Abertura da 29ª edição da semana de moda paulistana estava morna até desfile cheio de tops nacionais e internacionais para grife Cia. Marítima
Apesar de pequenas aglomerações para ganhar brindes ou chegar perto de alguma celebridade, o clima era de tranquilidade no primeiro dia da 29ª edição da São Paulo Fashion Week, que aconteceu nesta quarta-feira, 9, no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. A temperatura só aumentou no último desfile. Isto porque a grife Cia. Marítima recrutou um batalhão de tops nacionais e internacionais de biquíni para fechar com chave de ouro o primeiro dia da semana fashion paulistana.
Andando pelos corredores da SPFW, percebe-se referências de parques de diversões. Foram instalados um tobogã que termina em uma piscina de bolinhas, uma roda gigante, vários cata-ventos e formas geométricas coloridas estampadas nas paredes. Tudo isso para fazer jus ao tema da edição primavera-verão 2011 do evento: "Anima" (alma, em latim), que celebra o espírito alegre do brasileiro.
Nas passarelas, a temática foi eclética: passou pelo clima tecnológico do desfile de Tufi Duek, pela arte dos anos 20, da coleção de Priscilla Darolt, pelo estilo tropicalista de Rosa Chá, pelo movimento skatista dos anos 70, na moda da Reserva, chegando ao Marrocos, referência que reinou no desfile tão aguardado da Cia. Marítima. Mesmo que de maneiras diferentes, um ponto foi comum nos desfiles: a boa música. Confira abaixo os melhores momentos:
Tufi Duek - às 15h
Mal as modelos estreavam a passarela do Pavilhão da Bienal e já era possível notar que a coleção primavera-verão do estilista Tufi Duek tinha um ar futurista. A música que embalou todo o desfile foi "Invisible Light" do Scissor Sisters. A cadência agitada e ao mesmo tempo sombria da faixa ritmava os passos das modelos, que usavam brilhos metálicos e cores fortes, como a mecha falsa colocada no meio do cabelo das garotas. "Usei materiais tecnológicos: fibra de papel e de acetato, saltos de acrílico. Tudo que remete ao futuro, às mulheres urbanas e modernas", confirmou o estilista ao site da Rolling Stone Brasil. A música, claro, foi propositalmente escolhida para combinar com a temática: "Eu estava falando de transparência, riscos de luz, então, quando a música caiu na minha mão, não tive dúvidas de que era ela."
Moda X Música
O cantor Otto estava presente no desfile de Duek, ao lado da atual namorada Mayana Moura (que interpreta Melina, na novela Passione, do canal Globo). O pernambucano disse que adora moda e participa todos os anos da SPFW. "Música e moda estão completamente ligadas, são meios de expressão. Eu como cantor tenho que inspirar e apresentar algo legal do meu estilo para o público que se espelha em mim", disse o cantor, que está no meio da turnê do disco Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009). Sobre seus ícones da moda ligados à música (e vice-versa), Otto nem precisou pensar: "David Bowie, Mick Jagger, Beatles, Roberto Carlos, Erasmo... Eramos é jaquetão, pô!"
Priscilla Darolt - às 17h30
A art déco (movimento popular de design dos anos 20, que culminou nas artes decorativas) de capas de livros foi a fonte de inspiração para a coleção de Priscilla Darolt. Há alguns meses, a estilista estava em um sebo, em Paris, onde só havia livros antigos, então "a textura do couro das capas" influenciou na construção de sua coleção. Embaladas pelo som da dupla francesa CocoRosie e de músicas japonesas, as modelos tomaram a passarela exibindo minivestidos em camurça, com modelagens retas, recortes geométricos e trabalhos em bordas arredondadas. "É para quem curte design", disse a estilista em comunicado à imprensa.
