Imagem do cantor esteve presente no palco montado no Parque da Juventude por quase 20 minutos
Pedro Antunes Publicado em 01/12/2013, às 01h30 - Atualizado em 02/12/2013, às 14h54
Eram 29.600 pessoas no Parque da Juventude. Todos movidos até a zona norte paulistana por um mesmo motivo: Cazuza. O músico, que morreu em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, foi “ressuscitado” graças à tecnologia e apareceu em forma de holograma na noite deste sábado, 30.
O Poeta Volta ao Vivo: Cazuza receberá uma série de homenagens – e até retornará aos palcos.
O fim da tarde chegou com muito vento e uma garoa fina, mas nada que parecesse espantar os fãs que chegavam aos montes. Os gritos e vaias para que a apresentação tivesse início começaram ainda às 20h30, uma hora e meia depois que a música ambiente começou. De acordo com a produção do evento, o show estava marcado para às 21h.
E, pontualmente, teve início o GVT Music Live – Show Cazuza. George Israel (sax e violão), Nilo Romero (produtor musical de Cazuza e do show), Arnaldo Brandão (baixista, coautor de “O Tempo Não Para”), Leoni (guitarra, parceiro de “Exagerado”), Rogerio Meanda (guitarra, autor de “O Nosso Amor a Gente Inventa”) e Guto Goffi (baterista do Barão Vermelho) deram início à festa em luto. Neste mesmo sábado, morreu o pai de Cazuza, João Araújo, um dos mais importantes produtores e executivos do mercado fonográfico brasileiro.
“Este é um show de homenagem. Uma homenagem a Cazuza, mas também a João”, disse Nilo Romero. A orquestra de cordas lideradas por Lincoln Olivetti, então, deu início à introdução instrumental até a chegada da primeira convidada especial da noite, Gal Costa. A baiana, cujo início de carreira foi diretamente ligado ao pai de Cazuza, cantou “Brasil”, com arranjos festivos, pendendo para o samba.
Quando Gal deixa o palco, o show entrou no ritmo que seguirá ao longo das quase duas horas. Leoni, George, Nilo e Arnaldo se revezam nos vocais. “Pro Dia Nascer Feliz”, lançadas nos tempos de Barão Vermelho, veio na sequência, cantada por Leoni.
Os músicos distribuíam sorrisos e palavras de carinho a Cazuza e ao público presente. Era possível perceber o quanto público e músicos estavam emocionados em estarem ali e a resposta da plateia era vibrante a cada música. Todos, do lado de cá e de lá, trazem boas histórias com Cazuza – ou com os versos dele como trilha sonora.
“A gente sabe o quanto Cazuza era festeiro”, disparou George ao microfone, antes de “Malandragem”, composição do músico homenageado e Frejat, gravada por Cássia Eller. No palco, ninguém queria deixar por menos. Nem mesmo Paulo Ricardo, convidado para a música seguinte, “Ideologia”, deixou a bola cair.
Ainda que Cazuza tivesse um talento raro para criar versos vorazes e ácidos, que retratavam a juventude de sua época como um cronista único, como “O Tempo Não Para” e “Ideologia”, era nas canções de amor que ele jorrava talento. As palavras, saídas da cabeça e coração do carioca, tinham uma força quase mágica de abrir as feridas das mais profundas, sem perder a delicadeza.
É como “Eu quero a sorte de um amor tranquilo / Com sabor de fruta mordida / Nós na batida, no embalo da rede / Matando a sede na saliva”, de “Todo o Amor que Houver Nessa Vida”, ou “E até o tempo passa arrastado / Só pra eu ficar do teu lado / Você me chora dores de outro amor / Se abre e acaba comigo / E nessa novela eu não quero / Ser teu amigo”, de “Preciso Dizer que Te Amo”. A última, e a dolorosa “Codinome Beija-Flor”, são cantadas em um momento mais intimista, com o retorno de Gal Costa e a orquestra de metais de Lincoln Olivetti.
Apenas às 22h25, a banda sai, para que o tudo fosse ajustado para a exibição do holograma de Cazuza. Cinco minutos depois, estavam todos de volta e o palco, naquele momento, era mais fundo, enquanto a banda se posicionava nas extremidades laterais.
Com “Exagerado”, Cazuza apareceu a frente de um fundo preto, de camisa sobre uma regata branca, óculos escuros, calça jeans e faixa na cabeça – visual que o consagrou. A imagem tem os trejeitos do músico no palco e até dança, mas a disposição do palco atrapalha. George Israel, particularmente, parece não encontrar seu espaço e acaba ficando na frente do músico homenageado.
Por estar no fundo, Cazuza parecia menor do que os outros músicos. Até mesmo a imagem um pouco borrada, com pouca definição, pareceu satisfazer a quem foi ao Parque da Juventude. A cada uma das cinco músicas em que o músico aparecia, a imagem dele na tela era o suficiente para criar histeria. Ele apareceu por 18 minutos, entre idas e vindas. Além de “Exagerado”, o holograma cantou “Faz Parte do Meu Show”, “Amor, Amor”, “O Tempo Não Para” e “Brasil”. Cazuza saiu de cena pela última vez enrolado em uma bandeira do Brasil, reverenciando a plateia. Com um “obrigado”, ele se despediu
A banda ainda permaneceu no palco, para executar “Bete Balanço” e “Pro Dia Nascer Feliz”, novamente. Ao fim de duas horas de show e 20 minutos de Cazuza, uma palavra deve ficar nos quase 30 mil presentes no Parque da Juventude: saudade.
O GVT Music Live – Show Cazuza voltará, também com entrada gratuita, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, no dia 19 de janeiro.
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