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Abraçando a Ânsia por Tudo

Produtor e músico, Kassin estreia carreira solo mas ainda quer ir mais além profissionalmente

Tiago Agostini Publicado em 09/12/2011, às 12h41 - Atualizado em 26/12/2011, às 14h49

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<b>S0M DA MENTE </b> Kassin diz trabalhar com ideias, não com técnica - KASSIN/DIVULGAÇÃO
<b>S0M DA MENTE </b> Kassin diz trabalhar com ideias, não com técnica - KASSIN/DIVULGAÇÃO

Alexandre Kassin tinha 12 anos quando comprou seu primeiro baixo. Ao chegar em casa com o instrumento, a mãe dele ficou preocupada. “Ela achou que eu tinha entrado para o tráfico. Em um mês tinha faturado cerca de US$ 2 mil. Era muito para um adolescente”, ele diz ao lembrar do caso. O dinheiro, na verdade, veio de apresentações com um coral natalino. “Estudava de manhã e saía para tocar de tarde e de noite, todos os dias, dezembro inteiro. Adolescente, morando com os pais, dava pra juntar uma boa grana.”

Desde pequeno, Kassin teve uma grande ligação com a música. Aprendeu a tocar violão com o irmão mais velho aos 8 anos e, na mesma época, começou a comprar os primeiros discos com o dinheiro que economizava da merenda da escola. Foi por influência do vizinho Edson Lobo, veterano da bossa nova, que trocou de instrumento. “Certo dia estava tocando ‘Doce Vampiro’ e me interessei pelo som do baixo. Dali para a frente o Edson começou a me ensinar a tocar, virei pupilo dele”, diz. Não demorou para que o jovem começasse a substituir o mestre em algumas ocasiões profissionais.

É engraçado que, mesmo tendo começado a ganhar dinheiro com música muito cedo, Kassin não tivesse o sonho de ser músico profissional quando adolescente. “Fui emancipado aos 15, mas já trabalhava como office-boy desde os 13. Naquela situação econômica [no final dos anos 80] não imaginava que pudesse me sustentar com música”, lembra. Foi parar na faculdade de jornalismo, que largou logo no começo. Também tentou entrar em um curso de música, mas foi reprovado no teste de habilidade específica após uma discussão com a reitora sobre Jorge Ben Jor. “Eu ficava tentando me adequar ao mundo, mas achava todos naquele ambiente muito caretas”, diz.

Kassin lançou em agosto Sonhando Devagar, primeiro disco com apenas o nome dele na capa, um trabalho conceitual inspirado em sonhos e à prova de caretice. As letras beiram o nonsense, mas é a sonoridade do álbum que realmente importa para o artista. “Não me considero um cantor. O lance da minha carreira como músico está atrelado à realização de um conceito”, ele explica. Assim, desde o começo ele tinha certeza do som etéreo que buscava para o álbum, entendendo que as críticas viriam. “Se você colocar o disco para um técnico de estúdio ouvir, ele vai achar vários defeitos na gravação. Mas é isto: eu quis experimentar, trabalhar com uma ideia de som.”

O posto de um dos principais produtores da música brasileira nos anos 2000 alimentou a estética de Sonhando Devagar. Responsável por discos de artistas como Ana Carolina, Mallu Magalhães, Caetano Veloso e Los Hermanos, a versatilidade dentro do estúdio é algo almejado por Kassin. “Um disco de rock eu faço em três dias. Sei como tem que soar e o estúdio está preparado para aquilo”, brinca. “Gosto de gravar coisas que não tenham relação estética com o que eu penso. É meio desafiador, porque tenho que achar novas soluções.”

A carreira de Kassin como produtor começou na primeira metade da década de 90, quando ele trabalhou como técnico de som no estúdio Groove. Ponto de encontro da cena independente carioca, o local viu nascer, entre outros, o Planet Hemp – que surgiu a partir de jams que tinham Kassin no baixo. “Mas quando eles foram fazer show não tinha a ver comigo, eu não fumava maconha”, lembra. À época, Kassin já fazia parte da cultuada Acabou la Tequila, banda que formou com os amigos de segundo grau.

Compondo algumas trilhas sonoras para teatro, Kassin foi parar, aos 19 anos, na TV Globo. Começou como redator do Brasil Legal, de Regina Casé. Quando o diretor musical do programa saiu, ele foi alçado ao posto. Foram seis anos trabalhando na emissora, colaborando com diversas atrações. Paralelamente, ele já montara um estúdio próprio, o Monoaural, e começara a produzir alguns artistas. Até o momento em que deixou o emprego titular. “Não é que eu não gostasse da Globo”, conta, “mas senti que, se eu não saísse, ficaria lá a vida inteira. Quando se tem 25 anos isso é meio estranho.”

“Minha relação com a música sempre foi de sentir as gravações, mais do que tocar”, ele analisa. Kassin não se considera um grande musicista e assume ser um caso raro de produtor que ouve muita música, mesmo após um dia de trabalho na área. “Compro muito disco toda semana e escuto todos eles”, diz. Sentado em uma padaria antes do show de lançamento de Sonhando Devagar em São Paulo, ele se mostra feliz com a repercussão positiva do disco e revela seus anseios. “Eu quero gravar tudo: disco de pagode, música clássica, Jorge Ben Jor... Tudo.”