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Wagner Moura aproveita a estreia internacional em Elysium para explorar novas experiências artísticas

Paulo Terron Publicado em 27/09/2013, às 12h47 - Atualizado às 12h48

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<b>Rebelde invasor</b>
Pela primeira vez, Moura teve de interpretar somente em inglês - Stephanie Blomkamp
<b>Rebelde invasor</b> Pela primeira vez, Moura teve de interpretar somente em inglês - Stephanie Blomkamp

Depois de se tornar nome conhecido na TV, no cinema e até na música brasileira (ao substituir Renato Russo na reunião mais recente do Legião Urbana), Wagner Moura partiu para desafios em outras terras e idiomas. Em Elysium, ficção científica do sul-africano Neill Blomkamp, ele é Spider, uma mistura de hacker com líder de gangue que tenta ajudar Max (Matt Damon) a chegar à estação espacial que dá nome ao filme.

Os planos futuros do ator também são ambiciosos. Além do envolvimento com o filme Serra Pelada (que produziu e no qual também atuou), Moura anunciou que em breve estreará na direção, com um longa sobre os últimos anos do guerrilheiro Carlos Marighella. Meses antes da estreia de Elysium, ele conversou com a Rolling Stone Brasil sobre a mistura de arte e política, algo que permanece no DNA artístico dele desde o sucesso arrebatador de Tropa de Elite (2007).

Neill Blomkamp se diz mais um artista visual do que um diretor. Ao mesmo tempo, tudo o que ele fez parece ter ligação com o aspecto social. Não parece algo forçado.

São duas coisas – arte e política – que, a princípio, acho que devem ficar separadas. A mistura só funciona quando o DNA daquele artista não permite que ele faça de outra forma. O [diretor de Tropa de Elite] José Padilha é assim, entendeu? Ele não sabe fazer se não tiver isso. Acho que com o Neill é a mesma coisa. O fato de ele ter crescido na África do Sul durante o apartheid... Isso está nele, fica natural. É parte do trabalho do cara, tudo o que ele fizer vai ter essa mistura.

Você diz que Elysium pode ser visto de duas formas, uma política/social e outra não. Tropa de Elite também é assim. Blomkamp declarou que quando viu você em Tropa, logo pensou: “Quero trabalhar com esse cara”.

E são dois filmes muito parecidos nas propostas. Eu entendo ele gostar de Tropa de Elite, entendo totalmente. Ele gosta muito, é por isso que eu estou aqui.

Você tinha noção desse apelo global quando você viu o projeto de Tropa de Elite pela primeira vez? Quando assisti, achei que seria apenas um fenômeno brasileiro.

Não, não. Eu também achei. Não achei que teria esse apelo internacional, não achei que teria a polêmica que teve no Brasil [alguns críticos e parte do público enxergaram o filme como um louvor ao autoritarismo do Bope]. Achava que seria um filme político, já sabia que tinha essa mistura legal de entretenimento com política. O Tropa de Elite é muito visto fora do Brasil, todo mundo que faz cinema em Los Angeles viu e se amarra. Eu não esperava isso.

Voltando a Elysium, seu personagem rouba informações, algo muito falado em um mundo pós-Wikileaks. Isso inspirou você?

Cara, sinceramente não... Mas essa coisa de “sociedade da informação”, de faculdade de comunicação, já é quase passado, né? Acho que os hackers talvez sejam os novos piratas do mundo. E hoje tem coisas tipo a foto da Carolina Dieckmann, que sai do telefone dela e vai parar na internet. É uma realidade que a gente vive. Eu pensava no personagem mais de um ponto de vista humano: essa sensação de ser excluído, de fazer parte da periferia. Pensava nos rappers, no discurso dos Racionais [MC’s]. Essa coisa do cara que é excluído, mas quer que se foda o sistema. Ele está feliz, orgulhoso de não fazer parte disso. Meu personagem é assim. Ele manca – e nunca quis ir para Elysium para consertar a perna. Se ele puder chegar lá e tomar aquela porra toda, aí ele vai ficar amarradão. Quando ele encontra o personagem do Matt Damon, essa possibilidade vira realidade.

Imagino que tenha sido difícil atuar pela primeira vez em outra língua, mas deu também a adrenalina de fazer algo novo, diferente?

Totalmente. É um negócio que eu nunca tinha feito. Pensei: “Vai me tirar do conforto”. Achei muito difícil. E eu falo inglês normal, não falo pra caralho, nunca morei fora do Brasil. Foi uma das coisas que me instigaram a querer fazer o filme, com certeza.

O quanto você pensa antes de escolher um papel? Ou como opta por não fazer uma novela, por exemplo?

Quanto mais o tempo passa, mais penso nisso. Comecei no teatro, fazendo um monte de coisa para sobreviver daquilo, o que é louvável, mas [sempre pensei] no quanto podia escolher cada coisa para que aquilo me fizesse a pessoa que sou. A pessoa e o artista que sou são a mesma coisa. Tenho 36, estou cheio de filhos, trabalho nisso há muitos anos – não faz sentido aceitar algo que não me represente. A não ser que eu esteja em uma situação financeira fodida, aí é normal. Mas enquanto eu puder escolher, eu vou.

E Elysium faz muito sentido. Tem tudo isso: falar inglês, ver como é um filme grandão em Hollywood, contracenar com atores que você vê no cinema, tudo isso é um barato. Fazer filme com espada, com arma... Porra, quando é que a gente vai fazer isso no Brasil? É tudo do caralho. Mas eu não faria, nem fodendo, se fosse algo que não me fizesse pensar: “Porra, quero de verdade”. Se eu não tivesse visto [o primeiro filme de Neill Blomkamp] Distrito 9 e pensado “olha esse diretor, essa combinação de política e entretenimento”, eu não faria. Mesmo.