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Watchmen para fiéis

Adaptação de graphic novel para os cinemas agrada fãs ferrenhos, mas pode confundir o espectador comum

Por Artur Tavares Publicado em 06/03/2009, às 16h49

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1985. Os Estados Unidos são governados por Richard Nixon desde a vitória na Guerra do Vietnã, quando o único super-herói do mundo, Dr. Manhattan, tratou de acabar sozinho com o conflito em pouquíssimo tempo. Isso foi nos anos 60. Vinte anos depois, o planeta está em colapso. O Relógio do Fim do Mundo marca cinco para o apocalipse. A ameaça de uma guerra nuclear entre os norte-americanos e os soviéticos é real, e tudo por culpa de uma invasão mal planejada no Afeganistão.

O cenário de fundo de Watchmen, que estreia nesta sexta-feira, 6, nos cinemas, é assustador. Os estadunidenses chegaram ao auge do Sonho Americano, que lhes custou a liberdade. O totalitarismo é real, as pessoas são vigiadas. Não existe oposição, e não existe quem proteja os cidadãos comuns de ameaças como o crime.

Os vigilantes mascarados (os watchmen) foram proibidos de atuar logo após o fim da Guerra do Vietnã. Vivendo em suas identidades secretas, o Coruja, Espectral, Ozymandias e Rorshach precisam vestir pela última vez seus uniformes. A ameaça não poderia ser pior: a morte do Comediante, um matador norte-americano que derrubava regimes comunistas em todo o mundo, e uma possível trama para eliminar da Terra todos os watchmen.

Dirigido por Zack Snyder, o mesmo de 300, Watchmen nas telas é o sonho realizado de todo fã de quadrinhos. A adaptação da graphic novel escrita em 1986 por Alan Moore e desenhada Dave Gibbons é fidedigna. São poucas as situações apresentadas nas doze edições da série original - considerada a melhor HQ da História - que foram modificadas ou deixadas de lado durante a produção, um épico de 2 horas e 45 minutos.

É difícil para um fã de quadrinhos, sempre tão crítico com adaptações cinematográficas, reclamar deste que é o primeiro blockbuster de 2009. Difícil porque a própria graphic novel foi usada de storyboard para a produção. O filme é praticamente uma transposição de mídias. No cinema, as cenas são as mesmas das HQs. O final foi modificado, o que causou certo descontentamento aos fãs quando a notícia vazou, ainda durante a produção. Porém, a mudança faz muito sentido, sendo talvez até melhor do que a solução do gibi.

Snyder se preocupa com o realismo porque sabe que esta é uma história de cidadãos comuns, sem habilidades extraordinárias, que precisam lutar pela sobrevivência em um mundo que certamente deixará de existir. Se há um trunfo em Watchmen, é a caracterização dos personagens. O elenco não tem grandes estrelas, mas está repleto de talentosos artistas, como Billy Crudup (Dr. Manhattan) e Patrick Wilson (Coruja), além da revelação sueca Malin Akerman (Espectral). Os rostos praticamente desconhecidos ajudam ainda mais a humanizar os heróis. Eles não são os icônicos bonitões que interpretam Homens de Ferro, Homens-Morcegos e Super-Homens. São quarentões decadentes, que perderam a alegria da vida quando deixaram seus uniformes de lado.

Plasticamente, Watchmen é o oposto de 300. Enquanto o conto grego abusa do âmbar para demonstrar a grandiosidade de deuses lutando na Terra, a história de Alan Moore foi transposta para a telona com tons muito escuros, principalmente o roxo, como se a humanidade vivesse numa eterna noite sombria. Além de diversas cenas de nudez e sexo, há muito sangue. E corpos explodem a todo o momento, sinal da loucura que o poder trouxe ao único realmente poderoso herói do mundo.

Watchmen não é um filme de heróis, e sim sobre heróis. A diferença é tênue, mas pode pegar de surpresa o mais desavisado. Não há quebra pau sem motivo, não há uma luta clara entre o bem e o mal. Para o espectador comum, que nunca leu a HQ, a história pode ser confusa -pela falta de linearidade, porque seus heróis desconhecidos não fazem parte do imaginário popular, e porque há uma demora de pelo menos uma hora para que a história engate a segunda marcha.

O trunfo da adaptação de Watchmen cativou tanto a imprensa mundial que o filme já vem sendo chamado de "O Batman: O Cavaleiro das Trevas de 2009". Embora haja certo exagero na comparação, não é precipitado dizer que, de todas as adaptações de HQs que saem nos cinemas este ano, esta será a melhor.