Justin Timberlake - Ryan McGinley/Divulgação

Em Man of the Woods, Justin Timberlake oscila entre o funk, o pop e o country

Disco é irregular e experimental, mas também é honesto, trazendo bons momentos

Christopher R. Weingarten Publicado em 02/02/2018, às 15h52 - Atualizado às 16h49

Neste quinto álbum solo, Justin Timberlake segue dedicado às batidas funk criadas por Timbaland/Neptunes e ao som familiar que o transformou no maior astro pop de sua geração. Mas como o título deixa implícito, Man of the Woods (algo como “homem da floresta”) também tem algumas incursões pelo country, blues e folk. Todos poderiam esperar uma viagem sonora tranquila de Timberlake pela música da região que vai da Flórida a Georgia, mas, em vez disso, ele tem algo diferente em mente para estes tempos mais sombrios. Neste clima de final de mundo que vivemos agora, Timberlake nos quer ver nus para encarar o apocalipse.

Para o astro pop, “rústico” significa “sobrevivência” e não “caseiro”. Por todo o disco, ele soa como estivesse passando por um caloroso dia do juízo final em um bunker no meio do campo. “Alguma coisa vai explodir, mas eu vou permanecer com a cabeça fria”, ele canta em "Supplies", uma música onde ele compara o amor a luzes, incêndios e geradores de emergência. “O mundo poderia terminar agora, baby, nós estaremos vivendo em The Walking Dead.", ele canta.

Dono de um casamento feliz e, desde 2015, um orgulhoso papai, Timberlake aqui passa de galanteador a cavaleiro branco, tira o terno e coloca um macacão. Ele canta sobre temas como proteção, orgulho e também sobre dar duro. "Livin' Off the Land", que começa com um sampler de um comercial do programa sobre sobrevivência no mato chamado Mountain Men, exibido pelo History Channel, mistura batidas hesitantes com acompanhamento básico de guitarra para falar de um homem que precisa pagar os débitos do cartão de crédito para salvar um relacionamento. A chorosa steel guitar da faixa título oferece um sussurro que fica entre o rap e o country, sugerindo algo entre Sturgill Simpson e Ying Yang Twinz. "The Hard Stuff" seria uma típica balada country se não fosse a batida eletrônica que sugere o andamento de um trem.

A esposa Jessica Biel aparece para um interlúdio romântico, falando sobre a sensação de usar a camisa do marido em “Flannel”: “Me faz sentir como uma mulher, faz com que eu me sinta que pertenço a ele”. Timberlake então responde: “Esta camisa está comigo há muitos invernos, vai mantê-la aquecida”. A faixa lembra “White Winter Hymnal", do Fleet Foxes, mas com uma bateria eletrônica. Logo depois que Timberlake começou a sair com a atriz em 2007, a banda de barbudos se separou por um tempo. Não é difícil notar as que o cantor enxerga o amor como o mesmo jeito calmo, paternal e até retrógrado jeito do Fleet Foxes, que uma vez cantou: “O seu protetor está voltando para casa”.

Leva um tempo até Man of the Woods se estabelecer em um clima rural. A maior parte da primeira metade do álbum é o funk futurista cosmopolita de alto calibre. É difícil chamar a abertura “Filthy” de pop já que a produção se mostra tão vanguardista. Timbaland e Danja conjuram o impacto de uma serra elétrica eletrônica cheia de testosterona que se choca com o baixo no estilo do pioneiro Larry Graham. O fato destes elementos musicais não baterem cria um efeito belo, tenso e desorientador, algo que não se ouve hoje no rádio. "Midnight Summer Jam" é uma atualização de "Shining Star", do Earth, Wind and Fire, mas o gancho se mostra mais embriagado do que açucarado. “Sauce” parece o Primus tocando "Slippin' Into Darkness" do War – o Red Hot Chili Peppers deveria incluir esta no set list de sua próxima turnê.

O que está faltando nesta parte do álbum é Justin Timberlake, o ídolo pop. Em vez disso, ele como coprodutor, se torna um coadjuvante das batidas, acrescentando algumas frases improvisadas que não acrescentam nada, com voz mixada no fundo, sem ganchos interessantes. Alguns podem achar que isto é um desperdício por parte do maior showman do pop. Mas liberte sua mente e deixe seu traseiro seguir as batidas destes improvisos funk.

“Mornin Light”, dueto com Alicia Keys é agradável, mas inconsequente. “Montana" e "Breeze Off the Pond” são pop retrô típicos destes tempos pós-The Weeknd. Claro que ao fazer tantos experimentos, Timberlake não distingue as árvores da floresta. Man of the Woods é facilmente o menos coeso trabalho dele. Afinal, estamos falando do homem que nos deu Justified (2012), o Thriller deste milênio; que nos ofereceu a obrigatória coleção de EDM com art pop Futuresex/Lovesounds (2006) e que veio com os grooves repletos de confiança de 20/20 Experience (2013). Em Man of the Woods ele oscila entre autoestrada e os caminhos de terra. Assim, é difícil segui-lo a cada desvio de rota. Mesmo assim, Man of the Woods tem a música mais diversificada que ele faz em anos, seja incursionando pelo funk de vanguarda ou então pelo country urbano moderno. O resultado não é perfeito, mas você não pode construir um celeiro sem sujar as mãos.

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