Go On, estrelada pelo ator de Friends, se mostra promissora
Stella Rodrigues Publicado em 01/11/2012, às 16h11 - Atualizado às 19h46
É muito fácil falar em uma maldição terrível que assombra os protagonistas de séries de muito sucesso. Dá para citar diversos exemplos de gente que rompeu a barreira e saiu da sombra do personagem e de gente que morreu tentando. A verdade é que em Go On, que estreia nesta quinta, 1º, às 21h30, no Warner Channel, Matthew Perry não tenta ser novamente o amado Chandler Bing, de Friends. E também não cai na cilada de fazer algo completamente diferente para tentar escapar da memória que as pessoas têm. O novo personagem, Ryan King, tem, na verdade, um pouco de cada papel que o ator interpretou em todas as séries que protagonizou: do mais recente Mr. Sunshine à eternamente clássica Friends e, claro, sem esquecer da incrível Studio 60 on The Sunset Strip. A lógica indica que, provavelmente, todos esses seres, de Bing a King, carregam idiossincrasias indiscutíveis do próprio Perry.
King é sarcástico, prático, muito focado no trabalho e engraçado. Na trama, está lidando com a morte de sua esposa. Ele se vê obrigado a frequentar um daqueles grupos de ajuda nos quais os norte-americanos parecem ser especialistas. Cético com todo esse conceito terapêutico, o radialista tenta burlar o sistema para fingir que passou pelo processo social e formal de luto e receber permissão para voltar ao posto de apresentador de um talk-show sobre esportes. O desfecho do primeiro episódio não é nada original ou imprevisível – o descrente protagonista conclui que o mundo está certo e ele precisa mesmo da ajuda daquelas pessoas de quem ele desdenha. Assim, fica estabelecido que ao longo da temporada ele voltará ao local para tentar se recuperar da perda. Ao mesmo tempo, nós teremos a chance de entrar em contato mais intimamente com as histórias de vida de todas aquelas pessoas disfuncionais do grupo de apoio que aparecem no piloto de forma nada profunda, no formato de estereótipos quadradinhos.
Apesar de não trazer nada inovador, o episódio mostra bastante potencial. O elenco é ótimo e conta com diversos rostos familiares. John Cho (de Madrugada Muito Louca) é o chefe de King. Tyler James Williams (o Chris, de Everybody Hates Chris) é o integrante do grupo de ajuda com quem King cria laços inicialmente. Laura Benanti (Eli Stone) é a terapeuta do grupo – é não tão sultimente insinuado que ela será um interesse romântico do personagem principal no futuro. O conjunto ainda conta com um deficiente visual, uma advogada gay que também tenta assimilar a morte da parceira, uma garota demasiadamente apegada à gata, também recentemente falecida, entre outros. Ao se deparar com uma reunião de pessoas enlutadas, King debocha da coisa toda criando um game show em que os competidores disputam quem tem a vida mais desgraçada – a cena é a melhor parte do piloto.
O problema com esse episódio de estreia é que talvez ele tenha tentado provar muita coisa ao mesmo tempo para garantir que a série atingiria minimamente vários grupos demográficos. Os personagens do grupo de ajuda têm problemas variados, ainda rasos neste primeiro contato, de forma a criar empatia com diferentes comunidades. Cada vez mais utilizado na TV, o estilo de diálogo rápido, esperto, com alusões e referências, dá as caras boa parte do tempo. E tem qualidade, mas precisa conviver com muitas reflexões, insights, momentos sentimentais e piadas fáceis, de forma que sobraram elementos para apenas 20 minutos de televisão: alguns bons, outros ruins e alguns surpreendentes (é raro que uma sitcom de 20 minutos tenha a atenção e o cuidado com a trilha sonora que o piloto de Go On demonstrou).
As duas últimas tentativas de Perry de voltar para a TV (as já mencionadas Studio 60 e Mr. Sunshine) foram em séries cheia de atributos positivos. Ainda assim, não conseguiram chegar sequer à segunda temporada. Go On já recebeu uma encomenda da temporada completa, com 22 episódios, mas ainda não se sabe se quebrará a tradição dos projetos recentes de Perry.
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