Sucesso do Grupo Revelação, música faz parte do disco de estreia da cantora, chamado Desastre Solar, de 2018
Pedro Antunes Publicado em 18/04/2019, às 08h00
Ele havia saído pela porta e Laura Lavieri, sozinha em sua casa, estava devastada. Ouviu, pela janela, um vizinho ou vizinha com o aparelho de som no talo, a ouvir Grupo Revelação. Veio "Deixa Acontecer", um clássico que embala corações pagodeiros há anos, e a cantora percebeu, como jamais havia sentido, afago naquelas palavras.
Quando pensou em um primeiro disco solo, ela, que já havia emprestado sua voz potente a dois álbuns de Marcelo Jeneci ao longo de 10 anos, decidiu incluir "Deixa Acontecer" no repertório. Com Desastre Solar, produzido por Diogo Strausz e lançado via selo Slap (Som Livre), Laura caminha entre o indie e o pop sem medo.
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O fato é que ao cantar "Deixa Acontecer", Laura Lavieri subverte o sentido da faixa. Tira das mãos do homem protagonista, o que trazia, como ela aponta, um tom patriarcal, para levar a canção para um eu-lírico feminino.
"Na ótica masculina, a música invariavelmente ganha um tom patriarcal, com o homem num lugar superior, pedindo que a mulher não se envolva tanto. Já uma mulher, pedindo isso, desmancha a rixa de poder e enaltece o desapego", ela explica.
"É uma música de fácil acesso, o que faz ponte com o universo do Jeneci. E com mil outros mundos. O que eu acho delicioso dessa versão é ver as pessoas sem pudor algum de cantar e dançar junto. Ou ainda: a surpresa de quem teria qualquer preconceito com o pagode, de se permitir encantar pela música por conta da roupagem ou da mudança no protagonismo."
Ao trazer a música para o seu universo musical, Laura também quebra com as correntes do elitismo musical que rebaixam a cultura popular. "Essa questão do protagonismo toca em dois pontos importantes: um deles é romper o elitismo musical, e lembrar que música é música, e que não importa qual seja a sua realidade, todos temos as mesmas emoções e histórias pra contar, lembrar e sofrer."
Assista ao vídeo de "Desastre Solar", de Laura Lavieri:
"Deixa Acontecer" foi a escolhida para abrir um projeto de sessions gravadas em um cenário que recria a capa de Desastre Solar. Depois dessa música, Laura Lavieri vai lançar versões ao vivo de “Tudo Outra Vez” (no dia 25 de abril), “Me Dê a Mão” (dia 2 de maio) e “Estrada do Sol” (dia 9 de maio).
"A idéia é captar uma performance 'ao vivão' mesmo, orgânico, pra sacar a onda do show. Nada melhor do que colocar a gente dentro da caixa do desastre, aquele cenário que criamos - eu e Thany Sanches, como miniatura ou maquete - pra capa do disco. Só que aqui ele tá menos desastroso, com mais vida e leveza", ela brinca.
Na session, Laura está acompanhada por Pedro Fonte (bateria), Guilherme Lirio (baixo), Lux Ferreira (teclados), Paulo Emmery (guitarra) e Marcelo Callado (percussão). A direção do vídeo é assinada por Gustavo Tolhuizen (da ferrorama.tv).
"Levantamos a caixa laranja, penduramos a gema lá e cima, um olho no bumbo, estouramos pipoca no chão e espalhamos vários lírios, que quando as mídias de vídeo incorporarem o sentido do olfato, vocês vão poder finalmente ter a experiência completa", conta Laura. "Foi delicioso de fazer graças a uma equipe incrível, todos embarcaram nas minhas viagens e trabalharam com muito carinho e afinco."
Desastre Solar, disco de estreia de Laura Lavieri, brinca com o sentido trágico e dramático da palavra "desastre". Depois do fim, vem um novo começo. E o recomeço de Laura Lavieri é um novo universo musical criado entre "fins" e "inícios", indie e pop, sempre sem medo. Ela se deixa explodir a cada canção para criar o novo.
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