A banda Daughter - Francesca Allen

Com baterista fã de música brasileira, Daughter estreia no país com show no Popload Festival

Festival, que também conta com Phoenix, PJ Harvey, Neon Indian, Carne Doce e Ventre, acontece na quarta, 15, no Memorial da América Latina, em São Paulo

Lucas Brêda Publicado em 14/11/2017, às 22h42 - Atualizado às 23h23

Foi necessário apenas um disco para o Daughter chamar a atenção de público e crítica. “Foi bem louco, porque não tínhamos muito tempo em estúdio e nem dinheiro, fizemos tudo muito rápido, cheguei a gravar todas as baterias em tipo uns três dias”, conta Remi Aguilella sobre o primeiro LP da banda, que é uma das atrações – ao lado de Phoenix, PJ Harvey e Neon Indian, entre outros – do Popload Festival, cuja edição de 2017 acontece na quarta, 15, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

If You Leave saiu em 2013, com uma sonoridade melancólica, calcada em guitarras limpas e ecoadas, baterias espaçadas e letras bastante emocionais. O álbum colocou o trio no radar dos grandes festivais, mas, em 2016, eles chegaram ao segundo trabalho, Not to Disappear, uma espécie de expansão dos temas da estreia. “No primeiro disco, eu tive a maioria das ideias no meu computador, nem sabia se conseguiria tocar o que estava criando”, lembra o baterista. “No segundo, tínhamos um espaço nosso, em Londres, dava para registrar todas as ideias e ensaiar muito.”

Para Not to Disappear, o Daughter pode ir ainda mais a fundo nas músicas, antes de encontrar o produtor Nicolas Vernhes (cujo currículo inclui trabalhos com Animal Collective, The War on Drugs, Deerhunter e Dirty Projectors) no Brooklyn (Nova York, EUA). “Quando fomos gravar, já tínhamos tudo – tínhamos um álbum finalizado”, explica Aguilella, que acredita que o trio conseguiu extrair o máximo de cada composição, às vezes até de maneira exagerada. “Pode ser desafiador, porque, tendo o seu próprio espaço, você pode trabalhar em uma música para sempre. Como não tem limite de tempo, você pode se deixar levar e aí não saber mais o que prefere: a música final ou a demo mais simples?”.

Na época de If You Leave, o Daughter era frequentemente referido como uma banda de “indie folk”, apesar de se distanciar da presença característica mais acústica do gênero – os violões do Mumford & Sons ou do Decemberists –, evocando muito mais a atmosfera reflexiva de artistas como o The National ou Fleet Foxes. Já Not to Disappear veio ainda mais recheado de sintetizadores e guitarras espaciais, uma abordagem mais sintética, incorporando elementos do pós-punk e uma agressividade pouco sentido no antecessor.

As músicas são todas criadas a partir dos sentimentos de Elena Tonra, vocalista e letrista no Daughter. “Em um projeto como o nosso, não posso ficar pensando: ‘Ah, quero que a música seja assim’. As pessoas – incluindo eu – se conectam com essas canções pela presença de Elena, seja nas melodias vocais ou nas letras ou em ambos”, analisa. “Minha opinião tem que circundar este elemento, e assim temos a sonoridade do Daughter”. Até por isso, para se encaixar nas músicas da líder, Aguilella admite que desenvolveu uma outra maneira de tocar bateria, muito mais variada e inconstante do que o comum.

Desde as primeiras músicas, a poesia e os vocais despedaçados de Elena deram o tom às criações, sendo que em Not to Disappear ela soa ainda mais direta do que em If You Leave (um disco de separação). A vocalista, aliás, tinha um relacionamento com o guitarrista da banda, Igor Haefeli, que possivelmente é inspiração (nem sempre positiva) para alguns versos das canções. “Tenho respeito por Elena e não quero nem saber do que se tratam as letras”, confessa o baterista. “Imagina se ela me contasse, tipo: ‘Ei, essa música é sobre um cachorro que morreu’, sabe? Perde a mágica, perde o mistério.”

Quando o Daughter subir ao palco do Memorial da América Latina, em São Paulo, será a primeira vez da banda no país. Aguilella, grande fã e admirador da música produzida no Brasil, está extremamente animado com o momento. “Estudei percussão, a música brasileira esteve muito presente na minha infância”, diz. “Até me preparando para a entrevista, eu fui tentar lembrar dos nomes”. Ele consegue balbuciar Tom Jobim, João Gilberto, Maria Bethânia (de quem ele “sabe cantarolar uma música inteira”), Gilberto Gil e cita até o baterista Iggor Cavalera, ex-Sepultura, e o grupo Cansei de Ser Sexy. “Vi um show do Seu Jorge esses dias e foi tipo: ‘Bum!’. Estou muito animado, até encontrei uma pessoa do Brasil que mora nos Estados Unidos e perguntei algumas frases em português. É um dos lugares que eu quero muito visitar.”

Popload Festival 2017

Phoenix, PJ Harvey, Daughter, Neon Indian, Carne Doce e Ventre

15 de novembro (quarta-feira)

Memorial da América Latina | Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo

Entre R$ 320 (pista) e R$ 500 (pista premium), com opções de meia-entrada. Vendas pelo site da Ticketload

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