Entre eles, o elogiado Os 33, sobre a tragédia dos mineiros no Chile
André Rodrigues Publicado em 29/10/2015, às 13h42 - Atualizado em 30/10/2015, às 14h02
“Docinho, caraca! Há quanto tempo você não come um caju doce assim?”, pergunta o ator Rodrigo Santoro no bar do mítico hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Aos 40 anos, ele parece ser um cara feliz. Entre calmas mordidas em pedaços de caju e figo, ele repassa a carreira e demonstra estar em paz. O entorno ajuda. Conseguimos ver alguns turistas usando a piscina e ainda é possível apanhar a brisa do aconchegante inverno carioca. “Eu me sinto bem, satisfeito e com saúde. Muito grato a Deus por tudo o que a vida colocou no meu caminho, inclusive pelas dificuldades, porque elas me ensinaram e aprendi.”
Rodrigo Junqueira dos Reis Santoro lança neste mês um novo trabalho internacional (já são mais de duas dezenas). No longa-metragem Os 33, ele interpreta Laurence Golborne, ministro da Mineração do Chile responsável por resgatar 33 mineiros soterrados em 2010 no Deserto do Atacama. A história comoveu o mundo. Durante 69 dias o planeta acompanhou o reality show que se seguiu até o resgate. “Ele chega pra resolver um problema e começa a se identificar com o drama. É um desespero. Um personagem no centro de um furacão.”
Brasileiros em Hollywood: artistas que, como Santoro, investem na carreira fora do país.
Desde a ponta sem fala em As Panteras Detonando (2003), Santoro tem chamado a atenção tanto de produtores interessados em seu talento quanto daqueles que apostam no tipo físico do galã latino. As pequenas participações em algumas produções e a rápida experiência na série Lost (2007) ativaram uma espécie de suspeita, como se ele sempre precisasse provar suas qualidades de interpretação a cada papel. “As pessoas têm o direito de falar o que quiserem, de se expressar, e essa liberdade é essencial. Claro, às vezes a gente se sente mal. Mas, amigo, faz o seu trabalho o melhor que puder e vai vivendo sua vida”, pondera o ator, falando sobre sobre as críticas e vaias que já recebeu, como quando ganhou o troféu de melhor ator no Festival de Brasília, em 2000, por Bicho de Sete Cabeças.
Rodrigo Santoro relata como foi a experiência de atuar em Golpe Duplo.
Hoje, além de lançar Os 33, Santoro grava entre Los Angeles e Utah, nos Estados Unidos, a série Westworld, criada por Jonathan Nolan. Produzida por J.J. Abrams, ela promete ser um dos grandes destaques da TV mundial em 2016. “E é ficção científica, um assunto de que eu gosto, mas que não conheço tanto assim. Estou me aprofundando mais.”
Nascido em Petrópolis, o artista fez a oficina de atores da Globo enquanto estudava comunicação social na PUC-Rio. Em 1993, começou a carreira em novelas e desde então alterna personagens mais comuns outros mais polêmicos. Já foi padre gato (na minissérie Hilda Furacão), travesti (Carandiru), irmão de Fidel Castro (em Che: O Argentino e Che 2: A Guerrilha) e supervilão de HQ (em 300 e na sequência 300: A Ascensão do Império). Depois de Os 33, já tem uma série de filmes para estrear, como Dominion, sobre o derradeiro dia de vida do poeta Dylan Thomas, e o faroeste Jane Got a Gun. Para coroar a fase madura, aparecerá nas telas ano que vem como Jesus na refilmagem do clássico Ben-Hur.
Rodrigo Santoro dá humanidade ao vilão Xerxes em 300: A Ascensão do Império.
Tranquilo, de fala mansa, Santoro se abre para diversos assuntos e faz questão de explicar cada um. A força dele parece se equilibrar sobre três palavras: saúde, humanizar e relativizar. “Uma coisa que meu professor na faculdade falava muito: relativizar. É preciso relativizar nessa vida. Isso faz o maior sentido. Tem que estar aberto para enxergar outros ângulos e pensar de várias formas. Eu gosto da palavra relativizar. Que palavra maneira.”
Com Rodrigo Santoro e Antonio Banderas, filme Os 33 oferece emoção honesta.
Os 33 traz um de seus papéis mais emocionantes. Como é interpretar alguém que existe?
