Ator está no elenco do filme pós-apocalíptico do diretor de Distrito 9
No início da tarde desta segunda, 9, os atores Alice Braga e Wagner Moura concederam uma entrevista coletiva para falar sobre o filme Elysium, produção hollywoodiana que marca a primeira aventura estrangeira dele e o retorno dela às superproduções de ação. Com estreia marcada para o próximo dia 20, o filme tem direção do sul-africano Neill Blomkamp, aclamado por Distrito 9. Amigos de longa data, desde que rodaram juntos Cidade Baixa (2005), Alice (Frey) e Moura (Spider) aproveitaram mais esta oportunidade com a imprensa para trocar elogios e contar um pouco sobre como foi participar da produção, que mostra (resumindo de maneira bem simplista) um futuro catastrófico em que a Terra, superpopulosa, destruída e poluída, abriga os cidadãos pobres. Os ricos, por sua vez, tiveram a oportunidade de comprar um bilhete e se mudar para uma estação fora do planeta, Elysium, onde se refugiaram para manter um estilo de vida em casas de luxo e, o mais importante, com sistema de saúde de ponta.
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"Eu sou bem otimista com o futuro, boto muita fé nas gerações que estão vindo", diz Wagner Moura a respeito da triste realidade apresentada no longa. "Fico achando que esse filme é uma metáfora, uma tentativa de reproduzir um receio, mas também mostra uma realidade que já está espalhada no mundo. Para a gente que é brasileiro, a desigualdade ainda é um problema, talvez o maior. Ele traz questões para a gente pensar, não uma previsão", conclui, acrescentando posteriormente: "Adoro esse filmes que combinam a coisa mais difícil, que é entretenimento amplo, mas com muita substância. Mesmo que a discussão não chegue a um nível existencial, acho importante a gente falar de imigração, desigualdade social".
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Uma das questões mais suscitadas é a da língua. Essa foi a primeira vez que o ator precisou interpretar em outro idioma e a falta de familiaridade com o inglês de fato dificultou o trabalho dele. Uma metáfora criada pelo ator mexicano Javier Bardem resume bem a sensação de Wagner. "Ele disse que quando atua em inglês, tem todo um escritório funcionando na cabeça dele, um monte de gente para lá e para cá, telefonando, mandando SMS, fazendo de tudo para a coisa funcionar. Quando ele atua em espanhol, o escritório fica vazio."
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As diferenças de língua e cultura não foram um desafio somente para Moura. Em um elenco propositadamente bastante internacional, o ator norte-americano Matt Damon, que vive Max, protagonista da trama, também aprendeu bastante. Alice e Wagner contam que, quando Matt viu a tatuagem da bandeira do Brasil na pele do ator brasileiro, se confundiu com o desenho e perguntou: "Por que você tem um hambúrguer tatuado?". Wagner, sempre bem humorado nas entrevistas, ri da situação. "Essa é a bandeira do meu país, vamos respeitar essa porra", afirma, em tom de brincadeira.
Wagner garante que foi muito intencional a escolha de um elenco internacional com latinos, como os brasileiros e o mexicano Diego Luna, entre outros. "Havia uma vontade de trazer atores que entendessem como é viver em um lugar com exclusão social", diz ele. Curiosamente, nenhum dos personagens teve uma nacionalidade definida previamente – isso, aliás, faz parte da realidade trazida pelo filme –, mas Moura sempre teve em mente que Spider era brasileiro, até para ter o conforto de não ter que se preocupar com o sotaque.
Wagner Moura fala sobre sua primeira experiência filmando no exterior.
No mais, o ator frisa novamente que sentiu muita diferença ao trabalhar em uma produção tão endinheirada. "De resto, é igualzinho, o set, a filmagem, etc. Mas o dinheiro acabava influenciando em tudo: a variedade de comida, a quantidade de pessoas." Ele também cita um exemplo indireto que é bastante sintomático dessa fartura. Embora o personagem não pedisse, ele decidiu que Spider seria manco. Mesmo que o diretor insistisse que não era necessário, Moura "tinha treinado com ele manco, ele teria que ser manco". Quando foi tomada a decisão, logo o departamento encarregado foi acionado e Wagner tinha entre várias opções de bengala para escolher. Contudo, nem todo dinheiro do mundo ajudou Alice, que passa boa parte do flme carregando sua "filha" para lá e para cá em cena. "Ao longo de cinco meses ela cresceu, ficava cada vez mais pesada! E a refilmagem só aconteceu um ano depois, quando ela estava maior!", diz a atriz, rindo.
Ainda sobre a experiência em set internacional, Moura conta que absorveu tudo que pode. "Tive uma pneumonia muito grave lá em Vancouver, onde a gente filmava, então ficava no trailer descansando. Mas quando dava, gostava de assistir, tenho muita curiosidade de ver como o Neil fazia pra filmar as coisas, os efeitos especiais. Sempre me interessei muito para saber o que cada um faz em um set", conta ele, que se prepara para dirigir Marighella, seu primeiro longa atrás das câmeras, no ano que vem. O projeto tomará muito de seu tempo em 2014, mas as possibilidades no exterior continuam abertas (Moura tem representantes nos Estados Unidos, toda uma equipe que cuida de projetos para ele no país). "Mas sou muito chato. Para eu fazer um negócio tenho que achar muito legal. Estou até vendo esse pessoal cansar de mim. Tem umas coisas que quero fazer, mas eles querem que o Javier Bardem faça", ri, lamentando que o projeto de interpretar o italiano Frederico Fellini tenha sido pausado depois da morte do diretor Henry Bromell. "Fiz uma reunião com o produtor e vamos tentar encontrar outro diretor."
Veja o trailer de Elysium: