Morre Astrud Gilberto, voz global da Bossa Nova, aos 83 anos
Voz que internacionalizou a Bossa Nova teve falecimento anunciado no perfil da neta na madrugada desta terça (6)
Eduardo do Valle (@duduvalle)
Publicado em 06/06/2023, às 06h08
Morreu, na noite desta segunda-feira (5), a cantora Astrud Gilberto. Ela tinha 83 anos. O falecimento foi comunicado pelas redes sociais da cantora e confirmada por sua neta, Sofia Gilberto, na madrugada da terça (6) (via Quem).

No post, Sofia escreve:
"Minha vovó Astrud Gilberto fez essa música pra mim, se chama Linda Sofia. Inclusive, ela queria que meu nome fosse Linda Sofia. A vida é linda, como diz a música, mas venho trazer a triste notícia que minha avó virou estrela hoje e está ao lado do meu avô João Gilberto. Astrud foi a verdadeira garota que levou a bossa nova de Ipanema para o mundo. Foi a pioneira e a melhor."
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"Aos 22 anos, deu voz à versão em inglês de 'Garota de Ipanema' e ganhou fama internacional. A música, um hino da bossa nova, se consagrou como a segunda mais tocada em todo o mundo principalmente por sua causa. Amo e amarei Astrud eternamente e ela foi o rosto e a voz da bossa nova na maior parte do planeta. Astrud estará para sempre em nossos corações e neste momento temos que celebrar Astrud."
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Estrela internacional da Bossa Nova, Astrud deu voz à versão em inglês de "Garota de Ipanema", que popularizou a faixa ao redor do mundo e lhe rendeu um Grammy em 1965, o primeiro concedido a uma cantora brasileira.

Segundo o britânico The Independent, a morte foi confirmada pelo guitarrista Paul Ricci, que colaborou com Astrud.
"Acabo de falar com o filho [de Astrud], Marcelo, que confirmou que perdemos Gilberto. Ele pediu para postar."
Ela foi parte importante de TUDO o que se tornou a música brasileira pelo mundo e mudou vidas com sua energia. Descanse em paz, de 'o chefe', como ela me chamava. Obrigado AG".
Vida e obra
Longe dos palcos desde 2002, Astrud foi dona de de uma extensa discografia composta por 19 álbuns. Filha de brasileira com pai alemão, a cantora, natural de Salvador, ingressou na carreira musical em 1960.

Três anos depois, se muda para os Estados Unidos ao lado de João Gilberto, onde produz o álbum Getz/Gilberto, ao lado do marido e de Stan Getz.
A separação, em 1964, marca o início da carreira solo, com o primeiro disco, que viria no ano seguinte, lhe rendendo uma extensa carreira internacional. Até 2003, seriam mais 17 álbuns lançados.

Em 1992, conquistou o Latin Jazz USA pelo conjunto de sua obra e faz parte do International Latin Music Hall of Fame desde 2002. Em 2008 ganhou um prêmio do Grammy Latino por sua "excelência musical", ao lado de outras cinco cantoras: Estela Raval (Argentina), Angélica María (México), Vikki Carr (nascida nos EUA, mas famosa por músicas em espanhol), María Dolores Pradera (Espanha) e Cheo Feliciano (Porto Rico).
Casada com João Gilberto (1931-2019) entre 1959 e 1964, Astrud foi mãe de João Marcelo Gilberto - pai de Sofia Gilberto - e de Gregory, filho de seu segundo casamento.
A página oficial do Grammy registra outras indicações para Astrud: 'Best Vocal Performance', com 'Garota de Ipanema', 'Best New Artist Of 1964' e em 'Best Vocal Performance, Female' com o disco 'The Astrud Gilberto Album'.
US$ 120 por 'A Garota de Ipanema'
Com cinco milhões de cópias vendidas, "The Girl From Ipanema" foi gravada em 1962 e lançada no ano seguinte, como single do popularíssimo álbum Getz/Gilberto- fruto do encontro entre Stan Getz e João Gilberto, com quem Astrud era casada à época.

O disco entraria para a história, tornando-se um dos mais influentes de música brasileira no mundo, apesar das supostas divergências que teriam aparecido entre Getz e João Gilberto na pós-produção (via O Globo).
Apesar de ter iniciado a carreira musical em 1960, na apresentação histórica Noite do Amor, do Sorriso e da Flor, Astrud nunca tinha gravado nada antes de "A Garota de Ipanema".
Astrud teria insistido para entrar em Getz/Gilberto, segundo Ruy Castro no livro Chega de Saudade. Além da participação em "A Garota de Ipanema", ela também empresta os vocais a "Corcovado". Pela participação no álbum Getz/Gilberto, Astrud teria recebido US$ 120, a tabela do sindicato pela gravação, à época.
Quando Getz/Gilberto saiu, em 1963, uma versão de "A Garota de Ipanema" em inglês foi lançada como single - nela, o dueto entre Astrud e João Gilberto foi reduzida apenas à participação feminina, que acabou vendendo milhões de cópias.
Com a gravação, Astrud ganharia duas indicações ao Grammy, como Melhor Gravação, que ganhou ao lado de Stan Getz, e como Artista Revelação, que acabou perdendo - para os Beatles.
O registro, porém, seria o maior responsável por levar o nome de Astrud para o mundo. Anos mais tarde, em 1965, e já separada de João Gilberto, ela começaria uma carreira solo de sucesso, que lhe renderia 19 álbuns e uma porção de premiações.