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Crescendo com a Miley

A garota mais selvagem do pop sabe exatamente o que você pensa dela – e não está nem aí

Josh Eells | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 15/10/2013, às 18h42 - Atualizado em 10/12/2013, às 13h15

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A garota mais selvagem do pop sabe exatamente o que voce? pensa dale – e na?o esta? nem ai? - Theo Wenner
A garota mais selvagem do pop sabe exatamente o que voce? pensa dale – e na?o esta? nem ai? - Theo Wenner

Na sala dos fundos de um estúdio de tatuagem na North La Brea Avenue, em Los Angeles, Miley Cyrus está prestes a ganhar mais uma. “Ok, de bruços”, diz o tatuador, um careca chamado Mojo. Miley se vira e fica de bumbum para cima. Na sola dos pés sujos, escritas com caneta esferográfica, estão as palavras ROLLING (pé direito) e $TONE (esquerdo). “As pessoas têm as tatuagens mais escabrosas”, diz Miley. “Sabia que o Alec Baldwin tem uma com as iniciais de Hannah Montana? Não, espera – Stephen Baldwin. Ele disse que era meu maior fã e falei que os maiores fãs têm tatuagens. Então ele tatuou ‘hm’ no ombro.” Ela balança a cabeça. “As pessoas fazem besteiras incríveis.” Para a primeira capa dela na Rolling Stone, Miley queria fazer algo divertido. “Pensei em ir jogar laser tag”, conta, “só que laser tag é uma merda, e poderíamos ter ido jogar boliche, mas por acaso temos 90 anos?” Naturalmente, a ideia seguinte dela foi fazer uma tatuagem.

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“Tudo bem, querida”, diz Mojo. “Pronta?”

“Pronta”, ela responde. Mojo aciona a agulha, que começa a zumbir extremamente alto.

“Odeio ver a agulha”, diz Miley. Ela inclina a cabeça para trás. “Dói? Dói, né?”

Mojo: “É, dói”.

Essas são as primeiras tatuagens da estrela pop de 20 anos nas solas dos pés, mas ela tem muitas outras: um símbolo da paz, um sinal de igual, um coração e uma cruz (todas nos dedos), as palavras “love” (amor) dentro da orelha direita e “just breathe” (simplesmente respire) nas costelas; um desenho de Leonardo da Vinci no braço direito e, acima dele, os numerais romanos VIIXCI, para 7/91, mês e ano em que os pais dela se conheceram. Na parte de dentro do braço esquerdo, as palavras “so that his place shall never be with those cold and timid souls who neither know victory nor defeat” (para que este lugar nunca tenha almas frias e tímidas que não conhecem vitória nem derrota). “É de um discurso do [antigo presidente] Teddy Roosevelt”, conta. “É sobre como as pessoas julgam quem ganha e quem perde, mas não estão lá lutando.” Em outras palavras, “é sobre as críticas”. Quatro dias antes, Miley havia se apresentado no Video Music Awards. Talvez você tenha ouvido falar. Muita gente ficou enfurecida. Miley fez coisas com um dedo de espuma que fizeram o inventor do objeto acusá-la de ter “degradado” um “ícone”. A maioria das pessoas achou que a culpa era dela, mas Miley não se importou. É disso que a citação de Teddy Roosevelt trata – quem odeia, odeia.

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Mojo se inclina com a agulha, desenha o “r”, depois o “o”. “Como você está?”, ele pergunta. “Bem”, responde Miley, rangendo os dentes. Então, ele faz o “l”.

“Filho da puta!”, ela grita.

Sentado no sofá, um rapaz, Cheyne, está dando gargalhadas. Aos 22 anos, ele é o assistente e melhor amigo de Miley. Eles se conhecem há muito tempo, mas ela só o contratou no ano passado, antes de ir para a Filadélfia e Miami para gravar o novo álbum. Cheyne estava trabalhando no Starbucks na época. “Pensei: ‘Dane-se’”, conta Miley. “Meu melhor amigo não pode trabalhar no Starbucks! Estamos assim desde então.”

Mojo, desenhando o “g”, acerta um nervo dela. “Aiiiiiii!”, Miley grita.“Está aguentando?”, Mojo pergunta. “Estou viva”, ela responde.

Mojo faz uma pausa rápida enquanto Miley se recompõe e, depois, termina o trabalho. “Foi fácil!”, ela diz, descendo da mesa e pondo os pés no chão.

