Segundo longa de Roberto Moreira leva drama sobre relacionamentos no II Festival de Cinema de Paulínia
Depois de três dias de pouca empolgação, o II Festival de Cinema de Paulínia recebeu novos ares com a exibição do longa Quanto Dura o Amor?, de Roberto Moreira, na noite do último domingo, 12. O filme, estrelado por Silvia Lourenço, revitalizou a telona do Theatro Municipal da cidade com uma trama intrigante sobre relacionamentos desenrolados nas ruas do coração de São Paulo, a Avenida Paulista.
De cara, os mais alternativos da grande plateia foram contemplados com a música "High And Dry", da banda britânica Radiohead, como trilha sonora principal. Segundo Geórgia Costa Araújo, produtora do filme, o grupo cedeu os direitos autorais da faixa, presente no disco The Bends, de 1995, depois de assistir ao filme pronto, na Inglaterra - a versão quase final foi enviada pela equipe para a banda, com duas músicas de exemplo.
"Foi um transtorno conseguir a música. A grande dificuldade foi a burocracia das editoras musicais no Brasil", explicou Geórgia, em entrevista coletiva de imprensa nesta segunda, 13. "A negociação durou um ano e agora temos direitos universais e para todas as mídias em que o filme foi exibido. Custou caro, mas é uma questão de custo e benefício."
Roberto Moreira contou que a escolha por Radiohead foi um consenso entre todos da equipe e elenco. Além da versão oficial gravada pela banda, o filme exibe também um cover feito pela cantora Danni Carlos na pele de Justine, uma roqueira do universo das boates e clubes alternativos de São Paulo. A personagem se envolve com a protagonista Marina, vinda do interior paulista e vivida por Silvia Lourenço (O Cheiro do Ralo), e com Nuno (Paulo Vilhena). O triângulo amoroso é o ponto central de outras histórias que, de alguma forma, acabam fracassando.
Boa parte das filmagens aconteceu no condomínio Anchieta, situado na esquina da Paulista com a Rua da Consolação - point disputado por moderninhos da metrópole. Marina deixa o namorado e a vida pacata de um município interiorano - Paulínia serviu de cenário para as gravações das cenas, em 2008 - e vai para São Paulo para investir na carreira de atriz. Na "terra da garoa", a jovem vê sua vida mudar rapidamente e logo se envolve com Justine, comprometida com Nuno. Paralelamente à sua experiência, Marina convive com Suzana (Maria Clara Spinelli), com quem divide um apartamento no edifício. A bem sucedida advogada acaba engatando um romance com seu colega de trabalho, Gil (Gustavo Machado).
Com excelente fotografia, recheada de belos ângulos da metrópole, o filme consegue prender os espectadores com uma história bem amarrada. O drama tem, inclusive, momentos de comédia com o escritor Jay Machado, interpretado por Fábio Herford. O papel, provisoriamente ocupado por Paulo Miklos, mostra um poeta fracassado que se apaixona por uma prostituta com quem sempre se relaciona. "Muitas cenas e histórias foram cortadas, quase três horas de filme. Foi difícil, mas não tinha como colocar tudo", lamentou Moreira. "Nessas horas, o ator [cortado] tem que exercitar o músculo do desapego", afirmou Paula Pretto, atriz pouco vista na trama, vítima dos cortes.
Cenas de nudez, sexo e tabus completam a obra que agradou e impactou o público variado do festival. Previsto para chegar ao circuito nacional em setembro, o filme chamou a atenção de todos ao contar com uma atriz transexual. Maria Clara Spinelli estreou sua carreira nos cinemas com um papel delicado, tanto pessoal como publicamente, que lhe rendeu elogios e admiração. "Socialmente, vou ter que sacrificar um pouco minha privacidade, mas ser atriz foi o preço disso", declarou.
Homenagem
Pouco antes da exibição de Quanto Dura o Amor?, o pianista, compositor e maestro Nelson Ayres recebeu o prêmio honorífico do festival pela trilha sonora do filme O Menino da Porteira, do diretor Jeremias Moreira, quem entregou pessoalmente o troféu Menina de Ouro ao músico. O longa, estrelado pelo cantor Daniel, compôs a programação da Mostra Paralela do evento.