Em seu primeiro CD solo gravado em estúdio, Claudia Leitte vai do reggae ao kuduro
Depois de uma série de discos à frente do Babado Novo e um disco ao vivo solo, Claudia Leitte finalmente está só. E em As Máscaras, trabalho gravado em estúdio e lançado neste mês, a grande surpresa nem é a solidão da cantora: é a aproximação com o mundo da música pop (em um sentido universal), com passagens intensas pelo reggae e até uma faixa baseada no ritmo angolano kuduro (um primo do funk carioca).
Um dos responsáveis pelas novas sonoridades é o DJ e produtor paulistano DeepLick (que já remixou Shakira e Lily Allen), que recebeu de Claudia uma indicação de sonoridade: a faixa "Right Hand Hi", da norte-americana Kid Sister, protegida de Kanye West. "Mostrei para ele umas coisas que eu queria e ele me entendeu", explica Claudia, que recentemente também declarou seu amor pelo rock intenso do Gossip no Twitter. "Ninguém espera que eu goste de um monte de coisas que eu gosto", explica. "Acho que é preconceito puro. As pessoas não acham que o axé é uma música como o indie, o rock. Mas, para mim, é - me provoca sensações e emoções especiais."
Mas não é dos Estados Unidos que vem a sonoridade mais forte do disco novo, é da Jamaica. "Acho que sou uma 'reggaeira'", diz a cantora sobre faixas como "Flores da Favela", "Trilhos Fortes", "Paixão" e "Dum Dum". "Tenho descoberto isso mais e mais. Essa [mistura de estilos] é a fusão da minha identidade, se é que eu tenho uma." Ela admite que, em alguns casos, pediu para que a banda que a acompanha ao vivo acelerasse o andamento de algumas das composições novas durante os shows. "No estúdio tem um clima mais frio", justifica. "Ao vivo, preciso sentir aquela ambiência." Não que o álbum inteiro seja dominado por músicas mais lentas: estão lá "Negou o Nagô" (que, apesar de ter um rap no meio, é batucada total), "Água" (uma pancada que mistura kuduro a axé, composta por Sérgio Rocha, coautor do sucesso "Exttravasa") e "Faz Um" (hino futebolístico escrito por Carlinhos Brown - que, apesar de seu tema, perdeu para "As Máscaras" na escalação para a coletânea Listen Up!, produzida pela FIFA para a Copa do Mundo).
A segunda música de trabalho (já que a primeira, "As Máscaras", saiu no ano passado - bem antes do disco), "Famo$a", fica no exato meio do caminho entre o reggae e o pop contemporâneo. A versão original dessa composição, "Billionaire", está em Lazarus, o recém-lançado álbum solo de Travie McCoy, do Gym Class Heroes. É ele quem canta os versos em inglês da faixa. "Eu estava na Califórnia, de férias, depois do Carnaval. O cara da rádio anunciou que ia tocar essa música pela primeira vez. Aí começou um reggaezinho e eu me amarrei!", conta a brasileira, que já começou a imaginar as mudanças que faria no arranjo. "De cara imaginei um uquelele, não sei por que diacho." Além disso, ela adaptou o tom agressivo da letra original a algo mais leve. "Inicialmente eu tinha criado uma versão mais seca, sem muito romantismo", diz. "Achei que tinha mais a ver: ele fala de grana, de fama - não de amor. Fala de coisas mais materialistas. A minha versão era quase ao pé da letra, mas aí vi que não tinha nada de mim ali. Então coloquei um 'cor-de-rosa'." Entraram citações, em tom de brincadeira, a Jô Soares, Hebe Camargo e ao Big Brother Brasil. Mas a ideia é mesmo ironizar com que busca fama e dinheiro de forma irresponsável. "Recebo muitas cartas dizendo isso, de pessoas que eram entrar no BBB, aparecer na TV. É impressionante!"
As Máscaras deve puxar uma série de outros lançamentos, alguns já em estágio avançado de produção. Um DVD com clipes das músicas novas deve chegar às lojas até o fim do ano, acompanhado de um documentário sobre Claudia Leitte - que inclui várias cenas da vida familiar da artista, sendo que quase 130 horas de imagens foram registradas (uma prévia pode ser vista em um vídeo de "Trilhos Fortes", no site oficial de Claudia). Outra possibilidade é uma parceria com Ricky Martin, que ela conheceu recentemente. "Passei um dia na casa dele, em Miami, e pensamos em fazer algo juntos. Mas não agora, seria muito imediatista." Para um futuro próximo, ela também imagina a gravação de um show em Salvador - provavelmente gratuito, ao estilo do que gerou o CD/DVD Ao Vivo em Copacabana. "Penso em fazer uma coisa bem grandona. Tenho que me dar isso." Apesar de o projeto estar nos planos da cantora há alguns meses, ainda não há data prevista para sua realização. Não por falta de empolgação. "Eu faria isso amanhã!", explica Claudia, que também pensa em ampliar a parceria com DeepLick em um projeto mais eletrônico. "Sou muito pilhada, inquieta, inconstante. É da minha natureza. Já me imagino gravando."