“Filho da puta!”, ela grita de dor mais uma vez.

Nesta era de profunda polarização, há uma coisa com a qual praticamente todo mundo concorda: é uma época interessante para ser Miley Cyrus. Ela lidou com a fama em diferentes graus durante toda a vida, primeiro como a filha do astro do country Billy Ray Cyrus; depois, como a insanamente popular ícone pré-adolescente Hannah Montana, em um seriado produzido pela Disney. Só que tudo isso foi um prelúdio para a Miley 3.0, uma estrela pop que mostra a língua, dança muito e é toda crescidinha, queira você ou não. Miley vem plantando as sementes de uma grande transição para o mundo adulto nos últimos cinco anos. Tinha 15 quando enfrentou seu primeiro escândalo, ao posar para a Vanity Fair com um lençol que a fazia parecer estar nua (“Estou envergonhada”, disse em um comunicado. “Peço desculpas aos meus fãs, com quem me importo profundamente”). Um ano depois, veio a dança no poste no Teen Choice Awards (o “poste” era um carrinho de sorvete; a dança não era nada chocante). Aos 17, foi fotografada bebendo cerveja na Espanha e, um mês depois, o site TMZ publicou um vídeo em que ela fumava em um cachimbo (Miley alegou que era sálvia legalizada). Mesmo assim, aos olhos de milhões de pessoas, ela ainda é a Hannah Montana – o que pode ser parte do problema.

Na manhã seguinte à tatuagem, Miley me envia um SMS: “E aí, é a Miley”. Ela quer saber se posso ir à casa dela. “Talvez por volta das 5? Podemos pedir comida e tal. Ficar por aqui!”

A casa de Miley fica em Toluca Lake. É a mesma para qual a família Cyrus se mudou quando Miley começou a trabalhar em Hannah Montana. Ela morou com os pais até os 18 anos e, depois, comprou a própria casa em Hollywood Hills, com muito vidro, móveis legais e um aquário na lareira, mas não se sentia segura sozinha e, depois que um fã enlouquecido pulou o muro, Miley decidiu que era hora de ir embora. Voltou para a casa antiga e os pais dela se mudaram para o outro quarteirão. Agora, ela vive com os quatro cachorros adotados (Happy, Bean, Floyd e Mary Jane), mas diz que não dorme no quarto principal. “É o quarto dos meus pais!”

Em uma das salas, há duas prateleiras de roupas que pertencem a Liam Hemsworth, de 23 anos, o ator australiano que ela conheceu quando rodava um filme em 2010. O casal estava noivo, mas em setembro anunciou a separação. O bairro não é o que se espera: muito suburbano, muito velha Hollywood. Os vizinhos são um pouco mais contemporâneos. “A mãe dos filhos do P. Diddy mora ali”, ela conta, apontando para o muro atrás da piscina. Outro morador da rua é Steve Carell, que tem dois filhos pré-adolescentes e não parece ser o maior fã de Miley. “Ele sempre me olha feio, porque dirijo muito rápido”, afirma. “Outro dia, estava tentando dar a ré e quase atingi milhares de coisas, e fiquei nervosa, porque podia vê-lo fazendo aquilo” – ela cruza os braços e solta um grande suspiro irritado. “Pensei: ‘Ai, meu Deus, o cara do The Office está me vendo!”

Miley acabou de voltar de Nova York, onde ficou por alguns dias depois do VMA. Só percebeu o impacto da performance quando viu as notícias. O infame medley de seu single “We Can’t Stop” com “Blurred Lines”, de Robin Thicke, dominou os canais de TV na semana seguinte, gerou protestos formais e deu origem a 1 milhão de GIFs animados. “Acho”, diz Miley, “que é um momento importante para não procurar meu nome no Google”. Ela acredita que havia uma chance de a MTV cortar a apresentação no meio, mas não esperava tanto choque e mordacidade. “Sinceramente, aquela foi nossa versão para a MTV”, conta. “Poderíamos ter ido ainda mais longe, mas não fomos. Achava que os VMA representavam isso! Não são o Grammy ou o Oscar. Não é para usar um vestido lindo, de estrela” – uma indireta para Taylor Swift. “É para ser divertido!”

