Baterista explica como ambiente incontrolável resultava em shows insanos — e em esgotamento dos envolvidos
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 23/11/2024, às 08h00
No início dos anos 1990, não era exagero definir o Guns N’ Roses como a maior banda do mundo. Mesmo com a ascensão do Nirvana e a consolidação de nomes como U2, Metallica e Bon Jovi, o grupo de Axl Rose e Slash vivia um momento de enorme popularidade.
A chegada de Matt Sorum se deu nesse contexto. O baterista foi trazido do The Cult para ocupar a vaga deixada por Steven Adler, demitido por ir longe demais no uso de drogas — que era frequente na banda. Entre 1990 e 1997, ele foi o titular do posto, gravando os álbuns Use Your Illusion, o disco de covers The Spaghetti Incident? e um cover de “Sympathy for the Devil” (Rolling Stones).
O crescimento do Guns nesse período também foi estrutural e artístico. A turnê que promoveu Use Your Illusion — um trabalho que gerou dois álbuns com várias canções longas — teve mais de dois anos de duração. Começou no Rock in Rio, em janeiro de 1991, e terminou na Argentina, em julho de 1993. Quase 200 apresentações foram realizadas no período, majoritariamente em grandes arenas e estádios.
Em entrevista de 2016 a Mitch Lafon (via site Igor Miranda), Matt admitiu o espanto com toda a situação. O músico entendeu na prática o rótulo de “banda mais perigosa do mundo”, pois tudo o que acontecia ali era imprevisível, mesmo com uma grande equipe por trás se mobilizando para fazer tudo dar certo.
“Nunca sabíamos o que aconteceria. Não havia senso de estabilidade. Aquilo manteve a banda em um estado constante de agressão. Quando subíamos ao palco, descontávamos em nossos instrumentos em exaustão ou raiva. Aquilo fazia o show se tornar lendário.”
Em outra entrevista, à Billboard, em 2021, Sorum destacou que muito desse “perigo” vinha de Axl Rose. O vocalista costumeiramente se atrasava para subir ao palco nos shows. Quando ele chegava e a performance era iniciada, todos os envolvidos — músicos e fãs — demonstraram enorme intensidade.
“Estou no camarim, estamos duas horas atrasados. Estou frustrado. Assim que você sobe ao palco, era totalmente rock and roll. Antes de subir, estávamos abatidos pela frustração, raiva, ansiedade… tudo isso levava o show para outro nível. A plateia ficava elétrica, porque estavam com raiva devido ao nosso atraso. Mas assim que subíamos ao palco, algumas noites simplesmente pegavam fogo.”
Tamanha intensidade leva ao esgotamento. De volta à entrevista para Mitch Lafon, Matt Sorum relembrou, também, o fato de ter entrado no Guns N’ Roses justamente em um período onde a identidade artística era mais complexa.
“Tudo era tão diferente do que esperava. Achei que encontraria uma mistura entre AC/DC e Aerosmith, com Sex Pistols e Nazareth. Daí vieram os pianos e aquelas músicas épicas de 10 minutos. Fiquei surpreso.”
Como tudo se atropelava, Sorum e seus colegas não tinham tempo para se preparar. Em um contexto onde as músicas estavam mais elaboradas, as datas em estúdio de gravação eram escassas, a agenda de shows era imensa e ainda havia a personalidade de Axl para se lidar, existia apenas uma garantia: estar no Guns naquela época era cansativo.
“Não tínhamos muito tempo para preparar. Ensaiamos um mês e fomos gravar [os álbuns Use Your Illusion]. Tivemos que aprender 33, 34 músicas e logo gravamos. Tive muito para aprender. A forma que operamos era insana. Tínhamos um ou dois takes e estava pronto. Não havia cortes, como as bandas de hoje em dia.”
Apesar de tudo, Matt acredita que a experiência foi imensamente satisfatória. Não à toa, é conhecido até hoje no mundo todo por aqueles anos. Em meio a uma dinâmica onde Slash se apresentava como um líder musical e Axl controlava o que acontecia de forma geral — inclusive nos shows —, o baterista exerceu seu papel de apenas “segurar a barra”.
Por sete anos, deu certo. Entretanto, sua saída e toda a dissolução daquela formação do grupo se deu, também, por conta de um esgotamento inevitável. O rock and roll cansa.
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