No quarto disco da carreira, a drag queen faz um batidão tropical com nostalgia brega: "Quis trazer minhas vivências enquanto gay nordestina"
Julia Harumi Morita Publicado em 26/06/2021, às 14h00
Depois de mirar no mercado internacional com o disco trilíngue 111 (2020), o qual foi do reggaeton à fritação, Pabllo Vittar entregou o nostálgico Batidão Tropical, um álbum "totalmente brasileiro" inspirado nas lembranças de infância e adolescência da drag queen, nascida em São Luís (MA) e criada em Santa Izabel do Pará (PA).
"Quis trazer um pouco das minhas vivências enquanto gay nordestina que estava crescendo e vivenciando tudo isso. Mostrar para as pessoas o quanto eu me sentia confiante na hora que escutava essas músicas," disse Vittar durante uma chamada de vídeo com a Rolling Stone Brasil. "É um disco totalmente brasileiro com vertentes brasileiras, o qual exalta nossas raízes, mostra para o mundo que temos muita coisa boa."
Lançado nas plataformas de streaming na última quinta, 24, o quarto disco da cantora traz três músicas autorais, compostas junto com Arthur Marques, Gorky, Maffalda, Pablo Bispo, Zebu, Alice Caymmi e Vivian Kuczynski, e seis covers das bandas Companhia do Calypso, Batidão, Ravelly e Kassikó.
Carregado de memórias afetivas, Vittar deixou os feats de lado e interpretou sozinha todas as faixas de BT. "É muito ousado, porque, primeiro, é um álbum totalmente brasileiro. Segundo, não tem feat nenhum. Sou só eu no disco e fiquei muito feliz, porque a última vez que eu fiz isso foi no EP Open Bar (2015)."
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Apaixonado e safado, triste - mas com tesão! -, BT coloca uma "pitada de eletrônico" revigorante nas novas versões de "Ânsia", "Zap Zum", "Bang Bang", "Apaixonada" e "Não É Papel de Homem".
"Ultra Som", sexta faixa do disco, direciona a viagem do tempo de Vittar do calypso, tecnobrega e tecnomelody para um pop oitentista - o contraste só poderia vir da dona da versão pagode de "Lean On", do Major Lazer e DJ Snake, e da artista que se jogou um coreografia digna dos clipes de k-pop em "Triste Com T".
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De todos os covers, a drag queen tem como favorita "Bang Bang", faixa final do disco. "Lembra muito eu em Caxias assistindo o DVD da Companhia [do Calypso] e vendo o look dela. Ela está com um look de cowboy meio 'Dirrty' Christina Aguilera. É muito f*da, porque já tinha uma referência de pop muito aguçada 17 anos atrás. Hoje em dia, eu sei que aquilo era uma referência totalmente pop, então me fez gostar ainda mais."
Sem pressa de trabalhar com o mercado internacional, Vittar quer exaltar os ritmos dos quais sente orgulho e se dedicar aos fãs brasileiros, os quais fez questão de citar e agradecer durante a entrevista.
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"Ano que vem, vou ter tempo de trabalhar o mercado latino. Tenho vários shows lá fora. Tem Coachella, Primavera Sound... então vai ter o tempo dos fãs lá de fora também."
A cantora também disse: "É muito legal consumir um pop internacional, consumir um reggaeton, que é latino, consumir um k-pop, que é lá da Ásia. Mas a gente tem muita coisa boa aqui também, então temos que bater no peito e falar: 'Eu sou brasileira e no meu país escutamos esses ritmos.'"
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Aos 18 anos, quando se montou pela primeira vez, Vittar não idealizava ter fama mundial. A artista queria ser conhecida no próprio bairro, nos pensamentos mais ambiciosos, queria ser um nome conhecido na cidade - daqueles que ganham vip na balada, sabe?
"Hoje em dia a gente faz a balada," disse a cantora ao ser questionada sobre os sonhos do início da carreira. Se pudesse voltar no tempo e mandar um recado para Pabllo do passado, a drag queen seria direta: "Eu falaria: 'Gata, só vai!'"
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De lá para cá, a vida de Vittar mudou em muitos aspectos, principalmente em relação à independência profissional."Eu sou muito mais assertiva, estou à frente de tudo sempre, quero saber de tudo. Acho muito importante para o trabalho do artista estar à frente de tudo, porque a gente vê a verdade, quem ele é, o que ele quer passar, a essência."
Com inesgotável bom humor, a cantora declara: "Já não sou uma menininha, sou uma mulher agora."
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