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Ela admite que a performance com Thicke ficou um pouco “cheia de mãos”, mas tem um bom argumento: “Ninguém fala do homem por trás da bunda. Foi muito ‘Miley se esfrega em Robin Thicke’, mas nunca ‘Robin Thicke encoxa Miley’. Só falam sobre quem se inclinou, então, obviamente, há dois pesos e duas medidas”. Ela se divertiu especialmente com a crítica da atriz Brooke Shields, que fez a mãe dela em Hannah Montana e chamou a performance de “desesperada”. “Brooke Shields fez um filme no qual era uma prostituta aos 12 anos!”, Miley diz, rindo.

“Os Estados Unidos são muito esquisitos no que acham certo e errado”, ela continua. “Estava assistindo a Breaking Bad na TV outro dia e eles estavam cozinhando metanfetamina. Eu conseguiria literalmente preparar metanfetamina por causa desse seriado. É tipo um manual. E aí, eles censuraram quando alguém falou ‘foda’ na TV. Pensei: ‘Jura?’ Mataram um cara e desintegraram o corpo dele em ácido, mas não podem dizer ‘foda’? É a mesma coisa quando censuraram a palavra ‘molly’ [ecstasy] no VMA. Você vê o que estou fazendo aqui em cima e censura ‘molly’? Ok!”

Miley admite que estava nervosa antes da transmissão, mas recebeu uma visita no camarim que a fez se sentir melhor. Kanye West havia visto os ensaios e queria conversar antes de subir ao palco. “Ele entra e diz: ‘Não acredito em muitos artistas mais do que em você agora’”, ela conta. “O camarim inteiro ficou em silêncio. Pensei: ‘Oi, dá pra dizer isso de novo?!’. Fiquei repetindo aquilo na cabeça e o nervosismo passou.”

Depois da premiação, Miley e Kanye West se encontraram em um estúdio de gravação em Nova York para trabalhar em um remix da música “Black Skinhead”. No dia seguinte, ele enviou uma mensagem: “Disse: ‘Não consigo parar de pensar na sua performance’”, conta a garota. Ela também tinha mencionado que um par de chinelos Céline que havia comprado estava se desfazendo, e o rapper comprou mais cinco pares para ela. “Kanye é o máximo”, afirma. “Tenho uma boa relação com ele agora. É bom ter alguém para quem possa ligar e perguntar: ‘Ei, acha que devo usar isto? Acha que devo entrar em estúdio com este cara? Acha que isto é legal?’ É o que bons amigos devem fazer.”

Miley não se incomoda com quem diz que a performance dela no VMA foi um desastre. “Não estava tentando ser sexy”, afirma. “Se estivesse, poderia ter sido. Posso dançar muito melhor do que aquilo.” Ela sabe que mostrar a língua não é sensual e que aquelas marias-chiquinhas esquisitas e curtas não caem bem (“Pareço um monstrinho”). Sabe até que é ridículo dançar o twerk. “As pessoas dizem: ‘A Miley pensa que é negra, mas tem o bumbum minúsculo. Penso: ‘Tenho 49 kg! Eu sei! Agora as pessoas esperam que eu dance o twerk com a língua de fora o tempo todo. Provavelmente nunca mais farei isso”. Se há uma coisa que a incomodou na repercussão foi a ideia da performance ter sido racista, ou um “show de menestrel”, porque, segundo os críticos, ela se apropriou de um estilo de dança comum na cultura negra e usou dançarinas negras como acessórios.

“Não mantenho meus produtores ou dançarinos por perto porque isso me faz parecer legal”, Miley diz. “Não são meus ‘acessórios’, são meus amigos.” Enquanto isso, a ideia de estar fazendo papel de negra é absurda. “Sou de uma das partes mais ricas dos Estados Unidos”, diz. “Sei o que sou, mas também sei o que gosto de escutar. Veja qualquer garota branca de 20 anos agora – é o que se escuta nas boates. Estamos em 2013, os gays estão casando, todos estamos colaborando. Nunca pensaria na cor da pele das minhas dançarinas, tipo: ‘Ah, isso pode ser polêmico’. O que você quer dizer com isso?”, ela diz, rindo. “Os tempos estão mudando. Acho que daqui a uma geração ou duas será um mundo totalmente novo.”

