A chocante história real por trás de ‘Ninguém Nos Viu Partir’, série mexicana da Netflix
Na série, uma mãe enfrenta o estigma e uma separação dolorosa quando o marido leva os filhos para o exterior e muda sua vida para sempre
Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)
A nova série mexicana da Netflix, Ninguém Nos Viu Partir (Nadie Nos Vio Partir), conquistou o público e rapidamente se tornou um dos títulos mais assistidos da plataforma em vários países, incluindo o Brasil. Com cinco episódios de cerca de 50 minutos, a produção combina drama familiar e suspense psicológico para narrar uma história real impressionante — baseada no livro autobiográfico da escritora Tamara Trottner.
Do que se trata?
No centro da trama está Valeria Goldberg (Tessa Ía), uma mulher que vê o marido, Leo Saltzman (Emiliano Zurita), fugir com os filhos após o fim do casamento. O que poderia ser apenas uma disputa familiar se transforma em uma luta desigual: de um lado, uma mãe desacreditada; do outro, um homem protegido por status, religião e poder econômico.
Determinada, Valeria desafia o sistema e atravessa fronteiras em busca das crianças. Cada episódio revela um novo obstáculo — do preconceito de gênero à manipulação institucional — e mostra como o controle masculino se estende muito além do casamento. Aos poucos, o suspense inicial dá lugar a uma história sobre resistência e sobre o preço de não se calar. O roteiro é assinado por María Camila Arias e a produção é de Eduardo Díaz Casanova.
A história real por trás da série
A trama tem origem nas memórias de infância da própria Tamara Trottner, que, aos cinco anos, foi sequestrada junto do irmão pelo pai. As crianças foram levadas para diversos países — entre eles Itália, França, África do Sul e Israel — e mantidas afastadas da mãe por anos. No livro Nadie Nos Vio Partir, publicado em 2020, a autora reconstrói esse período traumático a partir do ponto de vista infantil, narrando em primeira pessoa o medo, a confusão e o esforço para compreender a ausência materna e a própria identidade em meio ao caos.
Em entrevista à revista mexicana Pasajes, Trottner explica que decidiu escrever apenas com base nas lembranças que carregava desde a infância, sem recorrer a pesquisas documentais ou depoimentos de familiares. “Essa história estava me revirando no íntimo e eu precisava contá-la”, disse. “Foi uma forma de transformar a dor em narrativa.”
Embora baseada diretamente no livro, a série faz escolhas narrativas próprias. Se o texto original privilegia o olhar da criança e a dor da separação, a adaptação televisiva amplia o ponto de vista e dá espaço aos dilemas de Leo Saltzman. Tamara Trottner vê essa abordagem com empatia: “Na série, vemos Leo chorando, Leo desesperado, Leo dizendo ao pai que quer voltar”, contou. “No livro, esse lado aparece apenas mais tarde, quando, já adulta, pergunto a ele sua versão dos fatos.”
A série aborda ainda o conceito de violência vicária, em que os filhos são usados como instrumento de vingança entre os pais. “É uma história sobre amor, perda e poder — e sobre como o silêncio pode ser a forma mais cruel de violência”, declarou Tamara Trottner em entrevista ao El Financiero.
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