Banda escalada para se apresentar na noite do metal do festival carioca foi alçada à posição principal porque o Iron Maiden gosta de dormir cedo
O saguão do Copacabana Palace era uma loucura naqueles dias de verão do início de 1985. Ali circulavam Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Whitesnake. O AC/DC corria pela areia branca e fofa na frente do hotel para dar alguns mergulhos na água salgada. E também estava o Queen, no auge da sua realeza, para um dos shows mais históricos da carreira de Freddie Mercury e companhia.
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"Foi a primeira e única vez que encontrei Freddie", relembra o alemão Klaus Maine, vocalista da bandas Scorpions. "O Queen faria um show fantástico naquele festival", ele completa: "E também seria o nosso show mais famoso."
Era a primeira edição do Rock in Rio e o Scorpions enfim descobria a fama mundial, com o nono disco de estúdio Love at First Sting, lançado um ano antes, em 1984 e de onde vem o hit Rock You Like a Hurricane, um dos maiores clássicos da banda - talvez só não seja maior do que a balada "Wind of Change", lançada em 1990 porque a trupe alemã realmente se especializou em criar baladas perfeitas para embalar multidões roqueiras e suadas.
As duas apresentações do Scorpions na primeira - e histórica - edição do festival se deu diante de 250 mil e 280 mil pessoas, um número recorde da banda, só quebrado anos e anos mais tarde, em uma apresentação para um show organizado por uma rádio na Polônia.
E, mesmo se já não seja a apresentação detentora do título de maior público do Scorpions, a passagem pelo Rock in Rio, conta Maine, é a mais memorável de todas. "Sempre nos perguntam sobre aquelas noites", recorda o vocalista. "E nós lembramos de cada minuto daqueles shows", garante.
"Os anos 1980 foram ótimos para a nossa carreira. Tocamos nos maiores festivais do mundo. Foram realmente momentos especiais. Quem poderia dizer que já havia tocado para quase 300 mil pessoas insanas. Era algo que não poderíamos imaginar nos nossos maiores sonhos. É normal que nos perguntem sobre isso", ele avalia.
Maine disse jamais ter sentido pressão como aquela de 15 e 19 de janeiro de 1985. "Seja na Rússia, seja nos Estados Unidos. Sempre vamos falar de Rock in Rio. Vai ser ótimo voltar", diz.
O Brasil é uma parada quase obrigatória para o Scorpions. Ao todo, foram 38 apresentações por aqui. E eles vão acrescentar, de uma só vez, mais sete shows no Brasil. A banda iniciará a nova tour no em Curitiba (dia 18 de setembro, na Pedreira Paulo Leminski) e segue para São Paulo (dia 21, na Allianz Parque), Uberlândia (dia 23, na Arena Sabiazinho), Brasília (dia 25, no Ginásio Nilson Nelson), Florianópolis (dia 28, na Arena Petry), Porto Alegre (dia 1º de outubro, no Ginásio Gigantinho) e chega ao fim no Rock in Rio (dia 4 de outubro, no Palco Mundo, o principal do festival).
Recentemente, o Rock in Rio revelou um app com o horário dos shows da edição 2019 e, para a surpresa geral, o Scorpions foram elevados ao posto de headliners da noite roqueira. Embora a data seja capitaneado pelo Iron Maiden, os ingleses preferiram tocar mais cedo.
Ou seja, o Iron Maiden irá subir ao Palco Mundo às 21h30, enquanto o Scorpions terá de encerrar a noite às 0h05. Na mesma data se apresentam Helloween, Sepultura, Slayer, Anthrax, Torture Squad & Claustrofobia e Nervosa.
Maine falou à Rolling Stone Brasil em casa, na Alemanha, depois de encerrar parte da turnê europeia da banda. A passagem pelo Brasil dará início ao ciclo que passa pela América Latina e termina na Europa oriental.
Depois das férias de fim de ano, Maine pretende voltar ao estúdio com o restante do Scorpions para gravar um possível sucessor de Return to Forever (2015), o 18º disco de estúdio deles. "Não vou fazer muitas promessas, mas possivelmente teremos um novo álbum do Scorpions. Sei que muitos fãs esperam por esse disco. Nós estamos confiantes".
A data do novo álbum ainda não é certa, ele diz, ao citar que o trabalho pode sair no final de 2020 ou até em 2021. "O que posso dizer é que temos um ótimo começo de disco."
Musicalmente, o Scorpions integra um time de bandas capazes de manter a mesma fórmula de composições, sem fugir de alguns aspectos característicos - no caso eles, eles flutuam entre o hard e o soft rock com precisão cirúrgica.
E fazem isso desde 1965. Por isso, mesmo, têm a liberdade de serem clichê vez ou outra - faz parte da mitologia, de quem esteve naquele Rock in Rio e se mantém na ativa, até hoje, 34 anos de volta, ao palco do mesmo festival que os consagrou.
Como quando Maine, ao se despedir, fez questão de mandar esse recado antes de desligar o telefone, depois dos "obrigados, "bom dias" e "tchaus" e já terem sido trocados. "É isso. Será um privilégio tocar no Rock in Rio. Estamos prontos para 'rock you like a hurricane'." É isso.