Depois de um tempo, Miley fica com fome, então Cheyne pede sushi em um restaurante vizinho e todos entramos no carro para ir buscar. Seu veículo principal atualmente é um Maserati Quattroporte 2014 creme, que ela comprou há algumas semanas. O banco de trás parece um lounge de aeroporto sobre rodas. Saímos do portão de casa e três paparazzi acampados na rua nos perseguem. No restaurante, o manobrista os mantém afastados enquanto Miley espera no carro. Estacionada perto de nós há uma Range Rover preta. “Não vou mentir”, diz. “Acho que pode ser do Bieber.” Pergunto se ela anda com ele. “Um pouco”, conta, “mas não muito. Não sou tão mais velha que ele, então nunca quero sentir que estou sendo uma mentora. Só que sou isso de certa forma, porque estou nesta há muito tempo, já fiz a transição, e acho que ele ainda não chegou lá. Ele está tentando muito.” Ela acrescenta: “As pessoas não o levam a sério, mas ele realmente sabe tocar bateria, guitarra, cantar. Não quero vê-lo estragar tudo, que as pessoas pensem que ele é como o Vanilla Ice. Eu digo: ‘Você não quer virar uma piada. Quando sair, não faça merda, não fique sem camisa. Só que”, ela ri, “acho que os meninos estão sete anos atrás, então a cabeça dele é de, tipo, 12 anos”.

Em alguns minutos, Cheyne volta com a comida e vamos embora. No caminho para casa, Miley mostra algumas faixas de seu novo álbum, Bangerz, incluindo uma com Britney Spears e o produtor Mike WiLL Made It (que fez oito músicas) e uma produzida por Pharrell (que fez quatro). De volta em casa, Miley cheira o atum apimentado na frente do laptop. Quer ver o vídeo de seu novo single, “Wrecking Ball”, que naquele momento não tinha sido lançado ainda. Na tela, ela aparece nua, lambendo um martelo e se contorcendo em um cenário de demolição. Em um close do rosto, ela derrama uma lágrima. “Essa foi de verdade”, diz com orgulho. “Meu cachorro morreu.” Miley acha que as pessoas ficarão chocadas com o vídeo, porque é a última coisa que esperam dela: arte. Ela quer muito ser levada a sério como artista, não apenas no sentido musical. Ultimamente, tem se interessado por moda – mais especialmente Versace vintage e Dolce & Gabbana de 1992, ano em que ela nasceu.

Comemos sushi e, então, ela traz um prato de brownies veganos que o chef dela preparou. “Sabe”, ela diz, depois de um tempo, “quando me perguntaram o que eu queria fazer com você, minha outra sugestão era pular de paraquedas, mas você recusou”.

Respondo que nem sabia daquilo. Deveríamos pular de paraquedas?

“Deveríamos?”, ela diz. “Seria divertido...”

Cheyne balança a cabeça. “Não mesmo.”

“Sempre quis fazer isso”, Miley insiste. “Seria tão assustador. Temos de fazer isso.”

Miley tinha 2 anos na primeira vez em que roubou o show. Era novembro de 1994 - uma semana depois de seu segundo aniversário. O pai dela, Billy Ray Cyrus, estava em um talk show em Nashville chamado Music City Tonight. A fama dele já estava em declínio, mas não muito. Um dos apresentadores fez uma pergunta sobre ter dois filhos antes de se casar (na verdade, as mães eram duas mulheres diferentes que ficaram grávidas na mesma época). Surpreso, ele hesitou por um tempo, tentando pensar em algo positivo. Na mesma hora, como se fosse para salvá-lo, Miley, um desses bebês (Billy Ray casou com a mãe dela, Tish, em 1993), entra empurrando um carrinho rosa com um boneco de Willie Nelson dentro. A plateia faz “awwww”. Billy Ray se levanta e corre até ela, que está usando um vestido xadrez com colarinho de bolinhas e o cabelo loiro preso com um laço. O público aplaude e Miley começa a bater palmas também. As câmeras não a assustam. Ela sobe no colo de um dos apresentadores e o pai lhe diz “Olhe para a câmera e faça o olhar uma vez”. Miley olha direto para a lente e revira os olhos teatralmente. Dois anos de idade e já é uma estrela. “Isto é muito perigoso!”, diz o apresentador, encantado. “Você terá problemas quando ela estiver com – uns 12 ou 13 anos?”

