A banda de rock que “público fascista” deveria ouvir em vez do Ira!, segundo Nasi
“Tenho 50 shows até o fim do ano. Eles têm seis. Por que eles não enchem o saco dos contratantes para contratar esses p#rras?”, diz cantor após polêmica
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 11/04/2025, às 12h49
Bem antes da repercussão do show realizado pelo Ira! no fim de março em Contagem (MG) — onde Nasi pediu para apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro irem embora do local e não ouvirem mais a banda —, o posicionamento político da banda é conhecido. Seja por letras ou por declarações em entrevistas, o grupo deixa seus ideais evidentes e, de acordo com o vocalista, não há incômodo nem mesmo com o cancelamento de quatro shows na região Sul, como consequência da polêmica recente.
Em entrevista a Yuri da BS para a Billboard Brasil, o cantor voltou a dizer que não deseja ter “público fascista”, em referência àqueles que concordam com os ideais de Bolsonaro. Não só isso. Ele ainda sugeriu outra banda brasileira de rock que esta parcela do público deveria escutar: Ultraje a Rigor, cujo vocalista e guitarrista, Roger Moreira, é conhecido apoiador do ex-presidente.
Inicialmente, ao relembrar o episódio em Contagem, Nasi reconheceu que “talvez tenha exagerado” e “não tenha sido claro” quando se manifestou. Embora tenha dito na ocasião “vão embora da nossa vida, não apareçam mais em shows e não comprem nossos discos”, agora ele afirmou: “Não expulsei ninguém”.
“Primeira coisa, eu não falei: ‘Saiam daqui agora’. Eu não mandei nada. Eu falei assim: ‘Olha, vocês não conhecem a história do Ira, não conhecem as letras do Ira!’. O Ira! é uma banda progressista. Nós somos democráticos. Nós passamos pela ditadura. O que eu quis dizer é o seguinte: eu não quero ter público fascista.”
Em seguida, o cantor de nome real Marcos Valadão Ridolfi reconheceu que não é possível impedir que fãs de posicionamento diferente ouçam as canções do Ira!. Ele complementou, com a provocação feita ao Ultraje:
“Agora, se o público fascista, de extrema direita, quer consumir minha música, o que eu posso fazer? Posso fazer nada. Não é do meu agrado, sabe? Eu não quero. Tem outras bandas. Vão curtir Ultraje a Rigor. Eu tenho 50 shows até o final do ano. O Ultraje tem seis. Por que eles não vão encher o saco dos contratantes para contratar esses p#rras? Lamento. Mas [...] eu e o Ira! saimos maior do que entramos. Eu tive o trabalho de mensurar todas as mensagens que recebi e 80% me apoiavam. Os outros eram emoji de cocô, ‘comunista lixo’… Eles pensam que me afetam. Você conhece uma pessoa não pelos amigos que ela tem, mas pelos inimigos. Então, se essa gente é minha inimiga, do Ira!, eu me sinto satisfeito. Meu Instagram cresceu 10% —e bloqueamos muita gente.”
Nasi também cita Gusttavo Lima
Em outro momento da entrevista à Billboard Brasil, Nasi disse que, mesmo se os quatro shows no Sul fossem mantidos, não iria mudar sua postura no palco. Também aproveitou a ocasião para citar Gusttavo Lima, cantor sertanejo também lembrado por seu apoio anterior a Jair Bolsonaro.
“Não [mudaria a postura nos shows]. Sinceramente, eu não sabia que ia tomar essa proporção toda. Primeiro: eu não cometi nenhum crime, correto? Eu não sou cantor que está respondendo por lavagem de dinheiro com o PCC. Não é? Você sabe de quem eu estou falando… Do Gusttavo Lima. O ídolo deles. Eu tenho que ter vergonha? Ou ele? Não tô falando que ele é culpado… Mas só de responder um processo desse, já é uma coisa muito ruim.”
Nasi rebate bolsonaristas em show do Ira!
