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P&R - Adriano Cintra

Músico fala sobre a conturbada saída do CSS, banda que fundou e liderava

Bruna Veloso Publicado em 09/12/2011, às 12h19 - Atualizado em 23/12/2011, às 12h51

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<b>PASSAGEIRO </b> “Nada na vida é para sempre”, diz Cintra sobre o antigo grupo - RAQUEL ESPÍRITO SANTO
<b>PASSAGEIRO </b> “Nada na vida é para sempre”, diz Cintra sobre o antigo grupo - RAQUEL ESPÍRITO SANTO

No dia 11 de novembro, Adriano Cintra anunciou, de surpresa, que estava fora do CSS (para muitos brasileiros, ainda Cansei de Ser Sexy). Em um post no Facebook, o produtor, fundador, compositor e instrumentista avisou que as integrantes remanescentes da banda não tinham autorização para usar ao vivo as bases musicais gravadas por ele. Dias depois da entrevista para a Rolling Stone, porém, ele divulgou que havia chegado a um acordo amigável com a vocalista Lovefoxxx e o restante do grupo. Morando em São Paulo e sem vontade de voltar a residir em Londres, onde viveu por anos, Cintra explica seus motivos e divaga sobre como vai trabalhar daqui para frente.

Por que você saiu do CSS?

Não queria fazer o terceiro disco, a gente estava parado fazia um ano e meio. Já tinha dito para elas que, se queriam fazer, seria diferente dos outros, todo mundo teria que colaborar. No começo a gente até tentou, só que não rolou, porque nunca foi assim. Eu cheguei a sair da banda em maio. Elas nem souberam, porque o empresário pediu para eu ficar.

E depois, o que aconteceu?

No meio da turnê europeia, mais ou menos em agosto, eu comecei a ter um problema no dedo [mínimo]. Não bebo mais faz quase dois anos, comecei a malhar todos os dias, e a cada três meses faço um monte de exames. Tinha uns exames marcados no Brasil, aproveitei para ver o dedo e descobri que estava com LER [lesão por esforço repetitivo], que não poderia tocar todos os dias. Seria melhor a banda continuar até o fim do ano com um baixista substituto. Só que tem um problema: nos shows, mais da metade das músicas tem backing tracks, nas quais sou eu tocando. Eu quis receber por isso, e o empresário concordou. Uns dias antes do pagamento do salário, recebo um e-mail dele dizendo que elas achavam que eu não precisava mais receber, uma vez que eu não estava em turnê, “e porque, afinal, você tem outras fontes de renda”. Fiquei puto. Mas essa coisa do backing track foi só a gota d’água, o pouco caso final. Já estava ficando muito angustiado de estar em uma banda em que as pessoas não gostam de tocar, não gostam de ensaiar.

Sempre foi claro que elas não eram grandes instrumentistas. Mas quando um jornalista apontava isso, você se enfurecia.

Porque uma coisa é falar que não sabe tocar nada, entendeu? Elas tocam: aquilo que elas se propõem a fazer, elas tocam. Mas foi me constrangendo a falta de interesse em evoluir. A Lovefoxxx, por exemplo: o timbre dela é lindo, ela interpreta superbem. Só que ela canta mal pra caralho, tudo fora do tom. Uma vez reuni as meninas, menos a Lovefoxxx, pra tentar fazê-la entrar numa aula de canto. Ninguém quis. Daí eu falei e ela ficou puta comigo.

Você vê, para o futuro, uma possibilidade de volta?

De jeito nenhum.

O CSS teve importância por ser música brasileira para exportação, mas sem o rótulo de MPB. Qual é o legado do grupo?

Aquilo é um pedaço de mim, sempre vou amar e respeitar aquilo. Eu não sei dizer o que foi o legado, porque como a gente estava lá, vivendo, era muito louco. Estávamos no lugar certo, na hora certa, fazendo tudo errado – e deu certo [risos]. Foi muita sorte. E a Lovefoxxx é muito carismática, ela é como um Iggy Pop da floresta [risos].

Qual é a melhor lembrança que você guarda do CSS?

Todas as lembranças boas de shows, que foram incríveis, o Glastonbury, os dois Coachella em que a gente tocou.

O que você tem para lançar daqui para frente?

Fiz dois Soundclouds, um é o Meus Dedos Sujos, onde estou colocando tudo que fiz desde 1994. Muita gente não sabe que eu toco desde o final dos anos 80, e que já tive um monte de banda. E tem o My Dirty Fingers, onde botei uma música que fiz e gravei no dia em que saí da banda. Não sei como vai ser, acho muito cedo para ficar pensando em plano de lançar disco, contrato, empresário. Sei que no ano que vem eu e minha sócia vamos abrir um selo em nossa produtora.

Gostaria de produzir outros artistas?

Não gosto muito de produzir outras pessoas, gosto de colaborar. Para pegar uma banda e produzir não tenho paciência.

Você está com 38 anos. Diminuiu a vontade de estar em turnê, viajando?

Sim, acho um saco. Não sei se vou voltar a fazer isso um dia. Quem sabe com dinheiro, se me chamarem para uma banda que eu goste muito.

Em entrevista recente à Rolling Stone, a Lovefoxxx disse que não se imaginava sem ter os integrantes do CSS como amigos. Já foi assim para você?

Claro que já. Tanto que, apesar de todos esses problemas, eu nunca tinha tido a coragem de tomar a atitude e sair. Teve que chegar num ponto que ficou insustentável. Mas nada na vida é pra sempre, né? Até o Thurston Moore [do Sonic Youth] se separou da Kim Gordon.