Billy Ray deu à filha o nome de Destiny Hope porque achava que seu destino era trazer esperança para o mundo (ela mudou legalmente para Miley, um apelido de infância, em 2008). Ela cresceu em uma fazenda de 200 hectares fora de Nashville, perto de uma cidade chamada Thompson’s Station. “Não havia nem um poste de luz”, conta. “Meu pai colocou todos os postes e placas de sinalização, porque não tinha nada lá. Ele é meio que o prefeito de lá, porque a cidade não teria luzes se não fosse por ele. Agora tem até um Starbucks, é muito estranho.” Quando criança, ela sempre estava ao ar livre. “Ainda sou meio que seminudista, porque nunca usava roupas”, conta. Cresceu pilotando 4x4s (que amava) e cavalgando (o que não gostava tanto). Era uma criança engraçada, extrovertida, um pouco estranha, que gostava de animar torcidas, de Limp Bizkit e Hilary Duff. Às vezes, saía em turnê com o pai e seu trabalho era subir ao palco depois do show e pegar toda a lingerie que atiravam nele. “Eu pegava uma enorme e falava: ‘Pai! Encontrei sua maior fã!’”, conta, rindo. Ele pagava US$ 10 para a filha.

Miley frequentou uma escola particular evangélica por um ano até ser expulsa por a) roubar a scooter da professora ou b) contar para o resto da classe o que era “beijar de língua” (ela não sabe ao certo). Tinha 11 anos quando fez o teste para Hannah Montana. O pai não queria, mas ela eventualmente o convenceu. “Acho que ele não queria que eu sentisse qualquer tipo de rejeição”, diz. “Não queria que eu fosse machucada pela indústria.”

A transformação de Miley de namoradinha da América a seja lá o que ela é agora começou a acelerar há três anos, quando ela foi para Detroit rodar um filme chamado LOLA. “Detroit é onde senti que cresci”, ela conta. “Só fiquei durante o verão, mas foi quando comecei a ir a boates, onde fiz minha primeira tatuagem – bom, não a primeira, mas a primeira sem autorização da minha mãe. Menti e falei para o cara que tinha 18 anos. É um coração no dedo e usei curativo por dois meses para minha mãe não descobrir.” Também fez amizade com a coestrela do filme, Demi Moore, cuja relação tumultuada com Ashton Kutcher estava se tornando um grande assunto nos tabloides. “Foi incrível, porque acho que precisávamos uma da outra naquele momento”, diz. “Ambas precisávamos sair de Los Angeles.” Só que foi no verão passado, na Filadélfia, que Miley encontrou seu novo estilo. Estava morando lá com Hemsworth, que estava fazendo um filme com Harrison Ford. “O melhor verão de todos”, diz. “Já foi à South Street? É onde comprei minha primeira corrente. Dezesseis paus – não é de verdade”, conta rindo. “Fiquei longe das pessoas por um minuto e comecei a sentir minha própria vibração. Comprei um par de Doc Martens, raspei a cabeça, dirigia um Ford Explorer. Simplesmente me misturei.”

Pouco depois de começar a gravar Bangerz, Miley limpou a casa. “Basicamente cortei todos os laços”, afirma. “Demiti meu empresário, saí da gravadora. Comecei de novo. Realmente queria ter ficado com meu empresário, mas acho que isso” – a recente evolução – “teria assustado. Não acho que teriam tanta fé no que estou fazendo”. Miley contratou o empresário de Britney Spears, Larry Rudolph, mas ainda está no controle. Sua vida é notavelmente sem intermediários – sem assessores de imprensa, sem gente dizendo o que pode e não pode fazer. “Passei tempo demais com adultos quando era criança”, explica. “Agora, não quero ficar com adultos. Já fiz todo o trabalho duro, posso largar mão.” O clipe para “We Can’t Stop” foi inspirado por essa diversão – uma épica festa caseira de dois dias. Ao amanhecer, subiram no teto para ver o sol nascer e Miley ficou cantando o verso de “We Can’t Stop”, que diz “This is our house, this is our rules”, (Nossa casa, nossas regras), mas reescreveu como “This is our house, this is our roof” (Nossa casa, nosso teto). Atualmente, ela é bem próxima dos pais e os vê uma vez por semana. “Meu pai sempre está em casa”, conta. “Ele diz que ‘não tem nada para fazer’ e fica descansando o dia inteiro, então vou visitá-lo.” Um dia, foi até o quintal e viu uma figura sombreada nos arbustos. “Achei que seria assassinada”, conta, “e então vi meu pai pulando meu muro. Ele falou: ‘Filhota! Achei um caminho secreto para ir da minha casa à sua sem ter de passar pela rua!’ Respondi: ‘Pai, você definitivamente invadiu o jardim de alguém’.”

