Suga fala sobre como o BTS permanece ávido após conquistar o mundo [ENTREVISTA]
"Às vezes penso: 'Por que precisei passar tanto tempo no estúdio?'", diz Suga
BRIAN HIATT | ROLLING STONE EUA
Publicado em 29/06/2021, às 07h00Com a lírica confessional, fluxo pesado de técnica que pode atingir níveis de intensidade emocionais semelhantes aos de Busta Rhymes, extensa produção e créditos de composição, além de ética de trabalho indomável, Suga é uma peça indispensável da alma artística coletiva do BTS. Em abril, ele sentou na sede da gravadora, usando um boné de malha cinza, máscara branca e parca preta enquanto falava sobre as batalhas contra a depressão, o processo de composição, avidez após conquistar o mundo e mais.
[Em comemoração à capa mensal da Rolling Stone do BTS, capas individuais digitais com cada integrante da banda foram publicadas diariamente ao longo de uma semana no mês de maio]
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Você fez uma cirurgia no ano passado devido a uma lesão no ombro que acredito ter acontecido nos seus dias de trainee. Como você está se sentindo?
Muito melhor. Ainda tenho que fazer fisioterapia, mas está bem melhor. E, sim, sofri a lesão em um acidente quando tinha 20 anos e, à medida que foi piorando, recomendaram-me a cirurgia. Felizmente, havia um pouco de tempo que eu poderia usar para fazer esse procedimento. Portanto, foi isso que fizemos.
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É muito impressionante que você tenha feito coreografias elaboradas ao longo de todos esses anos com essa lesão. Como você lidou com isso?
No ano anterior à cirurgia, acredito, eu estava recebendo tratamento, injeções, quase que mensalmente. No entanto, houve algumas vezes em que eu não conseguia levantar meus braços ou ter uma amplitude de um movimento no meio de um show. Emtão, isso não foi realmente só sobre a dor. É mais sobre ser capaz de continuar fazendo essas apresentações. Quando você realmente está apresentando, por causa da adrenalina ou seja lá o que for, não dói muito. Você meio que sente aquilo no dia seguinte, é quando você sente a dor ou o desconforto ou não consegue levantar os braços mais.
Amo a música "First Love" quando você fala sobre a precoce paixão pelo piano e pela música. A lírica sugere que este amor também é uma fonte de tormento. O que estava acontecendo ali?
Quando eu estava trabalhando em "First Love", quis expressar um misto de diferentes emoções, porque primeiro amor não é apenas as coisas boas, há as coisas amargas também. Portanto, eu estava falando com Mr. Bang sobre relacionar a metáfora do primeiro amor ao primeiro momento que conheci música. O alvo do amor é um piano, mas poderia ser qualquer coisa - um amigo, outro tipo de entidade. Depois, queria mostrar as emoções que você passa.
Você tem sido sincero em suas letras sobre depressão e outras lutas. Como você está agora?
Agora, estou confortável e me sentindo bem, mas esses tipos de emoções negativas vêm e vão. Então, é quase como um clima frio. Pode voltar em um ciclo ao longo de um ano, um ano e meio. Mas, quando ouço as pessoas dizerem que quando ouvem minha música, sentem conforto e são consoladas pelas letras que expressam essas emoções, e isso faz com que eu me sinta muito bem. É muito encorajador. Penso que, para ninguém, essas emoções não são coisas que precisam ser escondidas. Elas precisam ser discutidas e expressadas. Quaisquer sejam essas emoções que posso sentir, estou sempre pronta para expressá-las atualmente, como estive antes.
Você escreveu muitas músicas para o BTS, muitas músicas para você e muitas músicas para outras pessoas. Qual é o seu processo normal de composição?