Eu conversei com o ministro. O interesse não é na personalidade dele, mas sim naquilo que ele viveu. Eu não preciso falar como ele fala. Eu preciso vivenciar o que ele vivenciou, passar pelos conflitos e sensações. Meu encontro foi: “Conta o que você sentiu, você ficou sem dormir?” Só me interessava o universo interior. Até falaram de alguma semelhança física, mas não estávamos em busca disso. O relato dele foi mais um elemento de ajuda para eu trabalhar na construção desse personagem.
Você gosta desse processo?
Gosto. É onde eu entendo as pessoas, o ser humano. A única forma de você compreender o outro é se colocando no lugar dele, de verdade. Desde que eu comecei a trabalhar como ator, é isso que fica. Não é a crítica, o sucesso. É o que vivi ali. É a experiência. É o famoso “A gente leva da vida a vida que a gente leva”.
Sempre é um aprendizado, qualquer que seja o personagem.
Sim, existe a possibilidade de se despir dos preconceitos. Preciso ir para dentro, preciso tentar conectar com um sentimento interno. Com simplicidade, cara. Simplicidade não é o simplório. Para chegar no simples você precisa passar pelo caos inteiro. Como você chega na essência? Isso é um trabalho. Eu aprendo muito nesse processo, é sempre transformador. Vai ficando com você. É um processo de amadurecimento. Eu me humanizo, fico menos preconceituoso, aprendo a olhar para as pessoas com mais respeito. Eu abro e deixo ver quem você é. Aproximar para conseguir entender. Por isso adoro o que eu faço.
O filme mostra um político que vira uma espécie de herói, alguém que de fato se importa com as pessoas. Com a descrença atual na política, principalmente em alguns setores no Brasil, isso soa como uma raridade. Você acompanha política?
Sim, mas não me envolvo publicamente. Tenho minhas opiniões, todas elas, e as conservo. Acompanho pela internet. Não fico ali o tempo todo. Procuro dedicar tempo pra leitura, esportes e divido bem meu tempo. Não fico conectado 24 horas por dia.
Com Os 33, lá vamos nós ouvir que você está batendo na tecla de tentar sucesso lá fora enquanto aqui no Brasil há dezenas de projetos nos quais você poderia ser protagonista...
Olha, eu sempre fui aos poucos entendendo as coisas, não dando três passos de uma vez. É como eu sou com tudo. Não coloquei uma mochila nas costas e fui fazer uma carreira lá fora. Nem passava pela minha cabeça um dia trabalhar fora. As oportunidades surgiram a partir de Bicho de Sete Cabeças [2000], Abril Despedaçado [2001] e Carandiru [2003]. Os três foram para o circuito de festivais e surgiram as oportunidades como consequência. Carandiru foi para [o festival de cinema de] Cannes e eu recebi um prêmio de revelação na França. Isso trouxe muita atenção. Aos poucos comecei a viajar e encarei como uma grande aventura. É assim até hoje. A vida é curta para a gente não vivê-la intensamente.
Não tem um jeito certo, não tem fórmula para fazer as coisas.
Sim, não tem fórmula. Não é matemática. E é surpresa. A arte é melhor quando surpreende. Igual a quando você está pescando. Eu sempre pesquei – e você nunca sabe se vai conseguir pescar e qual peixe será. É zen, tem que ficar em silêncio, quase com uma despretensão.
Você aprende que não tem o controle. Não adianta mentalizar para o peixe fisgar seu anzol...
Até acredito no poder do pensamento. Mas não é assim. A gente ainda não está na época dos X-Men. Quer dizer, sei lá. Eu nunca vi [risos]. Vai saber.
Consegue ter esses momentos de relaxamento para pensar em você mesmo?
Sim. Quando identifico o turbilhão, é hora da reciclagem. Aí vou surfar ou meditar. Paro para esvaziar a mente. Se você não para e identifica, quando vê, está misturado com os problemas e perde o discernimento. Aí é engolido, a ansiedade toma conta e você não consegue fazer as coisas direito.
Você aparece agora como o ministro chileno, personagem contemporâneo, vivo e real. E acabou de sair do set de Ben-Hur, onde fez Jesus, personagem histórico, mítico e controverso. São trabalhos obviamente muito diferentes. O que te passa pela cabeça quando alguém bate na sua porta e diz: “E aí, quer fazer Jesus?”?
