Todos os 15 álbuns de Mariah Carey, do pior ao melhor, segundo Rolling Stone
Antes do lançamento de seu 16º álbum de estúdio, Here for It All, classificamos todos os discos do lendário catálogo de Carey
Tim Chan, Rolling Stone EUA
Mariah Carey é uma das artistas mais vendidas de todos os tempos, com impressionantes 19 hits em primeiro lugar na Billboard Hot 100, detendo o recorde de artista solo com mais músicas no topo da parada da história. Mas a “Songbird Supreme” não chegou até aqui apenas com sorte ou aparência.
Carey lançou 15 álbuns de estúdio ao longo de sua carreira até agora, quase todos certificados como platina ou multiplatina por vendas superiores a 1 milhão de cópias. Seu disco Music Box, de 1993, recebeu certificação de diamante da Recording Industry Association of America, por mais de 10 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos. E três dos discos de Carey foram indicados ao Grammy de Álbum do Ano (ela também já recebeu indicação a Produtora do Ano).
Do pop ao hip-hop, do gospel ao R&B, os álbuns de Carey abrangem gêneros e estilos, com seu alcance vocal de várias oitavas soando tão belo em baladas delicadas quanto poderoso em hinos de rompimento. Combinados às suas letras inimitáveis, os álbuns da cantora conduzem o público por uma jornada autobiográfica, revelando uma infância dolorosa, um divórcio amargo e períodos de autocrítica, seguidos por uma autoproclamada emancipação. Cada álbum apresenta novos sons que acompanham novas histórias, resultando em 15 obras distintas que mostram Carey como diva, mãe e superestrela.
Antes do aguardado lançamento de seu 16º álbum de estúdio, Here for It All, a Rolling Stone classificou todos os discos de Carey, do marcante debut autointitulado de 1990 ao seu último lançamento, Caution, de 2018.
15º lugar: Me. I Am Mariah…The Elusive Chanteuse (2014)
Carey passou por um período de turbulência pessoal quando gravou o prolixo Me. I Am Mariah…The Elusive Chanteuse. Ela havia acabado de se separar do então marido Nick Cannon e estava trocando de equipe de gerenciamento, tudo isso enquanto se recuperava de uma lesão no ombro sofrida no set do clipe de remix da faixa principal, “#Beautiful”.
Originalmente intitulado The Art of Letting Go, o 14º álbum de estúdio de Carey estava previsto para ser lançado em 2012, mas foi adiado por problemas com a gravadora e pelo desempenho aquém do esperado dos singles planejados. Quando MIAM finalmente saiu, o burburinho em torno de “#Beautiful” já tinha esfriado, e Carey ficou com um álbum que carecia de outro verdadeiro hit.
Claro que, como boa parte do catálogo de Carey, alguns poderiam dizer que MIAM estava apenas um pouco à frente de seu tempo. “Thirsty” provavelmente seria um sucesso no mundo do TikTok de hoje, enquanto “You Don’t Know What to Do” poderia ter dominado as pistas com alguns BPMs a mais (e um pouco menos de Wale). No geral, Me. I Am Mariah não é um álbum ruim, com a cantora se arriscando em vários gêneros e estilos. Mas, comparado à força dos outros trabalhos de Carey, este soa um pouco exagerado, superproduzido e disperso.
14º lugar: Rainbow (1999)
Quando Carey gravou Rainbow, em 1999, ela estava no fim de seu contrato com a gravadora Sony, do ex-marido Tommy Mottola, e ansiosa para se libertar de vez de suas restrições. Rainbow marcou o último álbum de estúdio que ela devia à Sony, e a cantora gravou tudo em menos de três meses. O resultado é uma mistura de faixas de R&B pouco marcantes e baladas açucaradas que acabam sendo apenas medianas. “Heartbreaker” (e o remix de Missy Elliott) continua sendo um de seus hits mais vibrantes, e “Can’t Take That Away (Mariah’s Theme)” é uma das melhores músicas de autoafirmação de seu repertório, mas o restante do disco soa inacabado.
13º lugar: Merry Christmas II You (2010)
Nada supera a euforia do primeiro álbum natalino de Carey, mas Merry Christmas II You merece ser tocado a cada temporada, nem que seja apenas pela festiva “Oh Santa!” e pela celestial “O Come All Ye Faithful (Hallelujah Chorus)”, em que Carey canta nota a nota com sua mãe, a cantora de ópera Patricia. É claro que é Carey quem dá a nota final (no famoso registro de apito), porque de que adianta ser a Rainha do Natal se você não senta no trono?
