Com equalização deficiente – e plateia entregue –, o Megadeth recriou em São Paulo a íntegra do disco Countdown to Extinction, de 1992
Pablo Miyazawa Publicado em 06/09/2012, às 12h29 - Atualizado às 14h07
A ideia de tocar um álbum aniversariante na íntegra não é exatamente inédita na trajetória do Megadeth: em 2010, o vocalista/guitarrista Dave Mustaine e a banda que lidera há quase 30 anos viajaram o mundo para celebrar as duas décadas do complexo e cultuado Rust in Peace (1990). Dessa vez, o intuito da atual turnê, que teve início na Colômbia no começo de setembro, é comemorar os 20 anos de Countdown to Extinction, disco que chegou ao segundo lugar da parada norte-americana e rendeu “Symphony of Destruction”, principal hit da história do grupo.
Veja fotos do show na galeria à esquerda.
Velho conhecido de palcos paulistanos, Mustaine (acompanhado ainda pelo baixista e membro-fundador Dave Ellefson, o guitarrista Chris Broderick e o baterista Shawn Drover) se apresentou na noite de quarta, 5, para um público ansioso que tomou a Via Funchal. As quatro primeiras músicas foram cantadas em coro, dos versos aos riffs de guitarra marcantes. “Trust”, talvez a mais pop do repertório do Megadeth, abriu como já tem sido praxe, emendada pela avalanche de solos de “Hangar 18”, a frenética “She-Wolf” e a quase-balada “A Tout Le Monde”. Atrás dos músicos, três telões mesclavam cenas de clipes com colagens de imagens relacionadas aos temas das letras, causando um efeito visual interessante e inédito nos shows do Megadeth. Após duas faixas do mais recente lançamento, Thirteen (2011), Mustaine enfim pediu a palavra para decretar a auto-homenagem ao seu disco de maior sucesso, em uma sequência de onze faixas na ordem em que foram lançadas originalmente.
O vocalista de 51 anos quase completos só não fez questão de avisar que várias das músicas que se seguiram raramente foram tocadas em shows. Três delas foram apresentadas ao vivo pela primeira vez há quatro dias, no show de estreia da turnê, em Bogotá: “Architecture of Aggression”, “Psychotron” e “Captive Honour”. Outras, como “This Was My Life” e “Countdown to Extinction”, raramente entraram em set lists recentes. Falta de prática à parte, ficou evidente que algumas das músicas – muito longas, demasiadamente complexas, ou com poucas oportunidades de cantoria coletiva – não funcionam tão bem em um palco quanto no estúdio. Talvez isso explique o porquê de terem permanecido inéditas ao vivo nos últimos 20 anos.
Repentinamente, por volta da metade da apresentação de pouco mais de uma hora e meia, o volume da guitarra de Mustaine subiu a níveis estratosféricos – e não desceu mais. O fato não só contribuiu para atrapalhar o restante da performance, como gerou momentos constrangedores: baixo e bateria se mantiveram abafados em excesso e os solos de Broderick eram praticamente inaudíveis, obscurecidos pelo timbre agudo e afiado como uma navalha de Mustaine. O desnível sonoro era tão perceptível que as últimas faixas da metade final de Countdown foram recebidas com relativa frieza por parcelas da multidão, que sentia que havia algo de errado no ar (em diversos trechos, nem a voz do vocalista superava o massacre de sua própria guitarra). Mais chocante ainda foi o fato de ninguém da equipe técnica do Megadeth perceber a irregularidade gritante e fazer algo a respeito. Teria sido de propósito? Os quatro no palco fingiam que não percebiam, ou faziam que não ligavam, mantendo a performance com energia elevada e as pirotecnias de praxe.
Por essas e outras, esse poderia ter sido o show de uma banda chamada “Mustaine”, e não “Megadeth”. O público colaborava para a sensação de show de um homem só: quando o silêncio raro permitia, o coro que ecoava era um cômico “olê, olê, olê, olê, Mustaine, Mustaine”. Simpático até o último fio de cabelo loiro e esboçando sorrisos enfezados, o frontman passou longe das declarações polêmicas que tem o costume de proferir. “Já falei que amo o Brasil?”, perguntou, extasiado com os confetes, aproveitando para relembrar o primeiro show que fez na América Latina – no festival Rock in Rio 2, em 1991. “Talvez muitos de vocês aqui nem soubessem do que se tratava”, brincou. Após o bis, com dois números tradicionais do cancioneiro megadethiano – as clássicas “Peace Sells” e “Holy Wars” –, a banda agradeceu, distribuiu palhetas, acenos e gracejos. “Voltem com cuidado para casa”, recomendou o bom-moço Mustaine. Foi a última frase da noite, vinda da única pessoa que foi realmente bem ouvida por ali.
Veja abaixo o set list da apresentação:
“Trust”
“Hangar 18”
“She-Wolf”
“A Tout Le Monde”
“Whose Life (Is It Anyways?)”
“Public Enemy No. 1”
“Skin o' My Teeth”
“Symphony of Destruction”
“Architecture of Aggression”
“Foreclosure of a Dream”
“Sweating Bullets”
“This Was My Life”
“Countdown to Extinction”
“High Speed Dirt”
“Psychotron”
“Captive Honour”
“Ashes in Your Mouth”
Bis:
“Peace Sells”
“Holy Wars… The Punishment Due”
Nando Reis diz que usou drogas durante 30 anos: 'Foi consumindo minha vida'
Morre Andy Paley, compositor da trilha sonora de Bob Esponja, aos 72 anos
Viola Davis receberá o prêmio Cecil B. DeMille do Globo de Ouro
Jeff Goldblum toca música de Wicked no piano em estação de trem de Londres
Jaqueta de couro usada por Olivia Newton-John em Grease será leiloada
Anne Hathaway estrelará adaptação cinematográfica de Verity de Colleen Hoover