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João Gordo diverte-se em repertório brega de novo disco: 'música de corno'

Cantor entrega detalhes de 'Brutal Brega', seu disco recente que une punk a clássicos românticos dos anos 1970: 'faziam parte de nossa trilha sonora"

Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 20/10/2022, às 16h46

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João Gordo (Reprodução)
João Gordo (Reprodução)

João Gordo mal começa a cantar e ouvidos mais treinados já reconhecem: aquela não é uma faixa do Ratos de Porão. Na voz gutural do vocalista, "Fuscão Preto", clássico brega do Trio Parada Dura de 1981, até passa por uma faixa roqueira. Mas João garante: todos os versos ali são "música de corno".

"Fuscão Preto" é uma das 14 faixas de Brutal Brega, um dos cinco discos previstos por João para 2022. A partir de bases enviadas a ele pelo produtor Val Santos, o cantor reimaginou clássicos do brega brasileiro com pegada punk - e acabou revelando uma parte até então desconhecida de seu repertório.

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"Cara, a rádio AM e esses locutores populares dos anos 1970 faziam parte de nossa trilha sonora. Você ficava ligado na cozinha de casa, ouvia Gil Gomes, Zé Béttio, Sérgio Campos, Barros de Alencar. Eles ficavam ali. Sem querer fui decorando as músicas. Todas as músicas que eu gravei, eu sabia de cor as letras. Dei preferência para elas, pra não ter muito trabalho", disse o músico em entrevista à Rolling Stone Brasil[veja abaixo].

A produção, feita inicialmente por trocas entre João e Val pelo WhatsApp, acabou ganhando corpo e rendeu 35 músicas - 14 delas presentes no disco. Sobre as demais, João diz que se encaminharam por outro estilo, e adianta: 'Então o próximo disco, volume 2, vai ser de MPB baiana'.

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Para o disco lançado no último dia 6 de outubro, a seleção acabou ficando para o fino do brega - versões de Sidney Magal, Reginaldo Rossi e Ângelo Máximo. Em 'Não Se Vá', de Jane e Herondy, ganhou reforço de Marisa Orth: 'ficou sensacional com a voz dela, ela manja muito'.

João Gordo e Eduardo do Valle (Reprodução)
João Gordo e Eduardo do Valle (Reprodução)

O brega entre roqueiros

Brutal Brega é um dos lançamentos de João Gordo previstos para 2022 - que envolve o disco mais recente do Ratos de Porão, um tributo rockabilly ao Ratos de Porão, uma participação em um disco de death metal e um EP com releituras do grupo de hardcore finlandês Terveet Kädet, que sai ainda esse ano. Questionado sobre como o projeto brega vem sendo recebido pelos fãs mais puristas, João diz:

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"Tem gente que não gosta, tem gente que não gosta de nada que eu faço. Mas tem bastante fã no mundo inteiro que paga um pau", pondera. "E esse de brega eu não sei como vai ser, o cara tem que encarar com bom humor. Se pegar um cara que é radical, truezão, ele não vai curtir. Mas dá pra curtir na boa."

João Gordo (Reprodução)
João Gordo (Reprodução)

Os brutos também amam

Questionado sobre o tom romântico das músicas escolhidas, ele diz que o romance acontece para todos, independente do estilo ou do gênero, e que não deveria ser surpresa a música romântica na voz de um punk: "Você se apaixona, velho. Os brutos também amam. Mas ali é zoeira, tá ligado? 'Vou rifar meu coração, fazer leilão", foda-se! [risos]'"

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João garante que ele toca de tudo - ou quase de tudo, à exceção, talvez, de uns sertanejos mais recentes. O interesse pelo brega teria partido do mesmo espaço onde descobriu o rock - na mesma rádio AM de sua época:

João Gordo (Reprodução)
João Gordo (Reprodução)

"Isso ficava tocando ali atrás da gente, porque não tinha disco, não tinha rádio FM, não existia. Então era aquela rádio AM tocando. Só que nos anos 1970, rolava rock na rádio AM também. Além dos bregas, na Rádio América, assim, rolava rock também, porque era a época do rock. Antes de pintar a discoteca. Daí pintou a discoteca e fodeu tudo."

E, se João aproveita o momento para celebrar o brega a seu jeito, queremos saber dele o que seria, para ele, o brega cafona, aquele que não merece ser celebrado - e a resposta cai bem longe de qualquer aspiração musical:

"Essa elite nossa, classe média alta, classe média baixa, que é meio confusa, né?! Pessoal tem uma confusão de classe, não sabe a qual pertence. O pessoal pertence mais a nossa aqui, do trabalhador, que do bilionário que compra jatinho, saca? Então esse povão que representa o Brasil no exterior, cara, que é racista, fascista, nazista, mal educado, que acha que é rico, esse aí é brega. Esse é cafona pra caralho! Ô bagulho cafona, velho!"