Adaptação do best-seller de Paulo Coelho é tão vazia quanto a personagem principal
Veronika, à primeira vista, tem sorte no jogo e no amor. Bom emprego. Está na flor da idade. É linda. Dona de um apartamento em Nova York que não é de se jogar fora. Mas o conto de fadas não passa disso mesmo: fantasia. Deprimida, a jovem descobre uma única receita capaz de preencher seu vazio: música do Radiohead na caixa de som, muitas pílulas e doses caprichadas de uísque.
Veronika Decide Morrer, primeiro livro de Paulo Coelho adaptado aos cinemas, começa com um fim. Frustrado, no caso, já que a personagem-título, interpretada por Sarah Michelle Gellar, acorda num hospício após tentativa fracassada de suicídio. Lá, recebe a notícia de que terá seu desejo atendido no final das contas: a overdose de remédios provocou um problema irreversível em seu coração, e a morte poderá vir em questão de dias.
Orçada em US$ 9 milhões, quantia modesta para o libera-geral hollywoodiano, a produção independente, com direção da inglesa Emily Young, estreia nesta sexta, 21. Sob cuidado do psiquiatra Dr. Blake (David Thewlis), a protagonista passa a primeira parte do filme jururu com a notícia de que irá morrer cedo ou tarde - por ela, caía fora do mundo imediatamente.
É claro que no decorrer dos 103 minutos de projeção Veronika descobrirá que, sim, a vida é bonita, é bonita e é bonita - é o tal do lema "viver e não ter a vergonha de ser feliz", que se agarra à autoajuda literária de Coelho como criança à barra da saia da mãe.
Dr. Blake, conhecido por "tratamentos pouco convencionais", sacará um punhado de frases de efeito para ajudá-la. O paciente Edward (Jonathan Tucker) precisará de menos: mistura de Tonho da Lua, o personagem de Marcos Frota na novela Mulheres de Areia, com um vampirinho qualquer de Crepúsculo, bastará esbugalhar os olhos azuis e destilar o charme antissocial para fazer Veronika desistir rapidinho de bater as botas antes do tempo. Em suma: como personagem, dá um ótimo pôster de revista teen.
Se há algum vazio no filme, ele está presente na direção de Young. A intenção era realizar um "filme de arte" e sem grandes arroubos melodramáticos. Mais honesto seria assumir o potencial pop do autor do best-seller, figura controversa no meio literário - cavalo campeão de vendas, pangaré entre críticos. No filme, restou a lenga-lenga da autoajuda, sintetizada na grande aposta medicinal de Blake: "a consciência da beleza da vida". Os que já faziam careta de quem comeu jiló à simples menção de Coelho vão querer distância do cinema. As pessoas que, por sua vez, se amarram em saber quem mexeu no queijo delas podem acabar entediadas com o filme.
Em O Desespero de Veronika Voss (1982), o alemão Rainer Werner Fassbinder entregou ao cinema uma Veronika que, assim como a xará do século 21, teria tudo para sair por aí dando pulinhos de alegria, com uma camiseta da "smiley face" - se a medida da felicidade pudesse ser calibrada apenas por status e bens materiais. A comparação é cruel. Enquanto a obra veterana preenche o vazio da personagem com conteúdo cinematográfico, Veronika Decide Morrer é oco como qualquer R$ 9,99 de autoajuda. Se você é fã de Paulo Coelho, melhor esperar pela adaptação de 11 Minutos, do palestino Hany Abu-Assad, com Alice Braga, Vincent Cassel e Mickey Rourke no elenco.