A narrativa é pontuada por clichês e o roteiro, cheio de furos, não tem um único momento de humor
Uma das mais conhecidas personagens do universo dos videogames, a intrépida aventureira Lara Croft foi um das poucas figuras deste meio que conseguiu fazer uma bem-sucedida transição para a tela grande, muito em função da atuação de Angelina Jolie, que a interpretou em Lara Croft: Tomb Raider (2001) e em Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida (2003). Estas produções não eram obras-prima, mas pelo menos se mostraram divertidas e eficientes. Depois dos dois filmes de sucesso, Angelina não quis mais continuar na franquia. Depois disso, ao longo dos anos, a Lara do jogo também foi ficando diferente, tanto nos aspectos físicos quanto no comportamento. Tomb Raider: A Origem, que chega aos cinemas nesta quinta, 15, é baseado nessas mudanças.
A premissa do reboot é o desaparecimento do Lord Richard Croft (Dominic West), pai de Lara. Ele é uma mistura de empresário milionário com explorador místico, e teria ido até uma perigosa ilha perto do Japão para investigar o que restou de Himiko, uma deusa ancestral capaz de destruir a humanidade. Desde então, sumiu. Lara (Alicia Vikander) mora na Inglaterra, onde pedala e ganha a vida como entregadora de comida indiana. Ela gosta de praticar artes marciais, mas não tem dinheiro nem para pagar as aulas. Apesar de viver uma vida bastante simples, ela se recusa aa assinar um documento atestando a morte do pai, mesmo que isso fosse dar a ela acesso aos milhões que ele deixou. Tudo muda quando ela passa a sofrer pressão de Ana Miller (Kristin Scott Thomas), curadora dos negócios dos Croft. Quando está prestes a ceder e colocar a assinatura no fatídico documento, Lara decifra um enigma e percebe que pode descobrir o paradeiro do pai. Sem pensar muito, embarca em uma aventura e, com a ajuda de Lu Ren (Daniel Wu), vai se defrontar com o sanguinário mercenário Mathias Vogel (Walton Goggins), u, sujeito que também está atrás do espólio de Himiko e pode ou não saber o que realmente aconteceu com o velho Croft.
Somente os pouco exigentes irão tolerar o longa dirigido por Roar Uthaug, e ainda assim, tendo em mente que não passa de diversão rasa. Previsível, sem nuances, o filme reprisa os defeitos das produções com Angelina Jolie, mas não tem o divertido jeito camp e a ação vertiginosa daquelas produções de cerca de 15 anos atrás. A narrativa é pontuada por clichês, com absolutamente tudo o que se viu em imitações sem-vergonha da saga de Indiana Jones. O roteiro, cheio de furos, não tem um único momento de humor.
Alicia Vikander, que em 2015 ganhou um Oscar de melhor atriz coadjuvante por A Garota Dinamarquesa, não convence como Lara, que deveria ser uma heroína durona e cheia de recursos. Ela está alinhada como uma Lara “mais humana”, menos musculosa e sexualizada, como aparece nas novas versões do videogame. Alicia é uma atriz versátil, mas ela aparenta detestar cada momento que tem que se embrenhar pela selva ou ficar pendurada no cipó. E quando começa a disparar flechas, se assemelha a um clone de Jennifer Lawrence na franquia Jogos Vorazes. Enfim, Tomb Raider: A Origemé para fãs. A personagem Lara Croft segue como um marcante ícone cultural, e merecia algo melhor.