Me deu muita vontade de fazer. Nem questionei muito. Eu sabia que iria mergulhar num lugar delicado, mas ao mesmo tempo riquíssimo. Eu fui muito no meu sentimento pessoal. Claro que tive as dúvidas. Poxa, é a refilmagem de um clássico [de 1959], o personagem já foi feito milhares de vezes. E mais: o filme não é sobre Jesus, apenas se passa na época de Jesus. Tudo parecia “não, não entra nessa, é um risco de tomar tomate”. Mas eu estava com vontade de fazer, então...
Você é católico?
Fui batizado. Não sou uma pessoa religiosa, mas sou alguém que cultua a espiritualidade. Sempre trabalhei isso, sempre tive influências, os avós...
E qual é o processo para interpretar Jesus?
Na verdade, procurei me distanciar das referências, pois foi feito muitas vezes por muitos atores. Esse é o maior risco. E, primeiro, ninguém sabe: você estava lá? Tem a foto? Tem a selfie? Então, o que é e não é, não sabemos. O mais importante foi encontrar a essência, as coisas que ele veio dizer e ensinar. E o amor, que é o motor principal, a essência de tudo. Ir pra esse lugar. Muito mais do que saber do tamanho da barba e do cabelo. Estudei muito, o máximo que pude. Depois eu peguei tudo isso e tentei ir para o lugar no qual acredito. Um lugar de amor, íntimo, o que se chama de amor incondicional.
E deu pra conhecer o papa Francisco, né? (Rodrigo apareceu nas redes sociais ao lado do pontífice no Vaticano.)
Foi inesquecível, uma experiência absolutamente única. A gente foi para assistir à cerimônia. Eu estava numa área mais perto e uma senhora do meu lado chamou muito a atenção dele. Aí ele veio e tiraram a foto. Aconteceu. Graças a Deus ficou guardado. Acabou funcionando como divulgação para o filme.
E agora você vai surfar novamente no universo das séries. Qual é a expectativa para começar a gravar Westworld?
Estou curtindo, porque a ideia da série é metafórica. Mas sei muito pouco da premissa e tenho cláusula contratual de sigilo, não posso te falar nada. Comecei a ver séries agora. Vi o tal do Breaking Bad e, uaaau, que coisa interessante. Você se envolve de uma forma... Eu estive na Comic Con, nos Estados Unidos. Na hora do almoço, fomos para um reservado. Sentei e um senhor de óculos apareceu com a filha e pediu para almoçar ali também. Não tinha a menor ideia de quem era, só que era simpático e muito bacana. Quando ele saiu, veio um monte de gente falar comigo: “Você o conhece?” Eu falei que tinha acabado de conhecer. E as pessoas: “É o Walter White!” [protagonista de Breaking Bad, interpretado por Bryan Cranston]. E eu não tinha noção! Acho que ele curtiu porque não tietei. Fiquei falando de mil coisas, que eu era do Brasil. Depois que eu vi a série, pensei: “É o cara gente boa do almoço!” [risos]. Também vi House of Cards e apreciei. Game of Thrones é a próxima que pretendo assistir. Dizem que todo mundo morre, né? É a filosofia da fila andando, né? Bacana [risos].
Em 2015, você completou 40 anos. Você se importa com isso? Faz um balanço da vida?
Tem um simbolismo, sim. Quando eu era moleque, achava que seria um senhor com 40 anos. Porque essa é a imagem quando você tem 15 anos. Eu imaginava meu pai. Pô, eu me sinto tão bem, muito disposto, graças a Deus. Faço esportes. Não tem peso, não, mas é simbólico. Estou vendo com olhos muito positivos. Acho que talvez seja uma nova fase. E tem muito a ver com o modo como você se sente. Vem muito de dentro. Claro que tem a idade física, mas eu ainda me sinto bastante disposto: jogo futebol, surfo, pratico snowboard, corro, de vez em quando ando de skate. Faço tudo.
Mas não bate a vontade de ter filhos, casar, formar uma família?
Tenho vontade. Mas não marquei na agenda quando tem que ser. Agora é um momento que me sinto mais maduro. Mas acredito muito no tempo das coisas. Eu me escuto muito. Desde que comecei a trabalhar nos Estados Unidos, as pessoas falam para eu ir morar lá. Até hoje não fui. Continuo morando no Leblon, Rio de Janeiro, onde sinto que é minha casa.
