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Exclusivo: uma prévia faixa a faixa do disco The Next Day, de David Bowie

O produtor Tony Visconti diz que Bowie pode fazer um único show para comemorar o novo disco

ANDY GREENE / TRADUÇÃO: LIGIA FONSECA Publicado em 15/01/2013, às 18h42 - Atualizado às 19h10

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David Bowie - AP
David Bowie - AP

Tony Visconti produz os álbuns de David Bowie desde Space Oddity (1969). Eles trabalharam juntos em muitos dos maiores sucessos de Bowie, incluindo Heroes, Young Americans e Scary Monsters. Depois de uma longa pausa, uniram forças novamente no início da década passada para Heathen e Reality. Há dois anos, Visconti começou a trabalhar com Bowie em seu ansiosamente aguardado novo álbum, The Next Day.

Dez faces de David Bowie, o Camaleão do Rock.

A Rolling Stone conversou com Visconti sobre as sessões secretas da dupla, como a história medieval inglesa inspirou algumas das músicas e por que é improvável que Bowie faça uma turnê – embora ainda haja a possibilidade de um único show. Como o produtor observou, seu outro colaborador de longa data, Morrissey, tem um plano oposto... mas ele falará disso mais adiante.

Houve algum momento nos últimos anos em que você pensou que Bowie nunca mais gravaria novamente?

Fiquei um pouco assustado depois que ele teve o problema no coração. David também ficou assustado. Não conversamos por um ano depois daquilo. Ele simplesmente estava se recuperando e não falava com ninguém, mas fui uma das primeiras pessoas para quem ele enviou um e-mail, e ficamos em contato constante desde então. Só que ele falou sobre música somente há dois anos, então nunca me disse que tinha se aposentado, e toda vez que o encontrava, parecia estar com a saúde muito boa.

Vários boatos sobre a saúde dele começaram a circular. Toda vez que almoçava, ou tomava um café com ele, olhava para meu velho amigo, que estava com uma aparência ótima. Só que a música não o interessava até dois anos atrás, e foi aí que ele me telefonou. David disse: “O que acha de fazermos algumas demos?" Fiquei um pouco chocado, para ser sincero – foi tão casual. Foi simplesmente o tópico seguinte na discussão.

Como o processo começou?

Eu estava trabalhando em outro projeto em Londres, e ele não sabia disso. Falou: “Bom, quando você volta?” Respondi: “Daqui a alguns dias”. Na manhã seguinte ao meu retorno, estava no estúdio com ele tocando baixo. Eram Sterling Campbell na bateria, Gerry Leonard na guitarra e David nos teclados. Ficamos neste pequeno estúdio no East Village [em Nova York] fazendo demos por uma semana. Fiquei me beliscando, não podia acreditar que aquilo realmente estivesse acontecendo. Do nada para esta gravação de demos.

Ele tinha músicas compostas a esta altura?

Sim, ele as compôs em casa. Tinha um gravador digital de oito ou 16 faixas. Elas estavam bem redondas. David teve boas ideias para linhas de baixo e padrões de bateria. Rapidamente pensamos nos acordes e os escrevemos no papel. Gerry Leonard e eu lemos a folha de acordes. A sala tinha cerca de 2,5 m por 2,5 m, incluindo a bateria. Estávamos amontoados, sem fôlego depois de uma hora ou duas.

O que despertou tudo isso? Ele estava parado há tantos anos...

David simplesmente disse: "Estou com vontade de compor novamente”. Não sei quanto tempo antes começou a escrever, ele simplesmente apareceu com oito músicas.


Quantos dias vocês passaram fazendo demos no estúdio no East Village?

Passamos cinco dias e só gravamos alguma coisa no último dia. Ficávamos escrevendo notas. No quinto dia, foi difícil lembrar o que fizemos no primeiro, mas acabamos conseguindo. Então, ele desapareceu por quatro meses e disse: “Vou começar a compor agora”. David escreveu mais músicas e as elaborou ainda mais, veio com letras e melodias, que não tinha no começo. Só que isso é típico de todo álbum em que comecei a trabalhar com ele. Scary Monsters, todo disco começava com talvez uma música pronta e dez ideias, então é normal.

O que aconteceu depois?

