda contou com a entrada de Alessandro Venturella no baixo, apesar de serem divulgadas informações que eles gravariam o disco sem baixo. “Não faria nenhum sentido”, admite Taylor. “E Paul não iria querer que fizéssemos isso. Quando gravamos, queremos soar o melhor possível. Paul seria o primeiro a falar: ‘Ei, vocês não podem lançar isso assim’. E, honestamente, nunca realmente consideramos isso.”
Além de Venturella, Jay Weinberg assumiu a bateria do grupo, após a conturbada saída de Joey Jordison, em 2013. “Quando começamos a compor, nem estávamos com os caras novos”, diz o líder do grupo, que não acredita em possível perda da identidade sonora do Slipknot com os novos integrantes. “Eles chegaram preparados para dar sequência ao trabalho, para seguir do jeito que queríamos que eles fizessem. E eles ficaram mais do que felizes em fazer isso. Não se tratou de deixar dois caras novos escreverem músicas. Nós compomos a música, e então temos os caras para tocar.”
Se em estúdio as mudanças foram profundas, nos palcos – e na vinda ao Brasil – Taylor garante que o grupo continua a todo vapor. “Esses dias estava falando sobre isso”, diz ele, falando do telefone nos camarins do show que faria em Denver (EUA), na ocasião da entrevista. “O álbum conta a história. Quando você tira as músicas de contexto e as coloca lado a lado com o material mais antigo, elas se tornaram algo diferente. É menos sobre lamentação e cura, e mais sobre celebração.”
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“Ainda que algumas canções tenham sido feitas a partir de algo sombrio, quando você toca ela ao vivo, com as músicas antigas, isso se encaixa”, acrescenta. “Com os fãs cantando com você, e aquilo provocando catarse para eles, se torna algo celebratório. É disso que um show se trata. Uma apresentação tem quer trazer alegria, na qual 30, 40, 50 mil pessoas estão se sentindo exatamente como você está e ficando absolutamente loucos. Quando as músicas são tocadas, aquilo foge do seu controle.”
Nesta passagem pelo Brasil, o Slipknot tocará no palco Mundo do Rock in Rio 2015, encerrando a noite de sexta-feira, 25. Eles também vão a São Paulo, na a Arena Anhembi, dois dias depois, tendo o Mastodon como show de abertura. Recentemente, a banda tocou no festival Monsters Of Rock de 2013, além do próprio Rock in Rio, em 2011.
“O Rock in Rio é um daqueles festivais que reúne uma quantidade de pessoas que eu nunca vi em um mesmo lugar”, diz Taylor. “Você está lá em cima, olhando aquele mar de pessoas, aquela loucura, paixão, alguns dos melhores fãs do mundo. É impossível, você olha e não consegue ver o fim”. O vocalista ainda falou sobre ser a atração principal do dia. “É louco, não é? Ficamos muito felizes que, após muito tempo, tivemos nossa oportunidade de ser headliner no Rock in Rio. Não é toda banda que consegue isso. É definitivamente algo que ficamos muito honrados em fazer.”
Slipknot no Brasil
Rio de Janeiro
25 de setembro (sexta-feira)
Rock in Rio – Palco Mundo
São Paulo
27 de setembro (domingo)
Arena Anhembi – Av. Olavo Fontoura, 1.209, Anhembi Parque – Santana/SP