Ele faz parte do line-up do festival neste sábado, 21, quando sobe ao palco ao lado da Orquestra Imperial; no domingo, 22, participa do Popload Gig, em São Paulo
O sotaque delicioso do italiano Jovanotti falando inglês, combinado com sua simpatia e carisma, que podem ser percebidas até mesmo pelo telefone, remetem a algo que é impossível não pensar, por mais que se tente evitar. A sensação é de estar ao telefone com o personagem Mario, dos videogames. Mas um Mario muito mais eloquente e um especialista absoluto em música brasileira.
"Talvez eu conheça música brasileira melhor do que a média dos garotos brasileiros”, diz ele sem modéstia, mas também sem um pingo de arrogância. É verdade. O artista do rap/pop, regravado por Daniela Mercury na década de 90, parceiro de Carlinhos Brown e Sergio Mendes e atualmente apaixonado por Criolo, conhece a música brasileira muito além das tradicionais respostas que saem da boca dos gringos que querem fazer média.
“Estou muito feliz de ir para o Brasil, para mim é como ir para a Jerusalém musical. É um lugar que faz parte do meu repertório, formou meu gosto. O último disco que comprei foi o do Criolo, ouvi bastante e gosto muito. Já fui muito apaixonado por chorinho, MPB, considero Chico Buarque o maior compositor de letras de todos os tempos”, resume. “Em geral, gosto da atitude da música brasileira. Elis Regina, Seu Jorge, Los Hermanos, Zeca Pagodinho ('que intérprete incrível!)... Nação Zumbi tem muita influência na minha carreira.”
Outra banda que ele conhece é a Orquestra Imperial, com quem divide o palco no Rock in Rio neste sábado, 21. “A ideia é juntar nossa energia e ver o que acontece. Eu gosto das músicas deles, eles gostam das minhas. Acho que será uma jam session. Será insano, seja como for”, explica. “Curiosamente, por acaso, eu estava no primeiro show da Orquestra Imperial, no Canecão (RJ). Fui sem querer porque gostei do nome! E foi maravilhoso!”
Se já é curioso para os brasileiros receberem um rapper que canta em italiano, para os norte-americanos é ainda mias peculiar. “Quando subo ao palco lá, eles piram, é como ver um japonês fazer espaguete. É maluco, mas se o espaguete é bom, você vai gostar. No começo, olham para mim como se fosse um macaco, não casa ouvir a minha língua com aquele ritmo. Mas depois enxergam que sou músico mesmo, com uma boa banda”, diz. “O hip-hop italiano é a coisa mais importante a acontecer no país musicalmente nos últimos tempos. Aliás, é assim em todos os países. Todos eles estão adaptando o ritmo a seus países. Isso aconteceu com o rock há 50 anos e está acontecendo agora também.”
“Eu nunca me considerei alguém debaixo do grande guarda-chuva que é o hip-hop, sabe?”, continua. “Faz parte da minha música, mas nunca me inseri dentro da ideologia. De qualquer forma, é claro que considero o hip-hop a maior evolução, não só musical, mas cultural, dos últimos anos.”
Apesar da fluência no idioma e as facilidades que isso acarretaria, o músico nunca considerou cantar em inglês, mesmo admitindo que cantar em italiano atrapalhe seu sucesso internacional em potencial. “A língua italiana é velha. Geralmente, as pessoas associam a Itália a outras melodias, com óperas antigas e melodias clássicas italianas. Acho impossível ter em outros lugares o tipo de sucesso que tenho no meu país. A minha conexão com meu público tem a ver com melodia, mas é muito mais embasada na letra. Gosto de sair da Itália, mas estou procurando por plateias pequenas, nada demais. Procuro pelo prazer de mostrar meu trabalho para novas pessoas, mesmo que poucas. E, de qualquer forma, é um jeito ótimo de quebrar a imagem que as pessoas têm de que não há música contemporânea na Itália.”
O Bruce italiano
Escutar Bruce Springsteen e Jovanotti, um seguido do outro, é ter certeza de que os italianos estão malucos ao dizer que este é a versão italiana daquele. Mas ele explica que o apelido nada tem a ver com sonoridade. “A comparação acontece por causa dos números ao vivo. Quando você pensa em Bruce, pensa em grandes estádios. E é nesses lugares onde costumo tocar na Itália. A música é bem diferente, mas para mim é uma grande honra, por causa da dimensão dele e o fato de que é um artista maravilhoso, muito popular no meu país”, diz Jovanotti, que já foi a muitos shows de Springsteen.
Este fim de semana, aliás, irá a mais um, já que The Boss encerra o Rock in Rio no mesmo dia que ele toca. “Não o conheço pessoalmente, mas acho que vou vê-lo de perto no Brasil. Sou amigo do baterista dele, somos vizinhos na Toscana, e ele vai apresentar a gente no Rock in Rio!”
Popload Gig com Jovanotti
22 de setembro, às 22h
Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade – São Paulo
R$140 (inteira)
Jovanotti no Rock in Rio
21 de setembro, às 14h40
Palco Sunset