Somente 9% dos filmes de maior bilheteria de 2012 foram dirigidos por mulheres; onde estão todas as diretoras? Por dentro da grande falta de equilíbrio que há em Hollywood
Por que existem tão poucas mulheres cineastas? Em uma palavra: dinheiro.
O senso comum diz que os produtores e investidores não financiam mulheres como diretoras porque elas não têm uma tradição já estabelecida de sucessos. Mas as mulheres não vão conseguir provar isso se não tiverem apoio para fazer filmes.
Na esperança de encerrar esse círculo vicioso, surgiu uma empresa com o nome apropriado de Gamechanger (“aquela que muda o jogo”), que tem a missão de financiar ficções narrativas feitas por mulheres. "O nome da empresa impõe um grande desafio”, disse a nova presidente da companhia, Mynette Louie.
Louie, uma produtora independente, com vários filmes no currículo (o mais recente é o thriller Cold Comes the Night, estrelado por Alice Eve e Bryan Cranston), destaca que apenas 9% dos 250 filmes de maior bilheteria de 2012 foram dirigidos por mulheres. Houve uma melhora de leve na média anual, mas ainda assim há um grande desequilíbrio.
"As mulheres ficam sistematicamente em desvantagem quando se trata de levantar fundos porque os financiamentos são controlados por homens”, diz ela. "Essa é a razão mais citada para explicar as razões que emperram as carreiras das mulheres diretoras."
A Gamechanger, contudo, é comandada por uma mulher e foi fundada por três mulheres e um homem: os produtores de documentários veteranos Julie Parker Benello, Wendy Ettinger, Geralyn Dreyfous e Dan Cogan. O objetivo deles é simplesmente colocar mais mulheres por trás das câmeras. "Não estamos necessariamente procurando por filmes com temas femininos", explica Louie, acrescentando que a Gamechanger está interessada em histórias sobre qualquer assunto ou gênero. "Queremos apoiar a diretora como pessoa que tem uma voz única, independente de ela querer contar uma história que retrate as mulheres."
Para isso, a Gamechanger pretende financiar até 15 filmes nos próximos anos, com orçamentos que variam de US$ 1 milhão até US$ 5 milhões.
Louie destaca ainda que o cinema digital, que permite rodar longas de forma mais barata, facilitou o financiamento tanto para financiadores como para diretores. "Barateou bastante. Um filme que custaria US$ 2 milhões antes pode custar US$ 300 mil hoje em dia”, ela diz. “Você pode fazer um filme muito bonito por pouco dinheiro. Muitos filmes já foram feitos por menos de US$ 100 mil e foram muito bem, recuperaram o investimento e colocaram diretores no mapa. E para financiadores, agora, você não precisa pagar tanto assim para poder participar.”
Contudo, custos mais baixos carregam uma questão negativa, de acordo com Louie. "É difícil pagar salários decentes com esse tipo de orçamento”, ela diz. E mais: "Você acaba tendo uma massa de conteúdo à disposição. Tem muita coisa para o público explorar. É difícil se destacar e fazer seu próprio marketing.”
Costumava haver um mercado bem estabelecido de críticos de cinema que conseguia ajudar o público com isso, mas ele acabou com o declínio econômico da mídia impressa e o excesso de opiniões descartáveis na internet. Então o trabalho de selecionar acabou ficando basicamente nas mãos de curadores de festivais de cinema e empresas de financiamento como a Gamechanger.
"É um cenário muito difícil o que temos atualmente”, diz Louie sobre a cena independente de cinema. "O comportamento do público está mudando, a TV está melhorando, a Netflix e o Hulu entraram para o ramo da distribuição, é difícil de se tornar conhecido como cineasta."
O conselho dela para diretores aspirantes, tanto homens quando mulheres? “Vá lá e faça. Use seu iPhone. Peça para seus amigos atuarem. Mas faça seus filmes, coloque-os em festivais e tente fazer com que te notem assim. Se você conseguir colocar seu produto na frente das pessoas certas, podem te notar e aí você pode conseguir financiamento oficialmente.”