12º lugar: Emotions (1991)
Após o sucesso de seu álbum de estreia, Carey foi rapidamente levada de volta ao estúdio para manter o embalo criado por “Vision of Love” e os três singles seguintes que também chegaram ao topo das paradas. Felizmente, não houve “maldição do segundo disco”: Emotions rendeu à cantora seu quinto single consecutivo em primeiro lugar com a faixa-título, além de apresentar favoritos dos fãs como “Make It Happen” e “Can’t Let Go”. O álbum também trouxe uma parceria com Carole King na soulful “If It’s Over”, que poderia facilmente ser um lado B de “(You Make Me Feel Like a) Natural Woman”. Entre todos os lançamentos de Carey, Emotions é o que mais soa datado para sua época — o que não é necessariamente ruim, como comprovam as quatro milhões de cópias já distribuídas. Ainda assim, as músicas talvez sejam as mais marcadas pelo tempo em um catálogo repleto de hits duradouros.
11º lugar: Charmbracelet (2002)
Depois da polêmica em torno de Glitter (seu único álbum pela Virgin), Carey assinou com a Island Records e começou a trabalhar em Charmbracelet, planejado como seu grande retorno. O single de estreia, “Through the Rain”, era comovente, embora discreto, mas os lançamentos seguintes não emplacaram nas paradas. Críticos alegaram que Carey estava lutando para recuperar a forma, mas talvez as expectativas estivessem equivocadas. Embora seja verdade que a cantora tenha usado mais o famoso “whistle register” no álbum, faixas como “Lullaby” e “Irresistable” (com participação do Westside Connection) permitiram que sua voz sedosa flutuasse sobre batidas pesadas de hip-hop, resultanredo em algumas de suas colaborações mais refinadas no rap e hip-hop até hoje. Ice Cube e companhia não foram os únicos rappers convidados: Charmbracelet também contou com Cam’ron, Jay-Z e Freeway, além de Jadakiss e Busta Rhymes nas edições internacionais. A magistral “Clown”, por sua vez, mostra Carey indo com tudo em um “frail shook one” em uma faixa de resposta coberta de açúcar. Enquanto todos esperavam que o álbum de retorno de Carey fosse leve e radiante, a cantora entregou uma reviravolta inesperada.
10º lugar: Glitter (2001)
Deixe para os fãs de Carey – ou lambs, como se autodenominam – a tarefa de tirar um “grande peso” dos ombros da cantora. Carey já falou diversas vezes sobre como Glitter, lançado justamente em 11 de setembro de 2001, “quase arruinou minha vida”, com rumores de um suposto colapso e a baixa bilheteria do filme dominando as manchetes da época. Mas, em 2018, a lambily fez a hashtag #JusticeforGlitter bombar nas redes sociais, levando a trilha sonora de volta ao topo das paradas.
A campanha apenas destacou o que muitos fãs já sabiam: Glitter, na verdade, reúne alguns dos trabalhos mais inspirados da cantora em estúdio, misturando sintetizadores oitentistas e batidas de disco da época com o hip hop e o R&B contemporâneos de Carey. Nem todas as faixas são vencedoras — a colaboração com Mystikal, “Don’t Stop (Funkin’ 4 Jamaica)”, continua sendo um single de dar nó na cabeça —, mas a maioria funciona, se não para o rádio, pelo menos para a nostalgia. O grande destaque é a balada arrebatadora “Lead the Way”, que termina com um dos vocais mais complexos que Carey já tentou. A faixa inspirou até outra tendência: o “Lead the Way riff challenge”, que ainda hoje acumula visualizações e tentativas.
9º lugar: Mariah Carey (1990)
Poucos artistas causaram um impacto tão imediato na indústria musical quanto Carey quando lançou seu álbum de estreia autointitulado, em 1990. A cantora, de voz poderosa (e cabelos volumosos), tinha apenas 20 anos quando “Vision of Love” chegou ao topo das paradas, mas já demonstrava uma maturidade muito além da idade. Em sua autobiografia, The Meaning of Mariah Carey, ela revelou que escreveu muitas das músicas do disco de estreia ainda na adolescência.
Embora todo o álbum continue surpreendentemente atual, duas faixas se destacam: a comovente “Alone in Love”, que Carey compôs quando tinha apenas 15 anos, e a devastadora “Vanishing”, escrita poucos anos depois. “Reaching out into the distance, searching for spirits of the past, just a trace of your existence to grasp”, ela canta. “And if somehow I could recapture all of the memories and bring them to life, Lord knows I would.” Sensível e perspicaz, a canção — e o álbum — lançaram as bases para uma carreira repleta de melodias reveladoras e momentos inesquecíveis.
