TikTok e o possível banimento nos EUA: o que acontece agora?
Até o momento, TikTok deverá ser banido de lojas de aplicativos nos Estados Unidos a partir de domingo, 19 de janeiro; plataforma possui 170 milhões de usuários no país
por Ryan Bort, CT Jones, Miles Klee e Ethan Millman, da Rolling Stone
Publicado em 16/01/2025, às 10h16Com a aproximação do prazo de 19 de janeiro, estipulado para que a ByteDance, proprietária do TikTok, venda seus ativos nos Estados Unidos ou enfrente a proibição do aplicativo no país, cerca de 170 milhões de usuários americanos se encontram em meio a incertezas sobre o futuro da popular plataforma de vídeos.
O Suprema Corte dos EUA já iniciou a análise de um recurso contra uma legislação assinada pelo presidente Joe Biden no ano passado. Essa lei visa proteger os usuários das redes sociais americanas da influência do governo chinês e salvaguardar seus dados pessoais. A ByteDance, que adquiriu o aplicativo Musical.ly e o integrou ao TikTok em 2017, tem sua sede em Pequim. Críticos da postura do governo Biden afirmam que essa ação representa uma ameaça à liberdade de expressão e aos meios de subsistência dos criadores de conteúdo, enquanto o Departamento de Justiça continua a caracterizar o TikTok como um risco à segurança nacional do país.
A Suprema Corte parece inclinada a adotar a mesma posição, alinhando-se ao posicionamento dos tribunais inferiores, deixando a ByteDance na mão - exceto por possíveis graças de última hora do presidente eleito Donald Trump ou de um bilionário como Elon Musk.
Qual a chance do TikTok realmente ser banido dos EUA?
Extremamente provável. Durante uma audiência na última sexta-feira (10), o Supremo Tribunal ouviu os argumentos relacionados ao desafio do TikTok com a nova legislação, e as expectativas indicam que os juízes podem se posicionar a favor do governo, assim como fez de forma unânime a Corte de Apelações de Washington no mês passado. Se a Suprema Corte declarar a lei constitucional, a proibição deve entrar em vigor no domingo, 19 de janeiro. Existe uma possibilidade remota de que o tribunal possa suspender a proibição e permitir que o ex-presidente Trump utilize sua autoridade para manter o TikTok ativo; no entanto, é mais provável que os juízes sustentem a legislação. O TikTok já está se preparando para encerrar suas operações nos EUA no próximo domingo.
Por que o TikTok não pode simplesmente ser vendido?
A resposta é simples: eles não querem. A ByteDance tem reiterado que não está interessada em vender o TikTok. O aplicativo representa apenas uma fração dos negócios da ByteDance e ele não tem gerado lucro suficiente para a empresa, mesmo com sua popularidade nos EUA. Aparentemente, a ByteDance estaria disposta a encerrar as atividades do TikTok em vez de abrir mão do algoritmo valioso que o sustenta. Embora tenha havido manifestações de interesse em adquirir a plataforma sem seu algoritmo secreto, especialmente por parte do bilionário Frank McCourt, além de várias reportagens indicando que a China estaria avaliando uma venda para Elon Musk, ambos os cenários parecem improváveis à medida que o prazo se aproxima.
Caso ocorra a proibição, ainda será possível usar o TikTok após domingo?
Uma proibição significaria a remoção do aplicativo TikTok das lojas virtuais da Apple e Google, impossibilitando novos downloads ou atualizações. Além disso, os usuários também não conseguiriam acessar o TikTok via navegador da web, pois os provedores de internet enfrentariam pesadas multas sob a nova lei caso facilitem o acesso ao aplicativo ou suas atualizações. No entanto, seria possível visualizar o TikTok por meio de uma rede virtual privada (VPN), que oculta a localização do usuário.
Ainda que manter o TikTok instalado nos dispositivos não vá ser ilegal nos EUA, parece que aqueles que já tinham o aplicativo não conseguirão acessá-lo. Fontes indicam que a empresa planeja desativar o serviço para os usuários nos EUA, seguindo um padrão similar ao que ocorreu na Índia quando o aplicativo foi banido em 2020. A maioria dos usuários verá uma mensagem informando que o serviço não está disponível e será direcionada para informações sobre a proibição. Os usuários também terão a opção de baixar seus dados pessoais. Se em algum momento a proibição for revogada, espera-se que o TikTok consiga restaurar rapidamente o acesso.
