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Vento Festival 2016: samba-funk cadenciado de Bruno Morais encerrou a maratona de shows em Ilhabela

Dom Pescoço e O Grande Grupo Viajante também se apresentaram no domingo, 12, último dia de evento

Gabriel Nunes, de Ilhabela Publicado em 13/06/2016, às 17h26 - Atualizado às 21h25

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O cantor e compositor Bruno Morais encerrou a segunda edição do Vento Festival, no último domingo, 12 - Divulgação/Vento Festival
O cantor e compositor Bruno Morais encerrou a segunda edição do Vento Festival, no último domingo, 12 - Divulgação/Vento Festival

No último domingo, 12, chegou ao fim a segunda edição do Vento Festival. Contemplando expoentes da nova música popular brasileira, o evento levou ao litoral norte de São Paulo, em Ilhabela, gente como Mahmundi, Liniker, Filipe Catto, Karina Buhr e Johnny Hooker, em apresentações gratuitas e democráticas.

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O encerramento do quarto dia ininterrupto de shows ficou a cargo do londrinense Bruno Morais. O músico revisitou canções e ainda promoveu um “beijaço” sobre as areias da Praia do Perequê como uma homenagem ao dia dos namorados.

Com um line-up mais enxuto que nos três dias anteriores – e constituído basicamente por bandas de carreiras artísticas em processo de lapidação e consolidação –, também subiram ao palco principal Dom Pescoço e O Grande Grupo Viajante.

Samba psicodélico

O quinteto de São José Dom Pescoço abriu, com cerca de quarenta minutos de atraso, o último dia de shows do festival. Começando mais cedo, as atrações tiveram início às 16h30, sob o intenso lusco-fusco que se projetava nas águas do canal São Sebastião.

Após um rápido improviso, o grupo conciliou a harmonia ritmada do samba às batidas ácidas do reggae – com linhas de baixo bem demarcadas, vocais em sintonia e uma guitarra rasgada e reverberante – durante a canção “Não Vou Mais”.

“Eu quero ver todo mundo com areia até o pescoço de tanto sambar!”, gritou o baterista por trás dos grandes óculos escuros, convidando a plateia a se esbaldar com o samba psicodélico de “Não Quem”. Entre caras e bocas, o despachado guitarrista demonstrou excelente técnica musical, destilando ágeis solos performáticos em uma Les Paul preta.

Também não faltaram protestos durante a apresentação do quinteto. Aos gritos de “Fora Temer!”, o baterista fez ainda uma espécie de monólogo em que demonstrou insatisfação com o cenário político atual: “Não é só fora Temer, não! Tem é que tirar todo mundo de lá. Tem que jogar uma bomba ali e matar todos!”, vociferou, ao que foi recebido com certo desconforto e estranheza pelos próprios companheiros de banda e por boa parte da plateia que assistia ao show.

Ocupar e resistir

Ao tocar pontualmente em temas como o assassinato de jovens negros nas periferias, racismo, opressão e desigualdade social, o Grande Grupo Viajante surgiu como a derradeira grande voz de resistência e militância do último dia de festival. “Obrigado por estarem aqui conosco e não em casa assistindo ao [programa do] Faustão ou Fantástico”, provocou o vocalista e percussionista Bruno Trindade. “Fora Temer! Fora Cunha! Fora Alckmin! Fora Bolsonazi!”, continuou o músico.

Com uma apresentação fortemente politizada e atual, o grupo entoou canções como “O Mato”, em que dialoga com a questão da falta de moradia e de terras no Brasil. Na sequência, o lirismo cru e jornalístico da faixa “Revolução dos Anônimos” surgiu como um contraponto ao ritmo suingado e dançante da música, que remete ao funk e ao R&B da saudosa Motown.

“Essa é para a polícia, que mata cada vez mais jovens negros nas periferias!”, disse Trindade. “Daqui a pouco vão nos buscar dentro dos úteros de nossas mães!”, concluiu o discurso e deu início à jam “África”, em que até a tímida trompetista Larissa Oliveira se rendeu ao frenesi ritmado da percussão e arriscou sambar ao lado dos parceiros de banda. “Punhos cerrados contra o racismo, Ilhabela”, gritou Trindade com o braço em riste, incentivando a plateia a fazer o mesmo.

O grupo ainda executou uma espécie de balada psicodélica inspirada pela música klezmer judaica, para em seguida finalizar com o carimbó de “Toda Vez”, em que os músicos celebram e homenageiam o estado da Bahia.

Gritos e sussurros

“Tá frio, né? Vamos esquentar”, disse Bruno Morais depois de subir ao palco para encerrar os quatro dias de Vento Festival. Como que sussurrando ao microfone, o cantor paranaense intercalou antigas composições como a melancólica balada “Há de Ventar”, do disco A Vontade Superstar (2009), e a altamente cínica “O Mundo Vai me Convencer”, do EP de 2012 Lado A Lado B.

Perto do fim da apresentação, Morais incentivou um “beijaço” como uma forma de celebrar o dia dos namorados. “Você, que desde quinta-feira está paquerando aquela pessoa especial, mas não sabe como chegar nela, a hora é agora: vai ter beijaço, sim!”, disse o paranaense. Apesar do bom humor e da simpatia no tom de voz do músico, foram poucas as pessoas da plateia que levaram o pedido a sério. Alguns se entreolharam, tímidos e sem jeito, enquanto outros encaravam o palco aguardando o próximo movimento do cantor e compositor.

Além do vocal sussurrado e jazzístico de Morais, o trompete de Firmino Flugel – que demonstrou técnica e domínio impecável sobre o instrumento – marcou substancialmente a apresentação do londrinense. Ecoando pela Praia do Perequê, as notas escapavam vaporosas, como gritos distantes se contrapondo ao canto de sussurros contidos de Morais.