Filme de J.J. Abrams injeta sangue novo na franquia, agradando a leigos e fãs
A reinvenção de Jornada nas Estrelas sempre foi vista com desconfiança pelos fãs. Alguns entraram em pânico, acusando o estúdio de heresia ao trabalho do visionário Gene Roddenberry - criador da série, morto em 1991 -, outros só respiraram aliviados quando J.J. Abrams (o nome por trás do sucesso da série Lost) assumiu o comando do projeto e anunciou a escolha de Zachary Quinto (o vilão Sylar de Heroes) como o jovem Spock. A presença do veterano Leonard Nimoy, que viveu o mesmo personagem no primeiro programa e nos cinemas, também serviu para acalmar os ânimos. A intenção de Abrams, entretanto, não deixava de ser bastante ousada: apresentar Jornada nas Estrelas para um público que não cresceu vendo as aventuras do capitão Kirk e muito menos ouviu falar em Nova Geração.
Lançada em 1966, a série original não fez sucesso durante sua primeira exibição na TV. Recebia elogios da crítica, mas era ignorada pelo público. Foi durante as reprises que Jornada nas Estrelas ganhou status de fenômeno. O legado rendeu cinco séries derivadas (uma delas animada) e dez longas-metragens para o cinema, o último deles em 2002. A verdade é que a fórmula se desgastou passados mais de 40 anos, algo que os seguidores mais fanáticos se recusavam a aceitar.
J.J. Abrams sabia que estava mexendo em vespeiro, mas não se intimidou. Reuniu um elenco jovem, com muitos rostos desconhecidos, e pediu ajuda para Roberto Orci e Alex Kurtzman (autores de Transformers e colegas de Abrams de longa data). Correndo contra o tempo - a história foi finalizada poucos dias antes do início da greve dos roteiristas, em 2007 -, sua ideia era lançar o filme no final de 2008. O plano não deu certo e fez crescer ainda mais a expectativa.
O veredito? Star Trek (o estúdio usa o título original como forma de padronização mundial) é surpreendente em muitos aspectos. Além de ganhar um novo fôlego com edição e narrativa ágeis, houve um cuidado muito especial em não desagradar o público mais "hardcore". Em quase todo diálogo, há pequenas referências ou citações. Isso sem contar alguns efeitos sonoros bastante familiares. Os leigos nem vão sacar - além do mais, são detalhes que não alteram em nada a história -, mas isso ganha importância para quem conhece o assunto.
O enredo começa traçando um paralelo entre os personagens do rebelde James T. Kirk (Chris Pine) e o aplicado vulcano Spock (Quinto). O primeiro é um jovem problemático cujo pai se sacrificou para salvar a vida de centenas de pessoas no dia do nascimento do filho; o segundo é um alienígena que sofre o preconceito dos próprios colegas por ter uma mãe humana. Kirk se alista na Frota Estelar, a pedido do capitão Christopher Pike (Bruce Greenwood), e logo faz amizade com o doutor Leonard McCoy (Karl Urban). O mesmo não se pode dizer de Spock, que já entra em atrito com Kirk por ele ter trapaceado em um teste.
Há muitas surpresas na trama, e a presença de Nimoy tem uma explicação coerente. Eric Bana também faz um excelente trabalho ao criar um vilão bem realista e sem exageros. Uma curiosidade é a participação de Winona Ryder como a mãe de Spock.
Star Trek injeta sangue novo na franquia, e mostra potencial para uma nova série de filmes. E o melhor: agrada aos fãs e até mesmo aqueles que acham - erroneamente - que Star Trek e Star Wars são a mesma coisa. Um bom começo para quem não conhece a série, e um presente para os aficionados.