8º lugar: Music Box (1993)
Hoje coroada como realeza do R&B, Carey foi, em Music Box, a princesa do pop para o grande público, dominando as rádios com hit após hit, embalando casamentos, bailes de formatura e festas em geral. Music Box exibiu o poder da voz já inconfundível da cantora em baladas como a melancólica “All I’ve Ever Wanted” e no remix do C+C Music Factory para “Anytime You Need a Friend”. E há também “Hero”, que Carey originalmente escreveu para Gloria Estefan, mas acabou decidindo gravar e lançar ela mesma. Embora tivesse sido pensada para outra pessoa, a canção rapidamente se tornou seu hino definitivo, pelo qual milhões de fãs são eternamente gratos.
7º lugar: Merry Christmas (1994)
Sobrancelhas se ergueram quando Carey lançou seu primeiro álbum de Natal, em 1994. Por que uma artista no auge faria um disco natalino, algo geralmente reservado para veteranos no fim da carreira? É claro que, desde então, Carey deu a última risada: estima-se que o álbum lhe renda cerca de 3 milhões de dólares em royalties todos os anos. Mais importante ainda, o disco gerou um clássico moderno raro de Natal: “All I Want for Christmas Is You” é hoje uma das músicas natalinas mais populares de todos os tempos e consolidou a cantora não só como a Rainha do Natal, mas também como alguém que realmente leva alegria ao mundo.
6º lugar: Caution (2018)
Mais de três décadas após sua estreia, Carey surpreendeu a todos com um dos lançamentos mais ousados e criativos de sua carreira. Caution é ao mesmo tempo delicado, melancólico e irreverente, com a cantora explorando novos timbres e texturas em sua voz. A produção — comandada por hitmakers que vão de Mustard a Skrillex — é tão diversa quanto complexa, unindo sons e ritmos que surgem como um antídoto bem-vindo ao pop dançante 4/4 que dominava as paradas.
A faixa de abertura, “GTFO”, envolve um recado NSFW em um sample de Porter Robinson, enquanto a aprovada por Timothée Chalamet “Giving Me Life” traz Slick Rick e Blood Orange em um arranjo ao mesmo tempo luxuoso e lo-fi. Carey divide vocais com Gunna e flutua sobre uma batida trap suave em “Stay Long Love You”, enquanto a colaboração com Timbaland em “8th Grade” contrapõe a pegada relaxada do produtor a um toque de drama, enquanto Carey avisa a um pretendente: “I’m not your world [and] I’m not your life. Maybe the lyrics are too heavy in my song?”
Com voz e composição em plena forma, Caution mostrou a cantora em seu estado mais inspirado, servindo de exemplo do que o R&B contemporâneo pode — e deve — ser hoje.
5º lugar: Daydream (1995)
Daydream não é o álbum mais dinâmico do catálogo da superstar, mas, de muitas maneiras, é aquele com o qual os fãs de longa data mais se identificam. Todo mundo se lembra de onde estava quando ouviu “Fantasy” no rádio pela primeira vez ou quando chorou com o dueto com o Boyz II Men em “One Sweet Day”. A faixa produzida por Jermaine Dupri, “Always Be My Baby”, continua sendo um dos hits mais amados da cantora, enquanto a versão de Carey para “Open Arms”, do Journey, quase ofuscou a popularidade da original.
Ainda que o disco seja mais lembrado por seus singles número 1, é nas faixas menos conhecidas que Carey realmente brilha. “Underneath the Stars” é uma das músicas mais bonitas que ela já gravou, e “Melt Away” envolve o ouvinte com sua melodia hipnotizante e letra apaixonada. Já o encerramento do álbum, “Looking In”, mostra Carey em seu momento mais vulnerável — e mais confessional.
4º lugar: The Emancipation of Mimi (2005)
Hoje em dia, artistas têm sorte se conseguem viver uma era de um único grande hit, mas Carey teve uma carreira cheia deles. Após o desempenho abaixo do esperado de Glitter e Charmbracelet, a diva voltou com força total em The Emancipation of Mimi (2005). Da declaração confiante da faixa de abertura “It’s Like That” e da leve “Your Girl”, ao gospel “Fly Like a Bird” e à jazzística “Mine Again” (a melhor do disco, na nossa opinião), Mimi marcou o retorno d’A Voz e provou que não há melodia, gênero ou oitava que Carey não alcance.
Claro, a maior canção dessa fase é “We Belong Together”, que passou 14 semanas no topo da Billboard. Com sua melodia guiada pelo piano, letra sincera, batida no estilo 808 (e aquele refrão final), “We Belong Together” abraça o ouvinte como um caloroso e reconfortante afago. “Hero” pode ser o hino definitivo de Carey, mas “We Belong Together” é seu hit mais comovente. E se Butterfly é seu álbum de assinatura, considere Mimi um merecido bis.
