Segundo a Folha de S. Paulo, o Itamaraty organizou voo secreto - sem conhecimento do Ministério da Saúde - para buscar as vacinas da índia
O Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) não conseguiu buscar as 2 milhões de doses de vacina Covishield na Índia em janeiro de 2021, gerando um prejuízo de US$ 500 mil. Após as tentativas frustradas, o Itamaraty buscou, em voo secreto, os imunizantes indianos — e custou 10% do valor pago pelo Ministério da Saúde.
Conforme noticiado pela Folha de S. Paulo, a busca das vacinas aconteceu em sigilo. O ministério da Saúde soube da operação apenas quando as doses estavam prestes a embarcar no avião da companhia aérea Emirates no aeroporto de Mumbai.
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No entanto, não foi a primeira confusão na busca de imunizantes. Eduardo Pazuello, na época ministro da Saúde, determinou que a Fiocruz fretasse um avião para buscar as vacinas na Índia em 16 de janeiro. O general também negociou com a companhia aérea Azul para conseguir as mesmas vacinas.
A pressa para buscar os imunizantes se deu ao pedido de Jair Bolsonaro, que determinou a chegada das vacinas da índia antes do dia 20 de janeiro. A data era a mesma que João Doria (PSDB), governador de São Paulo, estabeleceu como o início da vacinação com a Coronavac.
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Conforme explicado pela Agência Brasil, a vacina Covishield, no centro dessas tentativas fracassadas do Ministério da Saúde, é uma das modalidades da Oxford/AstraZeneca, produzida pelo laboratório Serum, da Índia e importado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
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Segundo a Folha de S. Paulo, um telegrama diplomático mostra uma carta enviada por Jair Bolsonaro ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi em 9 de janeiro. Na mensagem, o presidente brasileiro recorda a “importância do prazo do dia 20”, enquanto o ministério indiano afirma “não poder comprometer-se ainda com datas”.
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Apesar das incertezas, a Fiocruz assinou em 13 de janeiro um contrato que estabelecia o fretamento de um avião para Mumbai com a DMS Agenciamento de Cargas e Logística, com o objetivo de buscar as doses no dia 16. Para isso, a fundação precisou pagar antecipadamente US$ 500 mil, estipulado pela empresa de logística e sem reembolso.
Em 14 de janeiro, contudo, um porta-voz da chancelaria indiana afirmou à imprensa que seria "cedo demais" para o envio de imunizantes a outros países naquela semana. Assim, o Ministério da Saúde também contratou um avião da Azul para buscar as doses.
A aeronave saiu de Campinas, em São Paulo, em 14 de janeiro, e chegou a ser adesivada com a frase “Brasil imunizado: somos uma só nação”. No entanto, a chegada do avião não havia sido combinada com os indianos — e o governo brasileiro anunciou o adiamento do transporte das vacinas.
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Após as diversas tentativas falhas, o Itamaraty e o Ministério das Relações Exteriores fizeram a operação sem avisar o Ministério da Saúde. Em 19 de janeiro, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, comunicou a liberação das doses no dia 21. Ele solicitou “reserva e discrição”, com disvuldação conjunta apenas às 6h do dia 22 de janeiro.
“Tão logo recebida a decisão do governo indiano de autorizar a exportação de 2 milhões de doses da vacina Covishield para o Brasil, o Posto buscou assegurar que seu transporte fosse efetuado o mais rapidamente possível. Nesse contexto, chegou ao entendimento com a empresa Serum (SII) que a forma mais rápida e eficiente seria a opção de transporte por avião comercial de carga, conforme a prática usual do fabricante, que é o maior exportador de vacinas do mundo”, diz telegrama enviado pela Embaixada do Brasil em Déli, em 22 de janeiro (via Folha de S. Paulo).
O telegrama também afirma que o custo do transporte ficou em US$ 55 mil. Procurado pela reportagem, o Itamaraty afirmou que os custos da operação foram cobertos pela Fiocruz: “A atuação do Itamaraty no enfrentamento da atual crise sanitária é coordenada com os órgãos do governo federal responsáveis pelo tema.”
A Fiocruz respondeu em nota à reportagem da Folha de S. Paulo sobre a diferença de custos entre os transportes: "O Ministério da Saúde solicitou à Fiocruz a contratação de fretamento para essas vacinas. O transporte não poderia ser realizado apenas mediante o fretamento de um voo comercial, uma vez que o transporte de imunobiológicos envolve um conjunto de serviços complexos que exigem a contratação de uma empresa especializada em serviços dessa natureza."
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A fundação continuou: "No caso da operação para o fretamento das vacinas da Índia, os serviços contratados da empresa DMS Agenciamento de Cargas e Logística consideravam não apenas o fretamento do voo, mas toda a operação, ou seja, a cadeia logística desse transporte, desde a retirada da carga da farmacêutica na Índia até a sua chegada na Fiocruz, incluindo ainda o aluguel de equipamentos especiais para a manutenção de temperatura da carga durante todo o trajeto e a tramitação aduaneira"
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