Rosa Chá - às 19h
Quem não conhecia a brasileira Geanine Marques provavelmente a confundiu com uma das modelos que desfilaria para a Rosa Chá, grife do estilista Alexandre Herchcovitch (Amir Slama deixou o comando da marca em 2009, depois de 17 anos). Mas logo a loira de microvestido preto assumiu os vocais da banda Stop Play Moon, que se prepara para lançar o primeiro disco em julho. Geanine já embalou vários desfiles do amigo Herchcovitch, porém esta foi a primeira vez junto dos colegas de banda, o guitarrista Paulo Bega e o baterista Ricardo Athayde. No entanto, Herchcovitch acha que a música "não precisa combinar com a coleção", ao explicar para a Rolling Stone Brasil que não teve um motivo específico para a escolha da trilha. Nas passarelas foi possível perceber que o estilista não curte mesmo ligações lógicas em seus desfiles. Inspirada no universo da dança de salão, a grife de beachwear passou por vários tipos de estampas diferentes: desde tons nude até folhagem de tinhorão (um tipo de flor), quadriculados e pássaros coloridos.
Confira abaixo a passagem de som do Stop Play Moon em vídeo feito antes do desfile da Rosa Chá:
Reserva - às 20h15
Sem dúvidas o desfile da Reserva, de Rony Meisler, foi o mais "atitude' do primeiro dia desta edição do SPFW. A grife masculina se inspirou nos Z-Boys, grupo formado na década de 70 por skatistas como Tony Alva, Jay Adams e Stacy Peralta. "Focamos no Jay. Ele foi um dos caras que mais revolucionou o esporte na década de 70. Foi o mais contracultura, o que menos se prostituiu, fazia aquilo porque amava mesmo", explicou Rony. Se pudesse traduzir em uma palavra o comportamento de Jay? "Adrenalina". E foi essa mesmo a sensação que tomou conta da sala de desfile, potencializada pela trilha sonora: Wolfmother ("Vagabond"), Deep Purple ("Smoke on the Water"), Jimi Hendrix ("Fire"), AC/DC ("Let there be Rock"), Black Sabbath ("Paranoid" e "Iron Man"). "As músicas estão totalmente ligadas à história de Jay Adams. Tinha que ser rock'n'roll dos anos 70", disse Rony. O responsável pela trilha sonora foi Jackson Araújo, que já trabalha no ramo desde 1994: "A ideia inicial era usar o skate punk, mas seria muito barulhento. Então caímos nos anos 70, para remeter à liberdade, ao esporte, tudo com viés de transgressão". O desfile também foi encerrado de maneira rock'n'roll: com o grupo de homens gritando e fazendo o símbolo do heavy metal com as mãos.
Cia. Marítima - às 21h30
Depois de um desfile 100% masculino, a passarela foi tomada pelas modelos mais aguardadas (e bonitas) do primeiro dia da 29ª edição do SPFW, no único momento "quente" da noite - a impressão que se tinha era que todos os presentes na Bienal estavam concentrados na porta do desfile da Cia. Marítima. Eram nove tops internacionais: a israelense Esti Ginzburg, a holandesa Sylvia Geersen - principais estrelas da marca para a campanha de verão -, Paulina Wika (Polônia), Malena de Palma (Espanha), Anouk (Holanda), Christa Verboom (Holanda), Petra Kuklova (República Tcheca), Lida J (Holanda) e Jade (Bélgicas). Mas claro que a beleza das modelos brasileiras não poderia ficar de fora: Isabeli Fontana, Izabel Goulart, Renata Kuerten, Barbara Berger, Fabiana Semprebom, Lays Silva, Juliana Imai, Guisela Rheine e Emanuela de Paula também arrancaram suspiros da plateia. A cultura mística de Marrocos foi a grande inspiração para o verão da Cia Marítima. "Fomos para lá no ano passado pesquisar tudo sobre o país, então montamos a coleção inteirinha em cima do que vimos: estampas que vieram de tetos de palácios, arabescos, cores fortes, tecidos e joias", explicou o diretor criativo Benny Rosset. Nem mesmo os escorregões (e quase queda) de três modelos foram capazes de abafar o burburinho sobre a beleza das roupas, do cenário e, principalmente, das mulheres curvilíneas responsáveis por encerrar o primeiro dia da maratona de moda.