Artistas de destaque da nova geração da música brasileira que se apresentam no festival recordam a relação afetiva com o Rock in Rio
Xenia França tem, gravadas na memória, lembranças relacionadas à história do Rock in Rio. A começar por ver, pela transmissão da televisão, Carlinhos Brown, artista vindo da Bahia como ela. Ela se recorda bem da performance dele até o show de 2001 ser interrompido por conta chuva de garrafas que caiu sobre o artista vindas de fãs de bandas de rock que se apresentariam naquele palco horas depois. Tinha 15 anos e aquela cena ficou, como tantas outras que ficam.
Xenia também relembra a passagem de Stevie Wonder pelo festival, quando o artista norte-americano fez um show pomposo, de banda completa, em 2011, e do estrondo que foi a performance de Beyoncé, dois anos depois. "Lembro também do show da Alicia Keys [em 2017], que ela mostrou um processo com o qual estou muito relacionada, que é o autoconhecimento, de fazer a música como um manifesto de cura".
Xenia, agora, é atração desse mesmo festival, tantas vezes transformador para ela. A artista foi convidada para para se apresentar no Palco Sunset, nesta sexta-feira, 27, ao lado do britânico Seal, às 21h15.
"Espero que seja sublime", ela diz.
"Se não fosse para causar, a gente nem sairia de casa", contrapõe, divertidamente, Rafel Gomes, baixista da banda Francisco, El Hombre, grupo que também estreia no Rock in Rio 2019.
A potência sonora da Francisco, El Hombre, foi ampliada com o disco recente deles, Rasgacabeza, lançado em 2019 com auxílio do edital Natura Musical.
Xenia França e Francisco, El Hombre são artistas da nova, efervescente, dinâmica e festejada música brasileira. Estão em lugares distantes, talvez, quando o assunto é estética sonora, mas compartilham o sentimento de pisarem no palco do Rock in Rio pela primeira vez.
A Francisco, El Hombre também estará no palco Sunset, definitivamente o mais instigante do festival, às 15h30 de 3 de outubro, ao lado da banda colombiana Monsieur Periné.
À Rolling Stone Brasil, Xenia e Francisco, El Hombre (na voz do baixista Rafael Gomes) partilharam sensações sobre como será estrear no Rock in Rio:
"Nunca imaginei que pudesse fazer parte [do Rock in Rio], mesmo com tantas ambições de carreira, às vezes a gente não ousa desejar certas coisas para não se frustrar. Desde que eu lancei esse meu primeiro trabalho [o disco Xenia, em 2017, realizado com o auxílio do edital Natura Musical], ele tem me dado grandes presentes. O Rock in Rio é o maior festival do mundo."
'É uma honra ser convidada por um artista tão grandioso quanto o Seal. Estou me preparando há meses para que isso aconteça. Eu só desejo que seja uma experiência ótima."
"Tenho muitas memórias do Rock in Rio. A primeira, emblemática, é do Carlinhos Brown, até onde conseguiu fazer até a chuva de garrafas. Aquilo marcou a minha infância. Depois disso, eu me lembro do show do Stevie Wonder [em 2011]. Aquilo foi um presente que ele nos deu, com arranjos originais, com Gilberto Gil, foi demais. Lembro do show da Beyoncé, incrível, da Rihanna… Também lembro também do show da Alicia Keys, desse processo com o qual estou muito relacionada, que é o autoconhecimento, de fazer da música um manifesto de cura. Ela estava flutuando no palco, voz perfeita, tocando muito."
"Para minha carreira, acredito que o convite será um divisor de águas. O Palco Sunset é bastante aberto e mostra o que o Brasil tem mostrado de novo, com uma mistura de linguagens, artistas, gerações e estéticas."
"Embora eu e Seal sejamos de gerações diferentes, a musicalidade dele me contempla bastante. Acredito que um festival como esse tenha o poder de impactar a carreira de qualquer artista."
"Espero que consiga me conectar com uma energia suprema e consiga me comunicar da maneira que escolhi, que é com a música, independentemente de quem estiver lá, se me conhece ou não, espero que seja uma experiência sublime."
"Vamos chegar para causar, se não for para causar, a gente nem sairia de casa. Vamos ser a primeira banda, estamos planejando tudo o possível para que o nosso show seja o mais impactante possível. Toda a turnê [do disco Rasgacabeza, lançado em 2019] tem desenvolvido a energia do fogo, fazendo com que a galera se incendeie no show."
"Vamos nos juntar com outra banda latino-americana, com uma p*** projeção. Vai ser um desafio fazer um show com uma banda de estética musical tão diferente da nossa. Nosso desafio é gerar riqueza e extrair o melhor de cada um dos dois shows. Fazer o mais bonito possível."
"Estamos felizes de alcançar esse palco [Sunset]. Essa distinção de mainstream e underground é algo que não deveria existir. Ficamos felizes em ocupar um espaço novo. É importante usar da música para se comunicar com todo o público que estiver disponível para se comunicar, é super importante estar nesse lugar, poder levar nosso trabalho para além da música. Estamos preparando projeções e figurino especial para deixar mais claro toda a mensagem que a gente tem para mostrar no Rock in Rio."
"Tenho memórias do Rock in Rio, de quando voltou [em 2011], e era uma comoção. Era um festival importante do circuito de festivais do mundo inteiro. Pensar que estamos entrando no circuito do festival no qual as bandas mais lendárias do mundo já estiveram. É uma conquista. Vamos lá para festejar essa conquista com tudo, com causação."
"Lembro muito bem do Rock in Rio porque eu tinha um tio em Belém [no Pará], que era marinheiro e acabou fazendo a vida no Rio de Janeiro. Ele sempre comentava do Rock in Rio na década de 1990. Era um tio roqueiro, com pinta daqueles roqueiros dos anos 1960 e 1970. É uma memória que eu tenho do quanto emblemático é o festival."
A Rolling Stone Brasil está no Rock in Rio 2019 a convite da Natura Musical