Parceiro de longa data do artista, Tony Visconti produziu os dois últimos álbuns de David Bowie
Tony Visconti, parceiro musical de longa data de David Bowie e último produtor a trabalhar com o artista, divulgou um comunicado sobre a morte do cantor. "Ele sempre fez o que quis fazer, e ele queria fazer do jeito dele, e queria fazer do melhor jeito", escreveu Visconti no Facebook. "A morte dele não foi diferente da vida dele – um trabalho de arte. Ele fez Blackstar para nós, seu presente de despedida. Eu soube por um ano que isso [a morte do artista] seria dessa forma. Não estava, no entanto, preparado. Ele era um homem extraordinário, cheio de amor e de vida. Estará sempre conosco. Por agora, é apropriado chorar."
O músico trabalhou com Bowie pela primeira vez no disco Space Oddity (batizado inicialmente apenas como David Bowie), lançado em 1969. Das dez faixas do álbum, nove foram produzidas por Visconti. A dupla viria a colaborar novamente diversas vezes depois em outros álbuns: The Man Who Sold the World (1970), Young Americans (1975), Low (1977), "Heroes" (1977), Lodger (1979 - estes três últimos, formadores da chamada Trilogia de Berlim, um dos pontos de virada da carreira de Bowie), Scary Monsters (And Super Creeps) (1980), Heathen (2002) e Reality (2003).
Foi Visconti quem produziu a volta de Bowie aos estúdios, The Next Day (2013), o primeiro álbum dele desde Reality. Também é de Visconti a produção do derradeiro disco do Camaleão do Rock, Blackstar, lançado na última sexta, 8, aniversário de 69 anos do cantor.
David Bowie, um dos artistas mais revolucionários do século 20, morreu neste domingo, 10. A informação foi divulgada nas redes sociais do cantor.
“David Bowie morreu em paz hoje, cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer. Enquanto muitos vão dividir a dor pela perda dele, pedimos que vocês respeitem a privacidade da família neste período de luto”, informou o comunicado oficial.
O diretor Duncan Jones, um dos dois filhos de Bowie, também se pronunciou no Twitter. "Muito triste em dizer que é verdade. Ficarei offline por um tempo. Amor para todos", escreveu.
Nascido David Robert Jones, em 8 de janeiro de 1947, na cidade de Brixton, Londres, Bowie formou a primeira banda aos 15 anos, The Konrads. Ele adotou o sobrenome Bowie em meados dos anos 1960, já que seu sobrenome de registro gerava confusão com Davy Jones, do grupo The Monkees.
O pai dele, Heywood Jones, trabalhava em uma instituição de caridade para crianças e a mãe, Margaret Mary Jones, era garçonete. Uma briga com um colega de escola deixou a pupila de um dos olhos de Bowie permanentemente dilatada. Ele começou a tocar saxofone no início da adolescência. Aos 20 anos, já tinha passado um tempo em um monastério budista na Escócia e trabalhado em companhias teatrais.
O primeiro single, "Liza Jane", saiu sob o nome Davie Jones with the King Bees, em 1964, sem sucesso. A carreira do artista começou a tomar forma com o lançamento do álbum de estreia, homônimo, em 1967. Mas o primeiro marco veio no segundo trabalho, também chamado David Bowie (e depois rebatizado como Space Oddity), em 1969, com a música-título. O verso inicial se tornou um clássico: "Ground control to Major Tom".
É possível dizer que em seus primeiros anos Bowie teve como uma de suas principais influências o cantor e compositor britânico Scott Walker. Bowie, no entanto, viria ele próprio a se tornar uma influência para um sem número de artistas. Sempre destruindo padrões, ele passeou por inúmeros gêneros: glam rock (o personagem Ziggy Stardust, do disco Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, é um dos mais emblemáticos da história do rock), soul, música eletrônica, entre tantos outros.
Na lista de seus inúmeros hits, estiveram “Changes”, “Fame” e “Heroes” (trilha da adaptação cinematográfica do livro Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída). O impacto dele na música é imensurável – entre os músicos que fizeram covers de suas canções e que em algum momento o citaram como influência estão Nirvana, Joan Jett, Duran Duran, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson, Arcade Fire, Oasis, Ozzy Osbourne, Morrissey, Beck, Red Hot Chili Peppers, Lady Gaga, Bauhaus e Nine Inch Nails.
“David Bowie foi uma das minhas inspirações mais importantes, tão destemido, tão criativo, ele nos deu mágica para uma vida inteira”, escreveu Kanye West no Twitter. “Rezo por seus amigos e família.”
Inquieto e inigualável, Bowie também teve, no entanto, períodos de baixa, na segunda metade dos anos 1980 e na década de 1990. Mas sempre foi capaz de se reinventar. Blackstar é um exemplo disso: já considerado um ponto alto em uma carreira que teve diversos pontos altos, o disco de sete faixas mistura jazz, rock e elementos de música eletrônica de maneira experimental e inovadora. "David desconstroi gêneros musicais. Mal posso esperar para que comecem a sair álbuns imitando Blackstar”, disse Tony Visconti em recente entrevista à Rolling Stone.
Em 2004, durante a turnê do disco Reality, Bowie sofreu problemas do coração e interrompeu abruptamente a excursão. Foi o início de um longo período distante da mídia e dos estúdios. O silêncio – ao menos musical, já que Bowie há anos não concedia uma entrevista – foi quebrado em 2013, com o lançamento surpresa da canção "Where Are We Now?", no dia do aniversário de 66 anos de Bowie.
A carreira de ator também foi frutífera, com Bowie tendo papeis memoráveis em filmes como O Homem que Caiu na Terra, Labirinto e Fome de Viver, para citar alguns. Recentemente, ele trabalhou na concepção do musical teatral Lazarus, que dá continuação à história do personagem de O Homem que Caiu na Terra.
"Lazarus" é também o nome de uma das músicas de Blackstar. Nos clipes desta canção e da faixa-título do álbum, Bowie deu, pela derradeira vez, amostra de sua veia teatral e performática.
Bowie deixa o filho, Duncan Jones, uma filha, Alexandria, e a esposa, Iman Abdulmajid.
Ouça dez raridades de David Bowie escolhidas por leitores da Rolling Stone EUA.