O processo é realmente diferente para cada canção. Às vezes pode ser uma palavra que aparece e eu desenvolvo a partir da palavra, ou alguém pode me fazer um pedido para um determinado jeito que gostaria que a música se desenvolvesse. Na maioria das vezes, decidimos sobre um tema e depois trabalhamos livremente a partir de um tema abrangente mais amplo que possamos ter. Mas, geralmente, ao trabalhar em uma música, crio a batida primeiro, depois a melodia e o rap, e finalmente a letra. Geralmente é assim que eu componho.
Como está seu violão?
Desde que meu ombro melhorou muito, estou de volta ao violão. Tenho tocado músicas de outras pessoas para praticar, é claro, e estou ansioso para em um futuro distante eu ser capaz de cantar e tocar violão ao mesmo tempo. É para isso que estou trabalhando.
Em "Dope", você tem um ótimo trecho sobre sua juventude no estúdio. Mas, você já teve algum arrependimento sobre isso?
Não tenho arrependimentos sobre trabalhar em um estúdio. Aqueles dias e aquele tempo me permitiram ter as oportunidades que tenho agora e hoje. Portanto, nenhum arrependimento. Mas, às vezes penso: "Por que precisei passar tanto tempo no estúdio?" [risos] Por que eu não poderia ter ido mais rápido. Tive aquele esforço exagerado. Por que não poderia ter descansado um pouco mais ou me relaxado um pouco mais? Penso sobre isso.
Você, RM e J-Hope têm todos esses ótimos sentidos duplos e triplos e outros jogos de palavras que podem se perder nos ouvintes que não falam coreano - as traduções não conseguem transmitir tudo. É frustrante que alguns fãs estrangeiros possam sentir falta de certas coisas?
Enquanto eu crescia, é claro, ouvia hip-hop e pop norte-americano, e meu inglês não é muito bom. Portanto, leio as letras e traduções delas. E, obviamente, o que os falantes nativos de inglês podem considerar os trechos principais, os versos principais, as sacadas, eu realmente não consigo entender devido às complexidades do idioma. E, penso, essa é uma parte inevitável da barreira do idioma. Penso ser importante tentar encontrar um meio feliz onde pessoas de ambas as línguas e culturas ou outras línguas entendam. Então, tentamos escrever letras meio que neste meio feliz para poderem ser entendidas por pessoas que falam outras línguas. E também, estou estudando inglês cada vez mais, para tentar me familiarizar mais com ele. Portento, se conseguirmos fazer com que falantes de coreano e falantes de inglês entendam as letras, isso seria ótimo. Mas, novamente, isso é algo que eu também experimento.
Existe uma história que seus pais não gostaram que você estivesse fazendo rap, que eles até rasgaram suas letras. Como isso afetou você?
Meus pais não entendiam o rap. Eles são de uma geração longe da minha e eles nunca ouviram rap; isso não era parte das músicas que eles ouviam. Então, é apenas natural que eles estivessem contra o que eu estava fazendo. E, claro, ser um músico é uma profissão muito instável também. Então, consigo entender perfeitamente porque meus pais foram contra o que eu estava fazendo. Mas, penso que isso me motivou ou me ajudou a trabalhar muito porque era algo que agora eu precisava provar. Tive que mostrar para os meus que era possível. Portanto, isso me motivou a trabalhar ainda mais arduamente.
Após tudo o que o BTS alcançou, como você permanece ávido?
Sou uma daquelas pessoas que pensa que não apenas as pessoas mudam, mas as pessoas devem mudar. Mas, penso que isso é muito para manter aquela fome. Mas desde os dias em que estávamos realmente com fome, estabelecemos rotinas para nós mesmos, e elas permanecem com você, mesmo que você mude como pessoa. Penso que ainda podemos aproveitar as coisas que conversamos quando ainda estávamos com aquela avidez. Portanto, conseguimos manter aquela ética do trabalho e permanecermos ávidos, mesmo que mudemos e nos desenvolvemos como pessoas. Agora, ao invés de ávido, acho que estamos mais com fome! Com raiva e com fome [risos].
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