Em abril de 2011, entramos em um estúdio no centro de Nova York. Só trabalhamos por períodos de duas semanas. Tirávamos até dois meses de folga depois de cada período e ele escrevia mais coisas. Eu escutava e tinha algumas ideias, nos comunicávamos constantemente. Então, isso foi cerca de 18 meses atrás. Se você somar todas as semanas no estúdio, provavelmente passamos três meses e meio, na verdade.

Você disse que o primeiro single, "Where Are We Now?" (ouça abaixo), não é como as outras músicas no álbum. Elas também fazem uma retrospectiva da vida de Bowie?

Na verdade, não – só essa. É realmente a única desse tipo. Todas as outras faixas no álbum são uma espécie de observação. Ele escreve na terceira pessoa. Algumas delas pertencem à sua vida, mas outras são coisas como um comentário social. David estava lendo muitos livros sobre história medieval inglesa e compôs uma música sobre história medieval inglesa. É a faixa-título, "The Next Day". É sobre alguém que era um tirano, muito insignificante; eu nem sabia de quem ele estava falando, mas, se você ler a letra, é uma história bem horrível.

Você disse que há cinco rock músicas de rock no álbum.

Sim. "The Next Day" é bem rock. O mesmo acontece com "The Stars (Are Out Tonight)" – é bem roqueira também.

As faixas não-rock são mais suaves? Qual é o clima?

São músicas mais funk, em mid-tempo. Muito evocativas. "Dirty Boys", a segunda faixa, é muito vulgar.

Em que sentido?

É obscura e sexy. Há um solo de sax fantástico. Sabe, David toca sax barítono, mas convidou seu amigo Steve Elson para tocar o instrumento neste álbum. Acho que Steve estava na banda do Saturday Night Live. É um cara baixinho, tem um sax barítono enorme e toca um solo sujo nesta faixa que parece música de strippers dos anos 50. Bem à moda antiga... não ficaria deslocada em Young Americans.

Conte sobre "Dancing Out in Space".

É uma faixa bem rápida. Tem uma batida Motown, mas o restante dela é completamente psicodélico. Tem uma vibração muito flutuante. Usamos um cara chamado David Torn, que toca guitarra; ele vem com um monte de equipamentos com os quais cria essas paisagens aurais, e as usa em um contexto de rock com todo esse som ambiente. É louco, um som completamente louco nesta faixa.

E quanto a "Boss of Me"?

É uma das mais lentas, funk. É bem sólida. Há um pouco de Young Americans ali, mas realmente não é... É um novo tipo de direção para ele, melodicamente. A faixa não soa como um Bowie típico, mas é muito boa.


OK. Fale sobre "Heat".

Bom, ela encerra o álbum e é muito dramática. Não tenho muita certeza sobre o que ele canta nela, mas é uma balada clássica do Bowie. Ele canta com a voz mais bonita, uma voz muito profunda, muito sonora, e não posso revelar muito sobre a faixa porque, sinceramente, não sei exatamente do que trata, se é sobre estar em uma prisão real ou ficar preso em sua mente. Novamente, com certeza não é sobre ele – está cantando como a voz de alguém.

Conte sobre "I'd Rather Be High".

Há algumas músicas sobre guerras mundiais, sobre soldados. Uma delas é "How Does the Grass Grow", sobre a maneira como soldados são treinados para matar outros soldados, como têm de fazer isso tão impiedosamente. "How Does the Grass Grow" é parte de um cântico que aprendem enquanto golpeiam um boneco com suas baionetas. "I'd Rather Be High" é sobre um soldado que saiu da guerra, está esgotado e, em vez de se tornar um ser humano novamente, acho que lamenta "I'd rather be high/ I don't want to know/ I'm trying to erase these thoughts from my mind" [Preferia estar chapado/Não quero saber/Estou tentando apagar esses pensamentos da cabeça].

Quem tocou no álbum?

Tivemos dois bateristas. O principal foi Zachary Alford, e Sterling Campbell também tocou em várias faixas. Foi uma pena – Sterling estava nas sessões de demo no começo, mas não sabia quando o álbum começaria e já tinha se comprometido com uma turnê com o B-52s. Chamamos Zach para substituí-lo e ele foi incrível no álbum. Só que Sterling também está presente, em músicas como "Valentine's Day" e "(You Will) Set the World on Fire", que é outra faixa quente, outro grande rock no disco.