Ela passa mais tempo com a mãe, Tish, que segundo Miley sempre sonhou em ser artista, mas não conseguiu devido à ansiedade. “Ela fez balé dos 3 aos 30 anos, mas era muito tímida.” A mãe viaja com a filha, mas ainda consegue fazer Miley se lamentar. “Quando ela está me envergonhando, me chama de ‘docinho’”, conta. “Quando eu estava prestes a colocar a fantasia de ursinho no VMA, ela disse: ‘Docinho, você não precisa ir ao banheiro antes de colocar a roupa?’ Falei: ‘Mãe! O Kanye está aqui!’”

Por um tempo, o pai de Miley ficou bem irritado com a vida festeira da filha. Em 2011, Billy Ray deu uma entrevista em que disse que, se pudesse voltar no tempo e impedir que ela virasse Hannah Montana, faria isso. Miley diz que eles se dão melhor agora. “Temos uma relação diferente”, conta. “Agora, ouço histórias loucas dele. Nunca soube que ele fumava maconha. Achava que era esquisito – agora sei que só estava chapado.”

Na manhã seguinte, Cheyne está na cozinha se preparando para a viagem. Do quarto, Miley manda uma mensagem: “Acho que estou tendo um ataque de pânico”. Enfim, decidimos ir pular de paraquedas. Todos estão com medo, mas ninguém quer dar para trás. “Não acredito que estamos fazendo isso”, ela diz, descendo as escadas. Ela está vestindo uma regata branca e calça vermelha, o cabelo está preso com aquelas marias-chiquinhas. Pega alguns Gatorades e botamos o pé na estrada. Estamos indo para uma cidade chamada Perris, no deserto a caminho de Palm Springs. É a sede do Skydive Perris, supostamente um dos melhores pontos de paraquedismo do país. O plano era sair cedo para evitar os paparazzi, mas dois deles já estão à espera. “Devo dizer que darei uma foto?”, Miley pergunta. Cheyne concorda e para o carro. “Ei, daremos uma foto agora se vocês não nos perseguirem o dia inteiro”, diz. Os fotógrafos aceitam. “E daí vocês vão embora?”, pergunta Miley. “Sim.”

“Ok”, ela diz, e sai do carro, posa por 30 segundos, volta e partimos (“Normalmente dou uma foto e eles são bem legais”, conta).

Cheyne vai a 145 km/h. “O deserto é esquisito demais”, diz Miley. “É onde todos os drogados vivem. É como Breaking Bad na vida real. Eles vão até a lanchonete e vendem metanfetamina. País da metanfetamina. Cidade da metanfetamina.” Ela se vira para Cheyne. “Acha que conseguiremos ver o mar?”

“Se o céu estiver limpo”, ele responde.

“Temos de continuar fazendo coisas muito loucas”, afirma Miley. “Preciso da minha própria coluna na Rolling Stone, onde cada edição é sobre algo louco que fiz.” Estamos a uns 15 minutos de distância quando ela começa a apontar para alguma coisa no parabrisa. “Ai, meu Deus”, diz. “Dá para ver as pessoas caindo do céu!” Mais à frente, alguns metros acima do horizonte, pontos pretos estão descendo até o chão. “Ai, meu Deus”, diz. “Por que o cara está girando? Ele está de cabeça para baixo! Ele virou de ponta-cabeça!” Paramos no estacionamento e Miley encontra Scott Smith, seu instrutor no dia. Scott faz paraquedismo desde 1978; já deu mais de 12 mil saltos. “Confio em você”, ela diz, “mas estou com medo.”

“Que bom”, Smith responde. “Há dois tipos de pessoas que dão o primeiro salto – as que têm medo e as que mentem.” Ele a leva para assinar alguns formulários e ela ri da frase que diz “Nem sempre os paraquedas funcionam”. Coloca o nome da mãe como contato para emergências; em “trabalho”, preenche “desempregada”. “Se eu morrer”, diz ao instrutor, “vocês estarão muito ferrados.”

