Heath Ledger rouba a cena na pele do vilão Coringa
A morte de Heath Ledger no começo do ano colocou os olhos do público que esperava ansiosamente o lançamento de Batman: O Cavaleiro das Trevas sobre o vilão Coringa, último trabalho do ator australiano. O personagem, também a peça principal da campanha de divulgação do sucessor de Batman Begins, rouba a cena em todo o longa e se torna o vilão supremo de toda a franquia do Homem-Morcego.
Apresentado logo na primeira cena do filme, em um assalto a um banco que abastece a máfia, o Coringa é um agente do caos tomado pela racionalidade. Seus esquemas são tramados perfeitamente - e funcionam apenas porque são executados por um sádico que comete crimes pelo prazer de ver o sofrimento das pessoas e o enlouquecimento de toda uma cidade. Lutar com o Batman é apenas uma de suas diversões.
Apresentado o personagem que dá a linha para toda a produção, que tem o Morcego como um herói coadjuvante, as próximas duas horas e meia de filme mostrarão ao espectador a cruzada incessante de um promotor de justiça contra o crime, a queda deste cavaleiro nas mãos do Palhaço do Crime e a evolução de toda a polícia de Gotham na luta contra a vilania que domina a cidade.
O promotor, Harvey Dent (Aaron Eckhart), está vencendo a guerra contra o crime nos tribunais, e, embora seus atos chamem a atenção e ganhem o apoio do milionário Bruce Wayne (o alter-ego de Batman mais uma vez interpretado por Christian Bale), a máfia não quer que a cruzada de Dent tenha sucesso. É esta guerra de pessoas comuns que coloca o Coringa no centro das atenções.
Wayne continua fingindo que é um playboy sem preocupações durante o dia, andando com mulheres lindas, dormindo em reuniões de sua empresa, e inclusive levando toda uma companhia teatral para um passeio de barco por Hong Kong, mas segue caçando vilões à noite como o Batman. Neste filme, o herói está cansado de lutar de máscara pelos becos de Gotham. Seu maior anseio é passar o manto de protetor da cidade a Dent, mas o Coringa muda a equação. Colocado contra a parede pelo Coringa, o Morcego precisa entender a cabeça deste um psicopata e diferenciá-lo de um criminoso comum para ter sucesso em sua luta.
Enquanto a ação se desenvolve neste triângulo central, que a partir da segunda metade do filme ainda ganha um tempero, o vilão Duas-Caras (também Eckhart, após ter metade de seu rosto queimada), O Cavaleiro das Trevas tem o mérito de evoluir todo o universo de Batman. É fundamental a ação do tenente Jim Gordon (Gary Oldman), dos companheiros de Bruce Lucius Fox (Morgan Freeman) e o mordomo Alfred (Michael Caine), além de Rachel Dawes (Maggie Gyllenhall). A ação gira muito mais em torno da interação do trio central com os coadjuvantes do que entre a própria base formada por Batman/Dent/Coringa.
A caracterização do personagem de Heath Ledger mistura traços da personalidade do Coringa de duas histórias em quadrinhas consideradas essenciais para se entender o vilão: A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, e Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean. Em ambas, o vilão é cruel, inteligente e calculista.
Suas falas são fruto de uma mente atormentada, perturbada por uma espécie de caos. O Coringa se torna a antítese de toda a bondade e a luta pela justiça que os cidadãos de Gotham anseiam para sua cidade. Sua vilania logo é deixada clara ao Morcego, enquanto postula o calvário eterno do Cavaleiro das Trevas: "Fomos feitos um para o outro. Vamos fazer isso para sempre", diz ao Batman.
Assim como em Batman Begins, Christian Bale é um melhor Bruce Wayne do que Batman, embora desta vez o ator passe mais tempo vestido de Homem-Morcego. Se o amor que tem por Rachel move as ações do herói durante boa parte do filme, é quando ele finalmente se desprende da garota que Batman se torna um justiceiro que representa a cidade, e só então seu heroísmo aflora.
As motivações de Harvey Dent se tornam reais na pele de Aaron Eckhart. O advogado acredita na salvação por meio de atos legais e apreensões policiais, e não nega ajuda do vigilante mascarado. Dent, que se mostra dividido pela ordem e pela sorte desde o começo da produção, é a justiça personificada. Sua cruzada é pura e sem limites. Como Duas-Caras, Eckhart não deixou de mostrar a dualidade do vilão, a obsessão pela moeda que faz com que ele seja misericordioso ou então um assassino vingativo.
Batman: O Cavaleiro das Trevas dá aos fãs uma continuação à altura na história do Homem-Morcego. Ela não acontece por acaso e sim por uma série de eventos que vêm sendo apresentados desde a reformulação do herói no filme anterior. Batman: O Cavaleiro das Trevas estréia nas salas de cinema brasileiras em 18 de julho.