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‘Cazuza Além da Música’ mergulha no legado artístico e na coragem pioneira do ícone na luta contra a AIDS

Produzida pela Conspiração e dirigida por Patrícia Guimarães, a série documental original Globoplay já está disponível no streaming, com quatro episódios

Redação

'Cazuza Além da Música' mergulha no legado artístico e na coragem pioneira do ícone na luta contra a AIDS (Divulgação/Globoplay)

Entre a intensidade visceral de sua poesia, a rebeldia de suas atitudes, a paixão avassaladora pela vida e a coragem inabalável de sua verdade, sempre existiu um Agenor por trás do fenômeno Cazuza. Um artista que fez da autenticidade sua maior obra, transformando a arte em manifesto e sua própria existência em um legado de liberdade e cidadania.

Neste 1º de dezembro, data que marca o Dia Mundial de Combate à AIDS, o público poderá revisitar a trajetória de Cazuza, com a estreia da série documental Original Globoplay Cazuza Além da Música. Os quatro episódios chegam juntos ao catálogo, com o primeiro disponível e aberto para todo o público, incluindo não assinantes do streaming.

Do que se trata?

Produzido pela Conspiração, com direção de Patrícia Guimarães, roteiro de Victor Nascimento e supervisão de Carolina Albuquerque, a obra acompanha a jornada multifacetada de um ícone que arrebatou o país com sua voz, sua vulnerabilidade e seu pioneirismo ao assumir a AIDS, levando ao público um olhar profundo sobre sua influência na música, na cultura e na sociedade brasileiras.  

Foi um processo de mergulho muito profundo. A história de Cazuza é tão intensa que, a cada arquivo, a cada depoimento, sentíamos a responsabilidade de ser fiéis à sua verdade, não ao que se pensa sobre ele”, descreve a diretora Patrícia Guimarães. “O encontro entre a doença e a arte, expresso em uma forte sede e alegria de viver, é o fio condutor da narrativa que estrutura a série. É a força dessa relação, entre morte e vida, que moveu o artista, o homem, e que ainda move seu legado”, complementa.

O documentário traça um retrato íntimo de Cazuza, desde o “menino Agenor” que descobriu no palco sua liberdade e poesia, passando pela ascensão meteórica com o Barão Vermelho e sua explosiva carreira solo com “Exagerado”, até o período mais crítico e transformador de sua vida. A série mergulha nos últimos cinco anos de sua vida (1985-1990), detalhando a descoberta da AIDS, a repercussão na mídia e a decisão corajosa de assumir publicamente que havia contraído o vírus HIV, um ato de cidadania que marcou o Brasil na época. A produção explora, ainda, como a doença não o paralisou, mas sim impulsionou sua criatividade, resultando em obras-primas como “Ideologia” e “Brasil”, e sua incessante busca por viver intensamente, transformando a dor em arte e protesto.

Depoimentos

Com depoimentos exclusivos de familiares, amigos, músicos e jornalistas, o documentário conta com a participação especial de Lucinha Araújo, mãe do artista. Ela não apenas concedeu entrevistas profundas e comoventes, como também abriu o acervo pessoal da família, com destaque para um diário com anotações, desabafos e rabiscos de músicas que revelam a intimidade de Cazuza, seus pensamentos e sua visão de mundo. “A Lucinha nos deu duas lindas e extensas entrevistas e abriu todo seu acervo pessoal para o documentário. Isso foi incrível e fez toda a diferença”, destaca Guimarães.

Participações

Entre os nomes que participam da série estão os parceiros de Barão Vermelho Roberto Frejat e Guto Goffi; amigos próximos como Sandra de Sá, Lobão, Bebel Gilberto, Orlando Morais; e Serginho Maciel, um de seus grandes amores. Referências da MPB como Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de Ney Matogrosso – com quem Cazuza viveu uma paixão intensa – enriquecem a produção com testemunhos sobre a convivência com o artista que transcendeu seu tempo.

Ícone na luta contra a AIDS

Além de sua inegável contribuição artística, Cazuza deixa até hoje um legado social imensurável, especialmente no combate ao HIV/AIDS. Para Patrícia Guimarães, a coragem do cantor em se posicionar publicamente foi um divisor de águas. “Ele acolheu a doença e, ao fazer isso, acolheu todos aqueles que, como ele, portavam o vírus”, pontua a diretora. Inspirada por essa postura, Lucinha Araújo transformou o luto em luta. No mesmo ano da morte do filho, em 1990, ela fundou a Sociedade Viva Cazuza, uma casa-abrigo pediátrica para crianças nascidas com HIV, consolidando-se como um pilar fundamental de assistência e conscientização. “Ele ajudou milhares de soropositivos a mostrarem seus rostos”, diz Lucinha. Para destacar esse trabalho, a série dedica um olhar especial a pessoas que vivem hoje com o vírus, revelando como a luta contra o preconceito e a desinformação ainda é vital, mesmo com os avanços no tratamento da doença.

Entrevista com Patrícia Guimarães

Cazuza Além da Música é uma série documental Original Globoplay, produzida pela Conspiração, com direção de Patrícia Guimarães, roteiro de Victor Nascimento, supervisão de roteiro de Carolina Albuquerque e produção de Andrucha Waddington, Renata Brandão e Luísa Barbosa. A produção associada é de Stella Amaral e Flora Gil. Confira a entrevista com a diretora Patrícia Guimarães:

Qual foi o ponto de partida criativo: a figura pública, o artista ou o ser humano por trás das canções?
Patricia Guimarães: Havia algo que, durante todo o processo de contar essa história, não podíamos esquecer: que estávamos falando de um ícone da história da música brasileira. De um artista único. Mas queríamos nos aproximar dele e aproximar a audiência da pessoa por trás do artista, com suas dores, desejos, frustrações e seus feitos.

Há algum material inédito ou pouco conhecido que o público vai descobrir?
Fomos muito beneficiados pelo trabalho que a Viva Cazuza – em parceria com Flora Gil e o escritor Ramon Nunes Mello – realizou ao reunir grande parte do acervo de Cazuza, cuidadosamente guardado por Lucinha, em dois livros: uma fotobiografia e um compilado de poesias. Temos alguns materiais inéditos ou pouco conhecidos pelo público, como um diário que Cazuza anotava e escrevia já no fim da vida.

Considerando a personalidade de Cazuza, qual foi a decisão sobre a estrutura narrativa do documentário?
Optamos por uma linha mais cronológica, alternando entre passado e presente. Há toda uma geração que canta e escuta Cazuza, mas que não conhece de fato sua história. Por isso, no primeiro episódio, tivemos que, sobretudo, contar como tudo começou, como esse artista surgiu e como ele se descobriu.

O que mais te impressionou na forma como Cazuza enfrentou a doença?
O que mais me impressionou foram duas coisas: verdade e vontade. Verdade nas falas, nas letras, nos pensamentos e vontade nos atos, nos feitos, nas realizações. Como diz Denise Dumont, ex-namorada do artista, na série: “Ele foi imenso. Ele é imenso”.

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TAGS: Cazuza, Cazuza Além da Música, Globoplay