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Ultrarrealismo de O Rei Leão prova que não deveríamos mexer nas nossas memórias [OPINIÃO]

Novo filme da Disney mexe com a memória afetiva, mas o resultado é o contrário do esperado

Pedro Antunes Publicado em 21/07/2019, às 12h00

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Simba, na nova versão de O Rei Leão (Foto: Divulgação)
Simba, na nova versão de O Rei Leão (Foto: Divulgação)

Você sabe de qual cena vou falar. Aquela que mais importa em O Rei Leão, aquela que uma geração inteira passou a perceber que nossos pais não são imortais ou eternos. Quando Scar crava as suas gatas nas patas do seu irmão o rei, o leão Mufasa. Existia tanto sentimento ali, quando o jovem Simba testemunhava a morte do seu pai.

Era a versão original de O Rei Leão, exibida no cinema em 1994. Tinha 8 anos e meu pai era o meu super-herói. Chorei, desolado, a morte de Mufasa - e sequer sei quantas vezes assisti ao filme no cinema.

Corta para 2019, exibição para a imprensa de O Rei Leão, a nova versão da animação, ultrarrealista. A mesma cena. A reação foi outra. Criou-se um dramalhão com a câmera distanciando-se de Simba, como era a versão original. O impacto foi completamente diferente. Por quê?

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Algumas razões. A primeira, mais óbvia, é porque já sabíamos que Musafa morreria ao pedir ajuda para o irmão Scar. Era necessário para que Simba se exilasse, conhecesse Timão e Pumba e vivesse a sua jornada.

Sem a surpresa da morte, a cena perde impacto, é verdade, mas o grande problema da nova versão de O Rei Leão é que alguns clássicos não deveriam ser retocados. Via de regra, nenhum deveria.

A linguagem da versão de 1994 não está tão defasada a ponto de ser necessário um remake. Aliás, a animação tradicional é muito mais agradável aos olhos do que essa versão muito realista.

É mais perturbador do que interessante ver um leão que parece real a mexer a boca e falar como um humano, acredite em mim. E isso se espalha pela nova versão de O Rei Leão como uma doença incurável, como toda a praga espalhada por Scar no reino de Mufasa após a morte do irmão.

Sem os traços humanizados a animação de 1994, os animais de O Rei Leão parecem vir de uma montagem de imagens gravadas pelo National Geographic e dubladas por humoristas iguais àqueles tantos que encontramos na internet.

A dublagem nova (na versão em inglês) está ótima, é verdade. Beyoncé é impactante como Nala, Donald Glover traz carisma ao Simba, o ótimo Seth Rogen faz um trabalho divertidíssimo como Pumba e Billy Eichner dá uma nova personalidade à Timão. Existe, portanto, esse acerto, mas ele não garante a preferência pela nova versão.

As maiores questões de O Rei Leão eram a perda de Mufasa, a culpa sentida por Simba, a lição sobre o ciclo da vida e o entendimento de assumir quem somos. Era uma jornada linda de autoconhecimento, de descoberta da vida adulta.

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Existe uma metáfora importante para qualquer um aqui, embora ela, sozinha, não justifique a existência de um novo filme para além da ideia de que as cifras inevitáveis que virão de bilheteria sejam atrativas demais para serem ignoradas.

Era um bom negócio relançar O Rei Leão nessa nova versão. O dinheiro fluiria para os cofres da Disney de forma garantida, não seria necessário fazer transformações no roteiro ou coisa do tipo. Uma nova trilha sonora acrescentaria novos milhões à conta da empresa e o custo era baixo. Tudo bem, é fácil entender os motivos para o filme ser refeito, nenhum outro que não seja o financeiro, contudo, se justifica de fato.

Mas o grande problema é voltar a assistir ao longa da Disney, de novo no cinema, 25 anos depois. E encarar o fato de que não temos mais a inocência de 1994. E, mais terrível, eventualmente, percebemos que nossos pais não são super-heróis, são tão falhos quanto nós hoje em dia, em pleno 2019. Ver isso em alta definição só piora as coisas.

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