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Tom Petty se desculpa por uso de bandeira associada ao racismo

Flâmula utilizada pelos confederados na Guerra Civil dos Estados Unidos está presente até hoje em alguns lugares, gerando polêmica

Rolling Stone EUA Publicado em 19/07/2015, às 12h23

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Tom Petty - Wade Payne/AP
Tom Petty - Wade Payne/AP

É fruto de discussão, hoje, nos Estados Unidos, o caráter de uma bandeira que continua sendo utilizada por alguns estados do país. Trata-se da bandeira dos confederados. Vermelha, com duas faixas azuis estreladas se cruzando no meio, a flâmula em questão representa o sul dos EUA, derrotado pelo norte – os Ianques – na Guerra Civil, no século 19.

Edição 92: Tom Petty olha para o passado para voltar às raízes roqueiras em novo disco.

O argumento de que esse seria o símbolo da herança dos envolvidos e derrotados no conflitos poderia ser válido se não fosse por um motivo importante: o sul dos Estados Unidos defendia a escravidão dos negros e a imagem em questão é, ainda, sinônimo de racismo.

Relembre como foi o último show de Tom Petty com o baterista Stan Lynch.

Muitos músicos já utilizaram a bandeira no palco ou em capas de disco. O Lynyrd Skynyrd, ícone sulista, deixou de ostentá-la por um tempo. Tom Petty, nascido na Flórida, também na região confederada, se arrependeu amargamente de tê-la adotado durante um breve período da carreira. À Rolling Stone EUA, o veterano roqueiro se manifestou a respeito:

“A bandeira confederada foi o papel de parede do sul durante a minha infância em Gainesville, Flórida. Sempre soube que tinha a ver com a Guerra Civil, mas o sul adotou isso como seu logo. Eu fui muito ignorante a respeito do que isso realmente significava. Ela estava na frente dos prédios do governo e frequentemente eu a via em filmes de faroeste. Honestamente, não dei muita atenção, mas deveria ter dado.

Tom Petty divulga a inédita "Forgotten Man"; ouça.

Em 1985, lancei um álbum chamado Southern Accents [Sotaques Sulistas]. Começou como uma gravação conceitual sobre o sul, mas nos desviamos disso em parte do disco. Mas a bandeira confederada tornou-se parte do marketing da turnê. Foi sem dúvida uma coisa estúpida a se fazer.

Isso aconteceu porque havia uma música no álbum chamada 'Rebels'. Ela era contada do ponto de vista do personagem, que falava das tradições que foram passadas de família a família por tanto tempo que ele quase se sente culpado pela guerra. Ele ainda culpa o norte pelo desconforto em sua vida, então, minha ideia era que a melhor forma de ilustrar esse personagem era usar a bandeira confederada.

Usei isso no palco durante aquela canção e me arrependi bem rápido. Quando saímos em turnê, dois anos depois, percebi que as pessoas na plateia usavam a bandeira como bandana e coisas do tipo. Uma noite, alguém jogou uma delas no palco. Parei tudo e fiz um discurso sobre o assunto. 'Vejam, isso era para ilustrar um personagem. Isso não é o que nós somos. Sendo assim, eu preferiria que ninguém jamais trouxesse a bandeira confederada para os nossos shows de novo'.

As reações foram variadas. Houve algumas vaias e alguns aplausos. Mas, honestamente, foi incrível para mim porque eu nunca mais vi nenhuma bandeira depois daquele discurso. Felizmente, aquilo passou, mas me deixou me sentindo estúpido. Essa é a palavra que eu posso usar, se eu tivesse sido observado um pouco mais o que estava acontecendo em volta de mim, isso não teria acontecido. Nós também fizemos um disco ao vivo [Pack Up The Plantation: Live!] e havia uma imagem nossa tocando em frente a uma bandeira. Eu fiz com que a imagem fosse removida. Demorei, mas consegui que fosse removida. Ainda me sinto mal por isso. Sempre me arrependi. Nunca faria algo para machucar alguém.

Aquela bandeira não deveria nos representar de forma alguma. A guerra acabou. Sabe, é um pouco irônico: é a única vez, pelo menos que eu saiba, que derrotamos um país na guerra e hasteamos a bandeira desse país. Mas os norte-americanos estavam dos dois lados da questão. Tenho certeza de que algumas pessoas ainda carregam isso para a cova.

Aquele orgulho sulista é transferido de geração para geração. Tenho certeza de que aqueles que aplaudem a bandeira não querem ser racistas. Mas eu tenho que dar a essas pessoas, como eu dei a mim, um carimbo de estupidez. Pensando um pouco além, há uma conotação ruim nisso. A bandeira pode estar em jogos de futebol americano ou qualquer coisa, mas também está em comícios da Ku Klux Klan. Sendo assim, ela não pertence de forma alguma aos Estados Unidos.

Até hoje eu tenho carinho pelo sul de diversas formas. Existe gente maravilhosa por lá. Existe gente ainda afetada pelo que seus parentes lhes ensinaram. Não é necessariamente racismo. Eles apenas não gostam dos Ianques. Não gostam do norte. Mas quando tremulam a bandeira, eles não estão parando para pensar no que isso representa para uma pessoa negra. É simplesmente terrível, é a mesma forma como um judeu enxerga uma suástica. Aquilo simplesmente não deveria estar hasteado.”