3º lugar: Memoirs of An Imperfect Angel (2009)
O single principal “Obsessed” pode ter monopolizado as manchetes por suas letras afiadas (supostamente sobre Eminem) e pelo clipe (com Mariah vestida como alguém que lembra o rapper), mas a faixa é, na verdade, um ponto fora da curva no impecável lançamento de 2009. O pop midtempo contrasta com o restante da coletânea, guiada por hip-hop e R&B (sem contar a regravação de “I Want to Know What Love Is”, do Foreigner).
Canções como “Betcha Gon’ Know” e a subestimada “H.A.T.E.U” envolvem os vocais aveludados da cantora em batidas minimalistas, oferecendo uma audição surpreendentemente soul e, ousamos dizer, sutil. “It’s a Wrap” surfou em um sample de Barry White e em uma dança do TikTok para alcançar sucesso viral em 2024. E “Up Out My Face” trouxe Carey e Nicki Minaj em uma brincadeira de estúdio sobre uma batida inspirada em banda marcial, antes de elas brigarem (de verdade?) na TV alguns anos depois.
A cantora produziu Memoirs of an Imperfect Angel quase inteiramente com Tricky Stewart e The-Dream, dupla que conseguiu extrair nuances de sua performance que provam que Carey não precisa de grandiosidade para fazer sua voz ser ouvida. O resultado é um dos trabalhos mais interessantes e coesos de sua carreira — um álbum que pede para ser ouvido do início ao fim.
2º lugar: E=MC² (2008)
Embora muitos lembrem The Emancipation of Mimi como o álbum de retorno de Carey, é em sua sequência, E=MC², que a cantora realmente se solta. Se Mimi foi quem começou a festa, aqui ela soa como se estivesse se divertindo como nunca. O single “Touch My Body” é maroto e provocador, enquanto a animada “I’ll Be Lovin’ U Long Time” é perfeita para dias de praia e fogueiras. “For the Record” traz Carey fazendo referências espertas a títulos de músicas antigas, e no dueto com Damian Marley, “Cruise Control”, ela até se arrisca em um pouco de patuá jamaicano. Mantemos ainda a opinião de que a contagiante “Migrate” merecia ter sido single.
Claro, não é só diversão — “Side Effects”, com participação de Jeezy, é sombria e franca, com a cantora revelando detalhes de um casamento conturbado sobre uma batida áspera de Scott Storch. E a faixa de encerramento, “I Wish You Well”, é uma diss track afiada, arrematada por versículos bíblicos (algo que só MC faria). E é exatamente por isso que amamos esse álbum: para alguém que já falou tanto sobre suas inseguranças, Carey nunca soou tão despreocupada.
1º lugar: Butterfly (1997)
Todo artista tem sua obra-prima, e Butterfly é para Mariah Carey o que Lemonade é para Beyoncé e Purple Rain foi para Prince. Lançado em 1997, o álbum marcou um ponto de virada pessoal e profissional na carreira de Carey, já que a “borboleta” do título estava deixando seu casamento com Tommy Mottola enquanto mergulhava ainda mais no R&B e no hip hop que a tornariam seu cartão de visita.
Em seu livro de memórias de 2020, The Meaning of Mariah Carey, a cantora escreveu que Butterfly foi uma experiência libertadora. “As narrativas e as melodias vinham de um lugar mais novo [e] eu me sentia mais livre e menos apreensiva para abrir minhas asas criativas”, contou, acrescentando que finalmente “defendi o som que eu queria”.
O avanço criativo é evidente nas 12 faixas do disco, que gerou a irresistível “Honey” e também favoritas dos fãs como “The Roof”, “Breakdown” e “My All”. “Close My Eyes” é ao mesmo tempo devastadora e determinada, com Carey relembrando uma infância conturbada e admitindo que “talvez eu tenha crescido um pouco cedo demais”. Já “Outside” se tornou um farol para fãs mestiços em todo o mundo, que veem na cantora a prova de que o sucesso pode ser indiferente à cor da pele.
A faixa-título é uma balada arrebatadora sobre aprender a “abrir as asas e voar”. O detalhe: embora muitos tenham interpretado a letra como um ato de autodeterminação, Carey contou à Rolling Stone em 2022 que a escreveu inicialmente do ponto de vista do ex-marido Mottola. “Se você ouvir a letra de ‘Butterfly’”, disse ela, “é como se eu sempre esperasse que Tommy dissesse isso para mim. Como se fosse, sabe: ‘Aqui está tudo o que você precisa fazer, e tudo vai ficar bem.’”
Claro, como a própria Carey admite, “já era tarde demais para isso”, e embora seu amor pelo álbum Butterfly nunca tenha diminuído, talvez sua perspectiva sobre a canção tenha mudado. Se em trabalhos anteriores ela se equilibrava entre expectativas e desejos, amor e perda — e, sim, até entre gêneros musicais —, Butterfly provou ao mundo que a voz singular de Carey podia ter força e comando por conta própria. E só por conta própria.
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