Steve McQueen comanda elenco estelar em impressionante história real
Com seus dois primeiros longas, Hunger e Shame, o diretor britânico Steve McQueen tornou-se um dos nomes mais louvados da nova geração. A maneira dele de filmar, baseada em longos planos e composições nitidamente inspiradas em seu passado como artista plástico, criou um estilo próprio que em 12 Years a Slave, que acaba de ganhar o prêmio de público do Festival de Toronto, se mostra ainda mais apurado.
No filme, o britânico Chiwetel Ejiofor interpreta Solomon Northrup, negro nascido livre pouco tempo antes do fim da escravidão nos Estados Unidos. Enganado por uma falsa proposta de emprego, ele acaba sequestrado e vendido para senhores de escravos no sul do país. Começam os dozes anos de escravidão aos quais o título do longa se refere.
O roteiro de John Ridley, também presente em Toronto com Under The Skin, é inteligente na maneira de mostrar Solomon vivendo como um homem livre, respeitado por seus colegas. Assim, o contraste quando vemos o personagem sendo confrontado pelos sulistas senhores de escravos é impactante.
Essas diferenças na vida do protagonista, agora simplesmente conhecido como Platt, ajudam a evidenciar ainda mais as brutalidades cometidas pelos donos de escravos. Os atos de agressão e crueldade, violentos e impressionantes por si só, são mostrados por McQueen em seus característicos longos takes, como se forçando e desafiando o espectador a não tirar os olhos da tela, por mais incômodo e desesperador que aquele momento possa ser.
Os personagens de Paul Giamatti e Michael Fassbender são os principais responsáveis por transformar a vida de Platt em um inferno. Presente em todos os filmes de McQueen até agora, Fassbender brilha como o senhor da fazenda Edwin Epps, sendo ofuscado apenas por Chiwetel no papel principal. A cena em que ambos contracenam, chicoteando uma das escravas em um extenso plano sequência, destaca o talento de ambos.
Baseado no livro homônimo escrito pelo verdadeiro Solomon Northrup, 12 Years a Slave é um brutal retrato da escravidão nos Estados Unidos. O longa é direto e em nenhum momento pende para uma caricatura da violência e dos abusos. McQueen mostra os acontecimentos de forma crua, distante, retratando friamente o absurdo um dia considerado normal.