O cineasta Joel Souza deu sua primeira entrevista sobre a morte de Halyna Hutchins, a ideia de justiça e o que ele sentiu desde o incidente
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo)
Publicado em 16/08/2024, às 14h50O diretor de Rust — que ficou conhecido pelo incidente que tirou a vida de Halyna Hutchins, levando à armeira Hanna Gutierrez-Reed à prisão e o ator Alec Baldwin a julgamento — Joel Souza, falou pela primeira vez sobre os acontecimentos no set do longa-metragem.
Em uma entrevista para a Vanity Fair, o cineasta explicou que o tiro que levou no ombro não atingiu seus pulmões "por pouco" e quase acertou sua coluna. Ele soube da morte de Hutchins em seu quarto no pronto-socorro. Questionado se ele se sentia grato por estar vivo, Souza disse que não.
+++LEIA MAIS: Alec Baldwin se pronuncia pela primeira vez após anulação de julgamento
“Me lembro especificamente de ir dormir naquela noite e torcer para não acordar na manhã seguinte”, disse o cineasta. “Eu esperava que eu simplesmente sangrasse até a morte durante a noite porque eu não queria mais estar por perto. Foi um momento muito difícil. Me lembro de pensar: 'Talvez eu apenas sangre até a morte — isso seria ótimo para mim.'” Quando ele acordou, a tristeza o atingiu. O incidente o impactou em um nível pessoal, para além de sua carreira.
Souza disse à revista que continuou a filmar o filme após a tragédia — na qual Alec Baldwin supostamente disparou uma arma falsa carregada com uma munição real — com a diretora de fotografia Bianca Cline substituindo Hutchins como uma forma de homenagear a colega. Ele quer que Rust, que está completo, mas ainda precisa de um distribuidor, dê lucro para a família da vítima.
Eu sabia que o filme sendo finalizado beneficiaria financeiramente a família de Halyna, o que é muito importante para mim. E eu sei que isso pode soar banal para pessoas que não são criativas, mas seu último trabalho importa. Pessoas que viram seu último trabalho importam. Esse foi o ponto de inflexão para mim na decisão.
+++LEIA MAIS: Justiça anula caso de Alec Baldwin após promotoria 'esconder evidências'
O diretor também falou sobre a forma como o viúvo de Hutchins, Matt, se comportou, confortando ele, Baldwin e outros membros da equipe. “Matt chegou lá o mais rápido que pôde, e trouxe seu filho”, disse ele. “Ele veio lá para cuidar das pessoas. O homem tinha acabado de perder a esposa. Se eu perdesse minha esposa, eu seria uma massa trêmula de gelatina, e estaria atacando em todas as direções que pudesse. Eu não estaria em meu perfeito juízo. Matt chegou lá, e o trabalho que ele colocou para si mesmo era garantir que as pessoas estivessem bem. Nunca vi nada parecido.”
Após o incidente, a armeira da produção, Hannah Gutierrez-Reed, cumprirá 18 meses de prisão por homicídio culposo. O diretor assistente Dave Halls fez um acordo judicial por uso negligente de uma arma mortal. E Baldwin, que disse acreditar que a arma não estava carregada, foi acusado de homicídio culposo. Um juiz rejeitou o processo contra o ator há um mês ao saber que os promotores não compartilharam evidências cruciais com os advogados de Baldwin durante a descoberta.
+++LEIA MAIS: Alec Baldwin foi 'imprudente' antes do disparo em set, alegam promotoras
"Eu não sei mais o que [justiça] é — vou ser bem honesto com você sobre isso", disse ele. "Ninguém se sente bem com alguém indo para a cadeia. Se você se sente bem sobre isso, olhe bem no espelho." Ele também não julgaria Baldwin, com quem ele classificou o relacionamento como inexistente — ele não considera o ator como amigo, ou inimigo.
"Importa se eu acho que é justo ou não?", disse Souza. "Há um argumento que diz que se ele verificar e começar a mexer nisso, ele está criando um problema de segurança. E então há outra coisa que diz que é senso comum, Jesus Cristo. Tenha cuidado com essa maldita coisa. Então, para ser honesto com você, não sei mais. As acusações foram feitas. Foi o que eles decidiram fazer. Ele foi cobrado a mais? Não sei."
+++LEIA MAIS: Documentário sobre Rust não será evidência no julgamento de Alec Baldwin