Mas nunca pensou nessa mudança definitiva para os Estados Unidos?
Claro que já pensei. Mas vivo um dia de cada vez. Estou te dando um depoimento bem realista. Estamos falando de hoje, nem sei que dia é hoje, mas faz 12 anos que comecei a viajar... Até hoje é assim que tenho feito.
Você produziu Heleno (2012), filme que também protagoniza e mostra a vida conturbada do craque Heleno de Freitas, do Botafogo. Voltaria a produzir filmes?
Tive uma experiência difícil porque também estava atuando, então foi uma demanda muito grande. Mas foi bom, aprendi muito. Nessa função você se aproxima mais de todo mundo. O grande negócio é humanizar as coisas. Fica mais palpável. Sai da sua cadeira e chega mais perto das coisas. E a vida começa a fazer mais sentido, fica mais interessante. Olha só, eu estou te falando isso tudo, aí chega um editor e coloca: “Ele, aos 40, acha que é o Dalai Lama”. Nada disso.
Seria mais fácil escrever que você se acha Jesus...
[Risos] Exato. Colocam na reportagem o título: “SANTOro”. Adoram fazer esses negócios. Sou jornalista, sei como é. Mas não brinquem assim, porque estou falando de coração aberto. Estou falando do material do meu trabalho. É o que eu faço. O ator é um estudante da vida. A gente tenta refletir o fenômeno da vida, falar dos sentimentos, das pessoas. A complexidade é muito grande e por isso é uma benção fazer esse trabalho. Eu vou me conhecendo. Posso entender melhor as pessoas, posso me entender melhor, posso me conhecer melhor. Claro que temos que ter opinião e individualidade. Não estou falando para se misturar, mas sim se aproximar. Procurar ter um olhar um pouco mais aberto. Pra mim, isso é respeito. Respeito com tudo e com todos.
Mas isso não te impede de ter raiva, frustrações, arrependimentos...
Sim. Tudo tem sacrifício. Nada é tão simples. Eu viajo muito, adoro. Mas tem o lado complicado de ficar longe, de estar na estrada sozinho. Muitas vezes eu gostaria de estar aqui com os meus amigos, me divertindo, indo tomar um chope, jogar futebol... E não dá. Não é exatamente uma frustração, mas é um lado. A Disneylândia está lá em Los Angeles com o Mickey. A vida não é assim, não.
Ao se olhar com 40 anos, não faz uma retrospectiva e encontra personagens que não deveriam ter sido feitos?
Eu não consigo pensar assim porque o importante é fazer o máximo que você pode naquele determinado momento. Não é justo olhar para trás e falar: “Se eu fizesse Bicho de Sete Cabeças hoje seria completamente diferente”. Claro! Tenho simplesmente 15 anos a mais! Eu fiz o que eu pude naquele momento. É procurar aceitar a vida. Não é a gente que está controlando. Não existe “eu gostaria que fosse”. Claro que tive meus momentos mais tristes, felizes, como qualquer pessoa. Qualquer ser humano quer ser aceito. Mas não tenho mágoa. Heleno, por exemplo, foi visto por cento e poucas mil pessoas. É bastante gente? É. Mas você vê outros filmes que fazem uma bilheteria muito maior. Claro que eu queria que ele tivesse sido mais visto. Tive uma dedicação absurda. Foi importante e poucas pessoas viram. Agora, se você me perguntar se eu carrego uma mágoa, uma frustração... Não! Eu gostaria que, de repente, mais pessoas tivessem visto o filme. Mas isso não tira meu sono e quando penso nisso não fico mal. Não, não, não! Isso é uma das coisas que aprendi ao longo da história. A gente faz e entrega. Aquilo está entregue. Pertence ao mundo.
Faz terapia?
Faço. Há um bom tempo. Isso tudo o que estou te falando são atitudes proativas porque eu tenho consciência dessas coisas. E essa consciência eu fui adquirindo com os anos, com a estrada, com as experiências. Claro que no começo foi mais difícil, apesar de eu já vislumbrar: “Adianta alguma coisa você se sentir dessa forma?” Mas vai adquirindo. Isso é outra coisa que é um benefício dos anos.
Você escreve?