Durante show em Contagem (MG), no último dia 29 de março, Nasi gritou “sem anistia” para manifestar seu apoio à condenação dos envolvidos nos ataques aos prédios do poder público em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. A fala também faz referência aos investigados pela tentativa de golpe de Estado em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na ocasião (via site Igor Miranda), o cantor disse:
“Pra vocês que estão vaiando, eu vou falar uma coisa pra vocês: tem gente que acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira! Nunca entendeu o Ira! Tem gente que acompanha a gente e é reacionário, tem gente que acompanha o Ira! e é bolsonarista, isso não tem nada a ver, gente! Por favor, vão embora! Vão embora da nossa vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos discos, não apareçam mais. É um pedido que eu faço.”
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Na última quarta-feira, 9, um comunicado divulgado por casas de eventos em Santa Catarina e Rio Grande do Sul confirma que quatro shows da banda na região Sul estão cancelados devido ao episódio. As performances aconteceriam em Jaraguá do Sul (30 de abril no Teatro Scar), Blumenau (1º de maio no Teatro Michelangelo), Caxias do Sul (2 de maio no All Need Master Hall) e Pelotas (3 de maio no Theatro Guarany).
Os perfis em redes sociais de três das quatro casas de eventos — Teatro Scar, Teatro Michelangelo e All Need Master Hall, esta via Stories — publicaram uma mesma nota assinada pela 3LM Entretenimento. O conteúdo (via site Igor Miranda) declara:
“Informamos que devido aos últimos acontecimentos envolvendo a banda Ira!, não temos outra alternativa a não ser os cancelamentos dos shows nas cidades de Jaraguá do Sul, Blumenau, Caxias do Sul e Pelotas. Recebemos inúmeros pedidos de cancelamento de ingressos adquiridos, desistência de patrocinadores e o risco claro de não progressão das vendas até as datas dos shows.
Lamentamos o ocorrido, somos uma produtora com mais de 30 anos de mercado e nosso principal patrimônio é o público, e este deve ser muito bem tratado por nós produtores e pelos artistas, que deveriam subir ao palco apenas para apresentar suas músicas e talentos.
A quem adquiriu os ingressos antecipadamente, os valores serão automaticamente restituídos, conforme as formas de pagamentos realizadas, diretamente pelo sistema de ingressos no prazo de até 30 dias. 3LM Entretenimento / Zig Tickets.”
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Em nota à parte, o Teatro Michelangelo afirmou:
“Respeito é um sentimento positivo que se caracteriza por considerar as qualidades de alguém ou algo, cultivando a empatia. Alteridade consiste em reconhecer que as pessoas e culturas são diferentes; elas são diversas e têm suas próprias maneiras de pensar e agir. Uma pessoa altruísta é aquela que pensa no outro antes de pensar em si. É ética ao considerar esse interesse pelo próximo como um princípio fundamental da moralidade.
Não nos importa sua crença religiosa, sua afinidade política, seu gênero, raça ou cor. Importa-nos, isso sim, que se divirtam e usem este espaço da forma que quiserem sendo sempre melhores do que entraram.
Aqui dentro queremos trocas de energia na estratosfera entre artistas e público, queremos rostos felizes na saída, tanto de público quanto artistas. Antes, durante e após, aqui dentro queremos respeito, alteridade e altruísmo! Gratidão pela compreensão disto, hoje e sempre!”
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Nasi se manifesta
Em entrevista a Yuri da BS para a Billboard Brasil, Nasi declarou que os shows “foram cancelados em comum acordo com o contratante” e “com muita tranquilidade”. Ele culpa uma movimentação de apoiadores de Bolsonaro com direito a pessoas que sequer iriam às apresentações.
“A gente achou, por ora, transferir para o futuro. Porque houve um bombardeiro desses fascistas. Porque eles agem de maneira fascista. É engraçado porque até o contratante falou que recebeu mensagens de pessoas de Manaus, algo como ‘ah, eu não vou no show’. (risos) O cara nem ia no show! Esses caras que estão enchendo o saco aí, robozinho… Todo mundo sabe como o gabinete do ódio age, né? Daqui a pouco eles eles pegam outro para Cristo. Numa boa, o Ira! saiu maior do que entrou nessa história.”
Ainda de acordo com o vocalista, boa parte da plateia em Contagem havia começado a gritar “sem anistia” antes dele — e sua manifestação está alinhada com o posicionamento político de décadas do Ira!. Embora reconheça o exagero ao afirmar que os fãs contrários deveriam “ir embora e não aparecer mais nos shows”, ele aponta que não gostaria de ter esse tipo de público.
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