Marcelo Nova e seus companheiros recordam o rock do Maluco Beleza neste sábado, 19, em São Paulo
Paulo Cavalcanti Publicado em 18/08/2017, às 19h22 - Atualizado às 19h50
No dia 21, na próxima segunda-feira, serão lembrados os 28 anos da morte de Raul Seixas. Nesta sábado, 19, Marcelo Nova e o Camisa de Vênus anteciparão a data como o show Toca Raul, que irá acontecer no Teatro Bradesco, em São Paulo. Nova foi amigo de Raul e também o derradeiro parceiro dele. Em 1989, ano em que Raul Seixas morreu, eles fizeram juntos uma série de apresentações e lançaram o LP A Panela do Diabo.
Curiosamente, apesar de fazer quase 30 anos desde que perdemos o Maluco Beleza, somente agora Nova resolveu fazer uma homenagem à altura do mestre. Ele explica como foi o longo processo até chegar em Toca Raul. “Panela do Diabo foi lançado exatamente no dia da morte dele. Depois disso, fui tocar minha vida e carreira solo. Quando o disco completou 25 anos, em 2014, pensei em fazer algo para marcar a data, afinal, é um disco muito bom e que não foi devidamente explorado.” Mas naquele momento havia também os 35 anos de carreira do Camisa. Marcelo Nova decidiu que seria mais oportuno celebrar o aniversário da banda que comanda e, assim, saiu em turnê com os companheiros.
No ano passado, Nova concluiu que o Camisa de Vênus precisava de um álbum de inéditas, assim surgiu o bem-recebido Dançando na Lua. A homenagem a Raul acabou adiada novamente, mas agora chegou o momento. Nova conta como será estruturada a apresentação. “Trata-se de um show feito em teatro, então vamos fazer dois sets distintos. O primeiro, com as músicas do Raul”, diz. Serão versões acústicas de músicas com pegada mais de rock, como “Metamorfose Ambulante”, “Cowboy Fora da Lei”, “Al Capone”, “Rock das Aranhas” e “Aluga-se”. Também serão executadas "Rock 'n' Roll" e “Pastor João e a Igreja Invisível”, de A Panela do Diabo. Já o segundo set terá somente hits do Camisa, incluindo “Eu Não Matei Joana D’Arc”, “Só o Fim”, “Bete Morreu”, “Hoje”, “Simca Chambord”, “Deus Me Dê Grana” e “Silvia”.
Hoje, Marcelo Nova é um dos raros discípulos de Raul Seixas, alguém que entende a mensagem de rock and roll e de bom humor deixada por ele. Nova lembra o impacto que sentiu quando era adolescente na Bahia e ouviu o ídolo. “Eu comprava os compactos dos Beatles, Rolling Stones, do Dave Clark Five, The Animals, e ficava olhando para as capinhas, imaginando como eles seriam ao vivo. Mas em Salvador tínhamos os nossos Beatles de carne em osso. Era o Raulzito e seus Panteras. Eu assistia ao vivo à incrível performance de Raul, que se jogava no chão e fazia mil loucuras. Eles fizeram a minha cabeça e mostraram que a música seria o meu caminho. Raul era um roqueiro baiano e morava no bairro da Graça, onde eu morava também.”
Foram muitos anos até que Marcelo Nova e Raul Seixas finalmente se conhecessem. Isso aconteceu em meados dos anos 1980. “Certa vez, o Camisa estava se apresentando no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Uma pessoa que trabalhava lá falou que o Raul queria me conhecer. Pensei que fosse brincadeira, já que o Raul era muito ácido em relação à geração a que eu pertencia, a dos roqueiros que surgiram nos anos 1980.”
Apaixonados pelo rock and roll feito pelos pioneiros do estilo, Raul e Nova ficaram amigos rapidamente, e a parceria logo deu frutos. O problema é que Raul já estava em uma viagem sem volta. “Quando o conheci, ele estava no pior momento possível. Ele não fazia um show havia quatro anos, estava deprimido por causa da separação da esposa dele na época. Ele estava doente e debilitado, abusando do álcool e das substâncias químicas. Precisava de um contato com o mundo exterior”, recorda Nova.
O líder do Camisa de Vênus diz que, quando começou a se apresentar com Raul, foi como voltar aos 15 anos de idade e encontrar um ídolo impagável e generoso. “Uma vez, ele estava lendo um livro sobre o [cantor e pianista] Jerry Lee Lewis. Falei que, quando ele terminasse, eu gostaria de ler. Ele nem se importou. Pegou o livro e na hora falou: ‘Toma, é seu’. Raul era um cara muito bem humorado e a gente tem que se lembrar dele assim, sem deixar que o mito cubra o ser humano”, finaliza.
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