Como exercício. E não dramaturgia. Às vezes, escrevo pensamentos. Eu gosto de lápis e papel. Mais pra colocar pra fora do que pensando que um dia vou juntar tudo e fazer um filme. Não é isso. É mais como um registro do que estou vivendo. Um dia eu estava em Montreal, no Canadá, filmando Dominion. Aí, eu sentei numa praça. É uma das coisas de que mais gosto de fazer: nada. Sentar e só observar. É difícil. Porque a cabeça vai a mil. Aí comecei a ver umas coisas acontecendo na minha frente. Comecei a ver uns detalhes. Vi dois amigos conversando, um comportamento superpeculiar de uma fi gura. Aí virei para o lado e tinha uma senhora com uma mala. Não sei o que ela estava esperando. Godot, talvez [referência à peça Esperando Godot]? Passei a tarde observando e depois escrevi um monte de coisas. Só o que eu tinha visto. E outro dia fui reler e achei muito interessante. Porque é a vida. Não inventei, não criei nada. Está tudo aí. A vida pulsa o tempo todo à nossa volta.
E que tal esse lugar que você ocupa hoje na cultura brasileira...
É este aqui. Esta poltrona. Estou ocupando um sexto dessa poltrona [risos].
Então tá, nesse lugar aí, nessa poltrona, você está satisfeito com esse um sexto?
Sim. Satisfeito, porque a satisfação é interna. Não é de conquista externa. Eu me sinto bem, grato. Eu realmente me sinto assim. A saúde está boa. Sem ela nada adianta. Você não faz nada sem saúde. Pode ter o dinheiro que for. O que você faz? É pra isso que eu rezo. Sempre. Saúde, força pra seguir. No final do dia, quando a gente coloca a cabeça no travesseiro, quem é que a gente escuta? É quem está dentro. Claro que temos companheiros, sou superconectado com a minha família, outra benção na minha vida, com amigos e namorada. Mas quando deita a cabeça no travesseiro, no final das contas, é você com essa turminha aí dentro. Se essa turminha estiver tocando o rebu, vai bagunçar a casa. Tem que deixar a casa em ordem. Todo mundo numa boa, sabendo relativizar as coisas, sempre. Então, nesse um sexto da poltrona está tudo bem.
Rodrigo Santoro está do lado de fora. No filme Os 33, vivendo o ministro da Mineração chileno responsável por encontrar e resgatar os mineiros soterrados no Deserto do Atacama em 2010, ele faz uma de suas melhores interpretações em um projeto internacional. Ao lidar com a imprensa de todo o mundo, os políticos e as famílias dos sobreviventes, Santoro representa o olhar do expectador – e certa impotência – diante da tragédia. Há bastante emoção e força em seus gestos e a relação que constrói com Juliette Binoche (que vive a irmã de um dos soterrados) é sutil e convincente. Antonio Banderas está do lado de dentro, incorporando Mario Sepúlveda, o “super Mario”, líder informal daqueles que lutam para sair vivos de um buraco em uma mina, a 800 metros da superfície. Fanfarrão e carismático, Banderas entrega um personagem com bastante empatia e energia. A diretora, Patricia Riggen, consegue se equilibrar bem entre esses dois polos, alternando drama e algum humor. O grande mérito do filme é não cair na pieguice nem deixar a trama frouxa, mesmo sendo baseada em fatos recentes e que foram explorados com grande intensidade.
Boa parte do filme Os 33 foi registrada nas minas de Nemocón, na Colômbia. O resto foi rodado no Chile, com sequências na capital, Santiago, no Palacio de La Moneda (onde fica a sede do governo) e na região de Copiapó, a província mais próxima de onde ocorreu o acidente com os mineiros, em 2010. Saindo de Copiapó, levase mais de uma hora de viagem para chegar até a mina San José, onde os 33 trabalhadores ficaram presos, em um ponto inóspito perto do Deserto do Atacama. A alguns quilômetros do local onde aconteceu a tragédia foi montado um set. A maior parte das cenas externas do resgate dos trabalhadores foi filmada lá, com a presença constante de Rodrigo Santoro, na pele do personagem Laurence Golborne. “Essa é uma história de sobrevivência e esperança, com um apelo universal”, afirmou o produtor, Mike Medavoy, durante as gravações. “Buscamos a autenticidade. O filme mostra que, mesmo nos momentos mais terríveis, todos têm oportunidade de se superar, como ocorre com o líder dos mineiros, Mario Sepúlveda [interpretado por Antonio Banderas]”.
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