Enquanto esperamos nossa vez, Miley fica do lado de fora fumando sem parar e fãs se revezam para ir tirar fotos com ela. A maioria a elogia pelo VMA. “Mostra a língua!”, uma avó lhe diz. Então, é hora de se arrumar. Enquanto nos acomodamos dentro do avião, Miley e Cheyne se dão as mãos. Subimos por uns 15 minutos – para 8, 9, 10 mil pés. “Estamos prestes a saltar agora”, ela diz. Finalmente, a 12.500 pés, o avião se estabiliza. A porta se abre e Miley e Smith se aproximam dela. Ela fica com os dedos dos pés para fora enquanto o deserto passa por baixo deles. Cheyne, que não parece estar se divertindo, range os dentes. “Porra, Miley Cyrus!” Só que ela já saltou.

Seis minutos depois, todos estão seguros em terra. “Puta merda!”, exclama Miley. “Foi incrível!” Ela liga para a mãe e diz que está viva. “Uma coisa de saltar de paraquedas”, diz, “é que você realmente sabe quem ama, com base em para quem liga.” Pergunto se ela já falou com o noivo. “Ai, droga!”, ela responde e pega o telefone de novo (duas semanas depois, o casal anunciou a separação).

De volta ao carro, Cheyne abre o GPS e dá a rota para um de seus locais preferidos de fast-food, uma cadeia que só existe no sul da Califórnia chamada Baker’s Drive-Thru. “É como um White Castle mexicano”, conta. “É muito bom”, diz Miley. Ela pede um hambúrguer de taco completo e um refrigerante gigante. “Acabamos de saltar de um avião!”, ela diz. “Você não pode me dizer nada!

Já em Los Angeles, o telefone dela apita. “É por isso que amo tanto o Pharrell”, ela conta, e lê em voz alta uma mensagem que ele enviou. Tem pelo menos mil caracteres e ela rola a tela. “O VMA não foi nada mais do que Deus ou o Universo te mostrando o poder de tudo o que você faz”, diz um trecho. “É como o urânio – tem o poder de acabar com vidas ou dar energia a países inteiros. Agora que você viu seu poder, domine-o.”

“Você não é um desastre”, ele diz no fim da mensagem. “Você é quem conduz todo mundo.”

Em casa, Miley, esgotada de toda a adrenalina, sobe para dar um cochilo. Quando acorda, algumas horas depois, ainda se sente estranha. “Vocês tiveram tremedeira?”, pergunta. “Comecei a me sentir tonta – tive de sentar por um segundo.” Respira profundamente. “Meu coração está a milhão. Acho que fiquei com um pouco de vertigem!” Na cozinha, Cheyne prepara um drinque – Gatorade e Malibu – e ela se recompõe e sobe a escada novamente para se trocar. Quando volta, veste uma minissaia punk de couro preta e botas pretas Chanel de cano alto.

Miley na realidade não sai muito de casa (“Eu me chamo de Rapunzel com moicano. Fico na janela, olhando para os paparazzi, querendo sair”), só que esta noite vamos ao que ela promete ser a melhor casa noturna de Los Angeles: Beacher’s Madhouse, no hotel Hollywood Roosevelt. Todos entram em umaSUV,com Miley retocando o batom sentada no banco do passageiro. Cheyne abre caminho e o grupo passa à frente da fila no lobby e é levado para um camarote, que Miley chama de “gaiola”. O promoter lhe dá um abraço e manda uma garrafa de vodca. A boate, que apresenta uma variedade peculiar, parece saída de um sonho maluco: um stripper velho de shorts de couro, dançarinas usando meias arrastão, um Psy em miniatura dançando “Gangnam Style”. “I Believe I Can Fly” toca nos alto-falantes e um anão Oompa-Loompa entediado, preso a um cabo com um gancho na parte de trás do macacão, é içado até o teto e despenca em uma mesa com algumas garotas, a quem entrega uma garrafa de bebida.

Ficamos até depois de a boate fechar. Miley passa a noite inteira dançando sobre um banco e bebendo Malibu. Mais tarde, Cheyne chama alguns carros e uma dezena de amigos de Miley vai até a casa de seu amigo Ryan, em Hollywood Hills. A afterparty parece algo saído do clipe de “We Can’t Stop”: um bando de gente moderna e jovem fazendo festa em uma casa bonita até demais. De repente, Miley Cyrus fica empolgada. “Esta é a casa de verdade!”, afirma. “A casa – ‘This is our house, this is our roof’ – é este o lugar! E estes são os amigos!” Ela não consegue parar de sorrir. “Estamos realmente vivendo aquela vida!”