O baixo foi predominantemente de Gail Ann Dorsey e ela tocou fenomenalmente bem no álbum, além de fazer alguns vocais de apoio com David. O outro baixista, que tocou em quatro ou cinco faixas, foi Tony Levin. As guitarras são de Gerry Leonard, que tocou em Heathen e Reality e é o diretor musical de Bowie. David Torn na outra guitarra de base. E também conseguimos que Earl Slick fizesse alguns solos fantásticos e tocasse guitarra pesada em algumas faixas. Toquei baixo em duas músicas do álbum, e é isso. David tocou teclado e violão, e também um pouco de guitarra.

Foi difícil manter isso em segredo?

Foi muito fácil manter segredo porque somos muito leais a ele. Eu o conheço há 45 anos e todos na banda o conheciam há mais de 10 anos. Amamos o cara. Ele disse: “Guardem segredo e não contem para ninguém, nem para seu melhor amigo”. Perguntei: “Posso contar para a minha namorada?” Ele respondeu: “Pode, mas ela não pode contar para ninguém”. Então, todos tinham de explicar por que estavam saindo para trabalhar de manhã, onde estavam indo e com quem estavam gravando. O grande negócio foi não contar nem para o melhor amigo. Os fãs de Bowie são imprevisíveis – se tivessem ouvido uma notícia dessas, o disfarce teria sido descoberto há anos. Uma pessoa vazou informações, mas ninguém acreditou nela...

Quem?

Robert Fripp! Ele foi convidado para tocar no álbum, não quis e, depois, escreveu em seu blog que tinha sido convidado. Só que ninguém acreditou muito nele. Foi um pouco agitado por alguns dias, mas todos disseram: “Como pode ser verdade? Ninguém mais falou disso”.

A grande pergunta: você acha que Bowie fará uma turnê?

Ele diz que só vai tocar se tiver vontade, mas nada de turnê. Se ele quiser fazer um único show em Nova York ou, não sei, Londres, só fará se tiver vontade, e deixou bem claro para a gravadora que não faria nenhuma turnê ou qualquer tipo de promoção ridiculamente longa do álbum. Foi ideia dele lançar a faixa à meia-noite do dia do seu aniversário e deixar as coisas rolarem.


Você realmente acha possível que ele só faça um show?

É possível, se ele tiver vontade. Falei com David há dois dias e ele disse: “Estou realmente decidido a não fazer uma turnê”, e acrescentou “talvez, talvez faça um show”, mas ninguém sabe quando.

A capa do álbum é um tanto intrigante...

Acabei de receber. Não tinha certeza de que era a capa.

É de verdade.

Achei que algum fã tinha feito uma capa de brincadeira.

Também achei, mas é verdadeira.

[Risos]

Alguma opinião?

Achei ótima! Tem um bom espaço para ele dar um autógrafo no meio.

Você acha que trabalhará com Morrissey novamente?

Espero que sim. Vou vê-lo sexta à noite no Brooklyn. Trocamos muitos e-mails, conversamos muito. Ele reluta bastante em fazer negócios com alguém, porque hoje em dia, o problema é quando uma gravadora o contrata – agora ele está sem gravadora –, então se assino um novo contrato com uma gravadora, ele tem de assinar um contrato de 360 graus. Elas querem uma parte de tudo. Se você escreve um livro, uma música, se aparece em um filme, elas querem uma fatia do que você recebe por tudo isso. Esse é o acordo que as grandes gravadoras oferecem agora, porque as vendas estão muito baixas e elas têm de ganhar dinheiro de alguma forma. Ele é totalmente contra isso. É da velha guarda. Na verdade, não o culpo.

Ele poderia fazer como o Radiohead e disponibilizar online por uma taxa.

Eu sei disso. Ele também é da velha guarda sobre pagar do próprio bolso. Tradicionalmente, a gravadora tem de pagar por ele. Entendo isso, e há um velho ditado no show business que diz que você nunca investe o próprio dinheiro em um show. Isso também meio que vale para gravar, até certo ponto, mas essa atitude mudou.

Ele também poderia assinar com uma gravadora indie que não o obrigaria a ter um contrato 360 graus... No entanto, além disso, ele tem fãs suficientes para se dar muito bem cobrando US$ 10 por um álbum online.

É, ele conseguiria o dinheiro de volta, sim. Está tocando as músicas novas nos shows, as pessoas as gravam com os celulares toda noite, e são músicas maravilhosas.