A lenda da Motown apareceu em todos os grandes hits do grupo, como “Where Did Our Love Go,” “Baby Love,” “Come See About Me,” e “Stop! In the Name of Love“
David Browne | Rolling Stone EUA. Tradução: Mariana Rodrigues | @marigues_ (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 11/02/2021, às 17h29
Mary Wilson, integrante das Supremes, faleceu na segunda-feira, 8, em sua casa em Las Vegas aos 76 anos. Seu assessor, Jay Schwartz, confirmou a morte da cantora para a Rolling Stone EUA, mas não revelou a causa. As Supremes originais - incluindo Diana Ross e Florence Ballard - foram um dos maiores sucessos da Motown, colocando 12 músicas como Número Um entre 1964 e 1969.
Com a calorosa mistura de Wilson com os vocais leves de Ross e a entrega corajosa de Ballard, hits como “Where Did Our Love Go,” “Baby Love,” “Come See About Me,” e “Stop! In the Name of Love” definiram o som da Motown e de uma década inteira. Com vestidos, perucas e requintados passos de dança, as Supremes também trouxeram elegância e sofisticação ao pop.
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Ross deixou as Supremes em 1970, mas Wilson continuou com outra versão da banda até 1977. Enquanto lutava para conseguir sucesso por conta própria, fez turnês regularmente e escreveu vários livros, incluindo o best-seller Dreamgirl: My Life as a Supreme (em tradução livre: Garota dos Sonhos: Minha Vida como uma Supreme) e, posteriormente, as avaliações sinceras das Supremes e a históra da Motown fizeram dela uma das suas performances mais perspicazes.
“Minhas condolências à família de Mary,” disse Ross em comunicado. “Cada dia é um presente. Tenho tantas memórias maravilhosas do nosso time. ‘As Supremes’ vão viver para sempre em nossos corações.”
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“Estou extremamente chocado e triste de ouvir sobre o falecimento de uma integrante importante da família Motown, Mary Wilson das Supremes,” fundador da Motown, Berry Gordy, disse em comunicado. “As Supremes sempre serão conhecidas como ‘o coração de Motown’. Mary, junto com Diana Ross e Florence Ballard, vieram para Motown no início dos anos 1960. Depois de uma sequência sem precedentes de hits em Número Um, reservas para a televisão e boates, abriram as portas para elas mesmas, outras atrações da Motown e muitos, muitos outros… Sempre estive orgulhoso de Mary, era uma grande estrela por si só e ao longo dos anos continuou trabalhando duro para impulsionar o legado das Supremes. Mary Wilson era extremamente especial para mim. Foi pioneira, diva e vai fazer muita falta.”
Nascida em Greenville, Mississippi, em 6 de março de 1955, Wilson se mudou com a família para St. Louis e depois para Chicago quando era jovem. Seu pai Sam, açougueiro, viveu uma vida errática, e Mary acabou vivendo em Detroit, criada por uma tia e um tio em meio às armadilhas da classe média. Eventualmente, sua mãe, conhecida como Johnnie Mae, retornou e a família se mudou para o Brewer-Douglass Projects em Detroit.
Mesmo com projetos desafiadores, esse cenário mudou a vida de Wilson. Aos 14, conheceu outras duas residentes - primeiro Ballard, com quem Wilson começou um grupo, e em seguida Ross. Junto com outra vizinha, Betty Travis, formaram as Primettes (em resposta aos Primes, um banda local só de homens, como Eddie Kendricks and Paul Williams, posteriormente os Temptations) e o quarteto começou a fazer performances locais.
Graças à amizade de Ross com Smokey Robinson, as Primettes conseguiram uma audição na Motown, na qual cantaram “There Goes My Baby” do Drifters para Gordy. Ele considerou assinar com as Primettes (incluindo Barbara Martin, substituta de Travis) na Motown, mas escolheu esperar até atingirem a maioridade. Em 1960, as Primettes tornaram-se o primeiro grupo feminino da Motown.
O nome não duraria muito; logo depois do primeiro single em 1961, “I Want a Guy,”Gordy as informou da necessidade de um novo nome e Ballard sugeriu “Supremes,” entre a lista de possibilidades. Os oito primeiros singles não foram bem nas paradas e, eventualmente, Martin saiu, transformando as Supremes em um trio. Finalmente, em 1964, “Where Did Our Love Go” estourou.
Desde os primeiros dias como Primettes, o grupo prestou atenção ao figurino e passos de dança, mas como Supremes, tornaram-se a atração mais glamourosa da Motown; também tornaram-se presença constante na televisão e nas paradas. Mais tarde, Wilson afirmou receber apenas US$ 5 mil das vendas das Supremes. Mas em 1966, os hits do grupo passaram a incluir “You Keep Me Hangin’ On,” “My World Is Empty Without You,” e “I Hear a Symphony.” Eram ricas e famosas, e Wilson comprou um duplex de 10 quartos em Detroit.
