Em entrevista coletiva em Los Angeles, a atriz que interpreta Eunice Paiva também falou sobre como o filme ‘virou um movimento pátrio’
Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)
Publicado em 04/03/2025, às 14h22Fernanda Torres revelou, na segunda-feira (3), durante entrevista coletiva em Los Angeles, que a equipe de "Ainda Estou Aqui" temia que o filme brasileiro saísse do Oscar 2025 sem uma estatueta. No último domingo (2), o longa de Walter Salles garantiu a premiação de Melhor Filme Internacional, o primeiro filme brasileiro a vencer na categoria.
"Tínhamos muito medo de não levar o Oscar para casa. Ficava um empurrando para o outro. O Walter dizia: ‘Você é que tem chance’. E eu dizia: ‘Não, Walter, você é que vai subir ali, estou empurrando para você essa responsabilidade’", disse Fernanda Torres.
A atriz também comentou sobre a reação dos brasileiros diante da vitória de "Ainda Estou Aqui" no Oscar.
"O Brasil está uma loucura. Não sei o que aconteceu que esse filme virou um movimento pátrio. O Brasil abraçou esse filme! Nós ficamos muito impressionados com o poder que isso foi criando, que isso foi representando", declarou Fernanda.
A produção retrata a trajetória de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, e sua luta após o desaparecimento do marido, o deputado cassado Rubens Paiva, papel de Selton Mello, durante a ditadura militar.
Durante a coletiva, Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva, destacou a importância do papel e o impacto da história.
"Fazer o Rubens (Paiva) foi uma honra e tanto. Meu Deus, é um homem que foi levado de casa e assassinado pelo Estado. Eu dei corpo a esse homem. Eu trouxe ele para viver de novo", disse o ator.
O diretor Walter Salles revelou que havia preparado um discurso mais político, mas acabou perdendo o papel no momento da premiação. No palco, ele improvisou e fez um agradecimento à equipe do filme e à trajetória de Eunice Paiva.
"Ele reforça a trajetória de Eunice. Fala da importância da resistência, fala do quanto nos ensinou, na verdade, a lutar sem perder essa capacidade de sorrir", contou Salles.
Na coletiva, ele compartilhou o discurso que havia preparado para a cerimônia do Oscar 2025:
"Obrigado, em nome do Cinema Brasileiro. Agradeço à Academia por reconhecer a história de uma mulher que, diante de uma tragédia causada por uma ditadura militar, optou por resistir para proteger sua família. Em um tempo em que tais regimes estão se tornando cada vez menos abstratos, dedico esse prêmio a Eunice Paiva e a todas as mães que, diante de tamanha adversidade, têm a coragem de resistir. Que nos ensinam a lutar sem perder a capacidade de sorrir, mesmo quando elas se sentem frágeis. Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Elas não apenas elevaram nosso filme, mas representam o fato de que a arte resistiu no Brasil. Governos autoritários surgem e desaparecem no esgoto da história. E livros, canções e filmes ficam conosco... Obrigado a todos, em nome o cinema brasileiro e latino-americano!! Viva a Democracia, Ditadura Nunca Mais".