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Buscando seu lugar

Com disco na lista dos dez melhores de 2011 da Rolling Stone, Fabio Góes não se encaixa no cenário indie atual e questiona: “Qual é a música pop do Brasil hoje?”

Bruno Raphael Publicado em 14/03/2012, às 17h13

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Fabio Góes - Divulgação/Debby Gram
Fabio Góes - Divulgação/Debby Gram

A carreira solo de Fabio Góes começou tardiamente – por volta dos 30 anos de idade –, mas a música sempre esteve presente na vida do paulistano, hoje com 36 e dois álbuns lançados. O Destino Vestido de Noiva (2011), sua mais recente trabalho, foi eleito o 10º melhor disco nacional do ano pela Rolling Stone Brasil. “Comecei tocando bateria aos 14 anos”, conta Góes, que passou por algumas bandas até montar a Pau Mandado na década de 90, depois de voltar com algumas canções prontas de Genebra, cidade suíça onde morou com o pai por um ano. “Nesse processo, fui fazendo outras canções que não cabiam na proposta da banda. Elas foram se acumulando e, com a banda parando, eu queria fazer algo com elas.”

Fabio Góes no Estúdio RS: músico mostra versões acústicas de canções de O Destino Vestido de Noiva.

De difícil definição, o som de Góes passeia pelo rock alternativo do Radiohead, mas sem deixar de lado a influência lírica de Guilherme Arantes ou até mesmo a nostalgia branda dos mineiros do Clube da Esquina. “No fundo, eu me sinto meio sozinho nesse lugar aí, sabe?”, diz, revelando-se um solitário até mesmo na hora de se encaixar em um nicho dentro da abrangente cena musical independente do Brasil. “Tem uma coisa de querer dar um monte de passo estético de uma vez só, e tem outra, que é fazer música de entretenimento”, afirma Góes. “Essa medida que eu acho que mais dá pano pra manga de analisar: qual é a música pop do Brasil hoje?”, questiona.

O músico leva consigo a influência de São Paulo para além de seu sotaque. No primeiro disco, Sol no Escuro (2007), por exemplo, a capa retrata um pôr do sol na capital paulista. “É uma vontade de fazer São Paulo existir como uma referência no Brasil”, reflete o músico e produtor. “Acho que nós temos uma história que é diferente de qualquer outra cidade. E o nosso país tem essa bandeira musical em relação ao mundo – quem cresceu aqui ouviu música pop de um jeito que nenhum lugar do Brasil ouviu, com uma intensidade que faz com que hoje exista uma cena em São Paulo que esteja, talvez, conseguindo um lugar bacana.”

Cotidiano, filhos, nostalgia, o lar e o futuro são alguns dos temas de canções como “Nossa Casa”, “Domingo e As Plantas” e “Amor na Lanterna”, esta última descrita pelo também músico e requisitado produtor Kassin (que toca baixo na faixa) com emoção. “Quando a música entrou, tive que disfarçar o choro. Me senti representado naquele momento da vida pelos versos do ‘Amor na Lanterna’. É intrigante o efeito de uma grande canção”, escreveu ele no site oficial do músico. Góes, por sua vez, afirma que nada em O Destino..., que tem ainda participações de Curumin e Luisa Maita, foi pensado de forma a tentar comover o ouvinte. “Acabou sendo algo natural usar a música para conseguir dar passos pessoais internos. Acho que foi o Caetano [Veloso] que falou: ‘As minhas músicas são autobiográficas e mesmo as que não são, também são!’ No meu caso, especificamente, isso é um pouco mais escancarado.”

O Destino Vestido de Noiva, por ser muito e lento e melancólico, é um disco cuja apreciação fica mais restrita”, continua. “Se você botar esse disco no carro pra viajar, eu tenho uma garantia maior de que ele pode ‘funcionar’. Se você der um play na sua casa, com um monte de gente, vão ter muitos torcendo o nariz. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas que conseguiram entrar na viagem puderam me dar uma reciprocidade gigantesca que eu nunca esperaria. Foi um desafio pra mim, porque não queria fazer outro disco igual [ao primeiro].”

O alcance de público de Góes, na opinião dele, reflete na divulgação atual do que é popular no Brasil. “Só consegue sobreviver de música quem tem dinheiro pra pagar por isso. E aí fica todo mundo refém de quem é Ivete, Skank, Restart... ou atinge um público gigantesco ou não rola”, dispara. “Não que esses caras não incentivem coisas legais, mas não pode ser só isso! O Los Hermanos, por exemplo, conseguiu quebrar esse ciclo. E tem o Criolo, o cara carrega uma bandeira que é brutal, que representa uma parcela da sociedade que tem carência de ídolos pra caralho. E quando um cara desse consegue chamar a atenção, esse é o cara."

O sucessor de O Destino Vestido de Noiva já está em andamento. Ao contrário do hiato de quatro anos que fez entre os dois primeiros discos, Góes quer seguir “pilhado” em suas composições. Segundo ele, o álbum já está quase pronto, sendo que talvez mais uma ou duas músicas surjam para complementar o trabalho. “Quero acabar até o final do ano e lançar ano que vem”, conta. “Montei meu estúdio agora com um amigo e compositor, André Caccia Bava [guitarrista de Lobão], para poder botar fermento nessa possibilidade de viver de ser produtor e compositor. Isso tanto pra trilha sonora – que é um negócio que eu gosto de fazer pra caramba –, quanto autoral. Daqui a pouco já tem música pronta. Se você der linha, a pipa voa forte.”

Fabio Góes passou recentemente pelo Estúdio RS. Ouça abaixo a música “O Surfista” (clique aqui para ver todos os vídeos):