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Mas, como Wilson registraria posteriormente em sua biografia Dreamgirl: My Life as a Supreme, estava claro o fato de Gordy e Motown quererem “enfatizar o papel de Diana e diminuir o meu e de Flo.” Em 1967, mudaram o nome do grupo para Diana Ross and the Supremes. Na mesma época, Ballard foi substituída por Cindy Birdsong. Algumas músicas lançadas posteriormente, como “Love Child” e “Someday We’ll Be Together,” não incluíram Wilson.
Inevitavelmente, Ross deixou as Supremes, continuando apenas com Wilson, Birdsong e a nova integrante Jean Terrell. Ranquearam alguns singles por conta própria - “Sotoned Love” de 1970 foi um sucesso R&B a atingir o Número Um - mas nunca reproduziram a fama da época de Ross e acabaram se separando de vez em 1977. “Meu coração partiu,” disse Wilson em 1990. “A maior parte da minha vida acabara.” A cantora lançou um disco homônimo em 1979, mas logo em seguida se separou da Motown.
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Em 1983, as Supremes originais se reuniram para o especial da TV “Motown 25”, sendo o único reencontro do grupo. Três anos depois, Wilson explorou sua vida no best-seller Dreamgirl. (O título foi uma referência ao show da Broadway, baseado na vida da banda, o qual Wilson chamou de “morto.”) “Em retrospecto,” escreveu sobre a saída de Ross, “dava para ver o fato dela ter um plano,” e Ross “tinha Berry e nunca hesitou em colocar isso na cabeça de quem cruzasse seu caminho.”
O livro e sua sequência, Supreme Faith: Someday We’ll Be Together (em tradução livre: Fé Suprema: Um Dia Estaremos Juntas), firmou o lugar de Wilson na história, mas encontrar sua voz como artista solo foi algo difícil. Fez turnês frequentemente como atração de abertura para comediantes como Joan Rivers e Howie Mandel, e seu álbum solo de 1992 não vendeu bem após sua gravadora falir.
Nos anos 2000, uma tentativa de reunião das Supremes fracassou por conta do orçamento; Wilson pagaria apenas US$ 2 milhões, muito menos do valor dos honorários de Ross, quem acabou fazendo a turnê Return to Love com as duas integrantes posteriores das Supremes.
“Mary Wilson tinha um espírito forte e lindo,” disse a atriz Anika Noni Rose, cuja personagem no filme Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho foi inspirada em Wilson. “Conheci ela no Fairmont em São Francisco quandome apresentava lá. Fiquei surpresa quando ela soube exatamente quem eu era, e foi tão calorosa e gentil; não apenas comigo, mas com a minha mãe Wilson era ícone dela. Eu estava empolgada, minha mãe estava surpresa e a Sra. Wilson foi a definição da graça e acolhimento. Era uma mulher feita de força e coisas fortes. Uma sobrevivente de diversas tempestades. Realmente fará falta.”
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Anos depois, Wilson pegou a estrada com seu próprio show, às vezes chamado de The Supremes Starring Mary Wilson (em tradução livre: As Supremes estrelando Mary Wilson). Também era ativista, envolvida na luta contra o uso enganoso de nomes de bandas (após as integrantes das Supremes fazerem turnê com aquele nome), e ajudou a fazer pressão para o Music Modernization Act, facilitando o pagamento de criadores de músicas quando suas produções são reproduzidas na internet.
Em 2015, lançou um single solo inspirado em EDM, “Time to Move On,” e permaneceu em alta até 2019, aparecendo em Dancing With the Stars e publicando seu quarto livro, Supreme Glamour (em tradução livre: Glamour Supremo), focando nos figurinos do grupo.
De acordo com a Variety, Wilson lançou um vídeo em seu canal no YouTube dois dias antes da morte, anunciando seu trabalho com a Universal Music para lançar material solo, incluindo seu disco não lançado Red Hot gravado nos anos 1970 com o produtor do Elton John, Gus Dudgeon. “Provavelmente, uma parte disso estará disponível no meu aniversário, em 6 de março,” disse no vídeo.
De acordo com Schwartz, o funeral será particular por conta das restrições e protocolos do Covid-19, mas haverá um memorial público ainda este ano. “A maioria das pessoas me conhece como backing vocal, apenas oohs e aah,” Wilson disse nos anos 2000, “mas antes de saírem do meu show, escutam uma voz. Tenho uma voz muito calorosa e gostosa. Quero que as pessoas saiam sabendo: 'Uau, não havia apenas uma garota nas Supremes. Talvez haviam três.’”
+++ PAI EM DOBRO | ENTREVISTA | ROLLING STONE BRASIL