Por que o TikTok é tão popular?
Com aproximadamente 170 milhões de usuários ativos nos Estados Unidos, segundo dados da empresa, um aplicativo não conquista essa base fiel sem oferecer motivos para os consumidores abrirem e permanecerem na plataforma. O recurso de rolagem infinita do TikTok cativa os usuários comuns, incentivando-os a continuar deslizando por mais conteúdos. A página "Para Você" não tem fim e o objetivo da ByteDance sempre foi proporcionar aos usuários vídeos atraentes baseados em seus interesses específicos, mantendo-os engajados. Isso explica por que, se o TikTok for vendido sem seu algoritmo, as chances de ele funcionar com eficácia são bastante reduzidas.
Outro fator fundamental para o sucesso do TikTok é seu editor de vídeo integrado. Essa funcionalidade pode ser um diferencial decisivo para qualquer sucessor do aplicativo. O TikTok democratizou as redes sociais e plataformas de vídeo ao facilitar edições rápidas. Criadores podem capturar vídeos com seus smartphones e editá-los sem necessidade de conhecimento técnico avançado. É comum ver vídeos populares no Facebook, Instagram e até mesmo no X (antigo Twitter) com marca d'água do TikTok na parte inferior. Isso ocorre porque muitos criadores ainda utilizam o app para edição. E mesmo se o TikTok deixar de existir, quem criar uma plataforma fácil para postagens provavelmente verá um aumento significativo no número de usuários.
Quais seriam as consequências de um banimento do TikTok para a indústria musical?
Nos últimos cinco anos, o TikTok se consolidou como uma ferramenta essencial de marketing na indústria musical, onde muitos dos maiores sucessos atuais emergiram através de tendências virais associadas às músicas em centenas de milhares de vídeos. O aplicativo transformou as estratégias das gravadoras na descoberta e promoção de novos artistas e também forneceu uma plataforma para músicos independentes divulgarem seu trabalho autonomamente. A possível saída do TikTok dos EUA criaria obstáculos significativos especialmente para artistas desconhecidos ou emergentes do país ou mesmo de fora, que dependem da plataforma para promover suas músicas ou construir suas bases de fãs.
No entanto, esta não é a primeira vez que o setor musical se prepara para um possível fechamento do TikTok. Embora ainda seja onde muitos novos sucessos são lançados, alguns executivos têm apontado nos últimos anos que com a saturação crescente na plataforma em comparação aos primeiros dias, conseguir um sucesso viral tornou-se tão incerto quanto em outras redes sociais. Alguns artistas e gravadoras tentaram diversificar suas estratégias para reduzir sua dependência de uma única plataforma; porém concorrentes como Reels ou YouTube Shorts ainda não conseguiram alcançar um ritmo comparável ao do TikTok na promoção musical. Contudo, caso o aplicativo seja extinto, é provável que outra plataforma similar surja rapidamente.
“Não é só a questão de um viral momentâneo; pode ser um ótimo trampolim para uma carreira. Não sei o que vai acontecer, mas espero que se isso não estiver mais disponível, vejamos alguém assumindo esse mercado”, comentou Chris Anokute, gerente musical da Rolling Stone em 2023, quando já se especulava sobre um banimento iminente.
E quanto à força de trabalho da TikTok nos EUA?
A TikTok emprega milhares de pessoas nos Estados Unidos e embora as operações pareçam estar ameaçadas por uma proibição iminente, conforme revelado por um memorando interno obtido pela Rolling Stone, a empresa assegurou aos funcionários que seus empregos estão seguros neste momento.
“Como funcionários nos EUA, seu emprego, salário e benefícios estão garantidos e nossos escritórios continuarão abertos mesmo se esta situação não for resolvida antes do prazo estabelecido em 19 de janeiro”, afirmou a TikTok à sua equipe americana. “A legislação não foi elaborada para afetar as entidades pelas quais vocês são empregados; somente a experiência dos usuários nos EUA será impactada. Fazemos parte de uma empresa global com mais de um bilhão de usuários. Juntos continuaremos navegando nesta situação para proteger vocês e nossa comunidade com mais de 170 milhões de usuários nos EUA.”
Texto publicado na Rolling Stone em 15 de janeiro de 2025. Para ler o original em inglês, clique aqui.