Michael Beinhorn construiu carreira gravando nomes mais alternativos, como Soundgarden, Hole e Marilyn Manson
Igor Miranda
Publicado em 29/01/2024, às 11h00Michael Beinhorn se tornou um dos grandes produtores do chamado rock alternativo nas décadas de 1980 e 1990. O profissional trabalhou com o Red Hot Chili Peppers em seus dois últimos álbuns antes do estouro com Blood Sugar Sex Magik — The Uplift Mofo Party Plan e Mother’s Milk —, além do Soundgarden — no multiplatinado disco Superunknown —, Marilyn Manson, Hole, entre vários outros.
Por ter acompanhado a evolução da música ao longo das décadas, Beinhorn é um bom nome para se ouvir com relação ao momento atual. E o diagnóstico feito pelo produtor, especificamente no que diz respeito ao pop, não é nada bom.
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Em entrevista ao canal de Rick Beato no YouTube (via Ultimate Guitar), Michael opinou que a música pop atual não tem o mesmo efeito que tinha no passado. Em sua visão, tudo é orientado para gerar um gancho grudento, como um refrão forte — o que tira forças da proposta artística natural de uma canção.
Inicialmente, Beinhorn apontou que a chamada “indústria da música” sequer tem a música como produto principal. Qual seria este produto, então? Ele responde:
“Não sei se consigo dar nome. Parece música. Tem todos os elementos superficiais da música. As pessoas tocam notas, as pessoas cantam notas, há palavras acompanhando as melodias, há batidas, ritmos... mas não tem o mesmo efeito que a música teve no passado. Não tem o mesmo tipo de elemento comunicativo. Não ressoa emocionalmente nas pessoas.”
Na opinião do profissional, uma música capaz de ressoar em uma pessoa apresenta um diferencial notório. É algo que, em suas palavras, “dá para sentir no corpo e se torna tão pegajoso a ponto de não dar para se livrar daquilo, ficando por anos e anos, provavelmente pelo resto da vida”. Isso é, segundo ele, diferente de uma canção que traz “melodias ótimas a ponto de não dar pra parar de ouvir, mas que não trazem um elemento comunicativo central”.
O argumento, então, chega a seu ponto principal: para Michael Beinhorn, os artistas de hoje não são mais intérpretes de suas próprias canções. Não é algo inédito, mas para ele, se tornou ainda mais flagrante no momento atual.
“Há cantores como Frank Sinatra, que não criaram suas próprias músicas, mas foram intérpretes. Os artistas agora não são realmente intérpretes. Não é que eles não escrevem suas próprias músicas: eles não interpretem nada. Eles basicamente vão e cantam a música, seguem a melodia da maneira certa e vão. E só. Isso não dá a você, como ouvinte, muito espaço para ser capaz de ter empatia, de se conectar emocionalmente com o que está sendo cantado. Você ouve a voz da pessoa, tem um som que você gosta, sonoramente e apenas isso.”
Ao direcionar sua reflexão para a área que exerce, Michael Beinhorn apontou a importância de um produtor musical nesse processo. Para ele, um profissional da área deve dar seu próprio toque artístico ao som geral de uma música ou um disco — não apenas gravar de forma correta, seguindo a melodia e tentando encontrar um refrão pegajoso a todo momento, como se fosse algo matemático.
“As músicas de hoje são completamente orientadas para o gancho melódico. Sempre tem um, toda hora. Não há tensão ou liberação acontecendo.”
Como exemplo, Beinhorn citou aquela que talvez seja a música mais famosa que produziu: “Black Hole Sun”, do Soundgarden. Talvez seja difícil encaixá-la como uma canção pop, mas é fato que se tornou um hit e entrou no imaginário popular. E seja na época, seja atualmente, trata-se de uma composição que não segue padrões “fáceis” do pop.
“‘Black Hole Sun’ é um dos meus exemplos favoritos de uma música onde você sente muita tensão e talvez um pouco de liberação. Na maior parte da música, você está esperando por essa liberação. E a genialidade de Chris Cornell, como compositor, é sua habilidade de te levar junto — porque você fica esperando por uma catarse que eventualmente chega, mas ela vem quando ele decidir que virá. E ao longo do caminho, você recebe pequenos detalhes aqui e ali, como a bateria de Matt Cameron. É algo tão saboroso e imaculado, mas com muita tensão. E não há nada disso na música pop atual.”